*Por Rafael Moura
No sábado (dia 8), Adriana Calcanhotto atraca sua nau artística, na Lapa para encerrar com toda poesia, no Circo Voador, a turnê do álbum ‘Margem’, que fecha sua trilogia em homenagem as águas, iniciada há mais de 20 anos, com ‘Marítimo‘ (1998) e ‘Maré‘ (2008). “Cantar no Circo Voador é o que há de mais potente enquanto grito o que estiver ao meu alcance como protesto. Acho muito importante, ainda em um momento específico, em que a barbárie questiona a importância da cultura, da filosofia, da arte e da história em que os cariocas estão vendo sua cidade tão castigada pela ausência do Estado”, dispara a cantora. O show é como um grito de alerta que provoca uma reflexão sobre o consumo e o cuidado com as águas, principalmente com os últimos episódios da CEDAE, aqui do RJ.
A apresentação contará com duas participações especiais de Mahmundi e Rubel, que acaba de lançar um dueto com Calcanhotto ‘Você me pergunta’, que promete estar no line up do show. A música lançada às vésperas do show, com direito a clipe dirigido pelo cantor. “Essa música foi feita em homenagem à Adriana, que me recebeu com tanta generosidade desde que nos conhecemos. Quis retribuir de alguma forma o que aprendi com ela e o quanto as suas músicas me formaram. Tentei compor uma canção que se aproximasse do universo da Adriana, da canção de amor clássica, daquelas músicas eternizadas nas rádios do Rio de Janeiro e no imaginário coletivo do carioca”, conta Rubel.
“A nossa sintonia foi instantânea, imediata. Ele é muito focado, disposto a experimentar e tem uma musicalidade espontânea e natural, uma leveza muito charmosa. Como diretor do clipe sabia exatamente o que queria e conduziu tudo com delicadeza e afeto. Grande artista, tenho adorado colaborar e torcer por ele”, afirma Adriana, que elogia os convidados: “Já cantei com os dois como convidados, são muito queridos e aprendo demais com eles”. A noite conta ainda com o show de abertura de Ana Cañas. “Com a Ana ainda não cantei mas já vi ao vivo, é um bicho de palco total. Quem sabe rola um dueto no sábado…”.
O álbum lançado em junho de 2019, em sua essência fala de amor e desamor, aciona uma verve de colaboradora da cantora pelo meio ambiente, que faz reverência às águas e uma preocupação com o futuro da humanidade aliada à poesia contemporânea que fala do agora. A multiartista, filha de um baterista de jazz e bossa nova, e de uma bailarina, ganhou aos seis anos seu primeiro instrumento: um violão. No repertório, além das músicas disco, ela trará clássicos como ‘Mais Feliz’, ‘Por isso corro demais’, ‘Vambora’, ‘Mulher sem razão’, assim como, uma versão incrível de ‘Futuros Amantes’, de Chico Buarque.
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Calcanhotto consegue encurtar as distâncias em Brasil e Portugal (onde ministra um curso sobre composição musical na Universidade de Coimbra), como na letra de ‘Lá, Lá, Lá’,
‘Lá entre o ar e a areia
Entre o bordo e a beira
Onde a onda balança
Contra o que margeia’. “Alguns códigos são bastante diferentes e adoro fazer essa tradução do que funciona e do que não funciona em um lugar ou em outro. Como se fosse outra língua, só que dentro da mesma. No mais, os portugueses gostam mais de ouvir e os brasileiros preferem cantar”, explica.
No repertório de show, temos ainda duas composições da artista, gravadas por Maria Bethânia, ‘Era Pra Ser’ e ‘Tua’. “Eu nunca tinha cantado nenhum das duas canções. Eu escrevi e passei direto para ela e agora resolvi registrar”, revela. Adriana que é experimentalista dos sons traz ainda um funk 150 BPM, na faixa ‘Meu Bonde’. “Eu acho essa batida sensacional e eu gosto muito. Acho engraçada e mostra um processo de evolução e crescimento desse universo”.
Encerrando o nosso papo, Adriana Calcanhotto revela seus plano para 2020. “Darei aulas na Universidade de Coimbra, farei shows pelo mundo, quando devo escrever umas canções novas. E depois terei férias no Rio”. A artista já tem shows marcados em Portugal entre 28 de maio e 06 de junho.
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