Sob gritos de “Odeio Cunha!”, Caetano Veloso e Gilberto Gil se apresentam no Circo Voador e comandam massa de jovens


Em sintonia incomparável com o público, a dupla voltou a apresentar a turnê “Dois amigos, um século de música” no Rio de Janeiro

Por mais que tenha sido a mesma turnê, com os mesmos artistas e a mesma setlist sem uma única alteração, quem assistiu ao show de Caetano Veloso e Gilberto Gil no Metropolitan, há apenas algumas semanas, pensaria que se tratava de um espetáculo completamente diferente durante a passagem da dupla no Circo Voador com a tour Dois amigos, meio século de música”, na noite de ontem. Com a casa lotada, o público que enchia a lona da Lapa era formado basicamente por jovens, que reverenciavam os cantores a cada chance que tinham, mostrando que a casa de shows tem mesmo uma energia especial que conecta público e artista de uma forma inigualável.

“Resolvemos fazer shows lá porque o Caetano ama aquele lugar e eu também. Queríamos levar as músicas para uma galera mais jovem e descolada”, nos confidenciou Gil com exclusividade, apenas alguns dias antes, durante a entrega do prêmio Cariocas do Ano. Desde o momento em que subiram ao palco com as primeiras notas de “Terra”, ficou claro o que o baiano quis dizer. As pessoas espremidas ali no Circo estavam todas prontas para beber cada uma das sílabas cantadas por eles e, com um gás surpreendente, se abraçavam, se emocionavam e dançavam ao som de dois dos maiores nomes da música brasileira.

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Enquanto os fãs do Metropolitan pareciam enxergar na dupla dois ícones supremos do cenário brasileiro, vendo-os nos dias de hoje com todos os prêmios e condecorações, no show de ontem, os jovens pareciam venerar o desbunde e o apogeu do período de contestação política de ambos, intercalando cada música com gritos de “Lindos!” e palmas ensurdecedoras. Para cada avalanche de entusiasmo, os dois se encabulavam e abriam um sorriso de orelha a orelha, como que gratos pelo carinho incondicional dos presentes.

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Apesar de não terem interagido muito através de palavras, isso não foi nenhum impedimento para que alguma forma de diálogo silencioso ocorresse entre Caetano, Gil e o público. Uma prova vívida disso é que, durante “Odeio”, o primeiro refrão contou com algumas vozes tímidas da plateia completando os versos de “Odeio você” com “Cunha!”. E a cada vez que Caê voltava a cantar as palavras, um coro mais forte se formava do público, para a visível alegria do baiano, que sorria e incentivava os presentes. Ao final, uma massa completava a música em uníssono, e, quando a canção chegou ao final, os artistas sorriam com orgulho e os fãs aplaudiam com mais entusiasmo ainda, como se não fossem preciso palavras para saber que eles tinham o apoio da dupla.


O show se seguiu com passagens emocionantes, em que todos faziam silêncio para ouvir os versos de músicas como “Drão”, “Coração Vagabundo” ou “Super-homem”. Em determinado momento, com a luz toda focada em si, Gilberto Gil parecia estar realizando uma sessão religiosa ao apresentar “Não tenho medo da morte”, com os olhos fechados e a voz grave ecoando pela lona, em uma descarga de sentimento capaz de arrepiar os pelos da nuca.

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A apresentação da dupla terminou em ritmo de festa, com o último bloco repleto de hits como “A Luz de Tieta”, “Expresso 2222”, “Nossa gente (Avisa lá)”, “Filhos de Ghandi”, “Desde que o samba é samba” e “Aquele abraço”. Não houve quem ficasse parado e, ao fim, todos puderam contemplar a aura completa dos dois amigos e suas diversas fases ao longo desse meio século. Caetano e Gil são inconformidade, são amor, são o som do Carnaval e a voz do povo. Caetano Veloso e Gilberto Gil são Brasil.