A BottoBier, marca fluminense do ramo cervejeiro, relança seus três maiores sucessos e volta a fabricar produtos de qualidade internacional


A alma deste negócio é do empresário, sommelier e professor Leonardo Botto que começou na indústria de forma inusitada

Quando pensamos em beber cerveja de qualidade, buscamos alguma marca que seja do sul da Alemanha ou de algum lugar da Bélgica. No entanto, produtos de qualidade podem ser encontrados no Rio de Janeiro mesmo, em Barra do Piraí. O local é sede da produção da marca BottoBier que é gerenciado por um dos maiores nomes do ramo no país, Leonardo Botto. Nesta quarta-feira, ele fará um evento para prestigiar a volta da produção de suas premiadas criações. Depois de muitos anos longe de uma fabricação própria, o cervejeiro relança seus grandes sucessos a Bottobier Zoontje, Bottobier Thor e Bottobier Tcheca. “Escolhi estas três cervejas por serem muito bem-conceituadas no mercado e são importantes para mim. A Bottobier Zoontje, por exemplo, criei em homenagem ao nascimento do meu filho. Ela é uma mistura de várias escolas como belga, alemã, inglês e americana. Zoontje é holandês e significa algo como filhinho. A Bottobier THOR foi produzida 2015 em parceria com a Cervejaria Tupiniquim de Porto Alegre e eleita em 2016 no concurso brasileiro de cervejas como a melhor do seu gênero no Brasil. Foi a receita mais difícil que já fiz na vida no sentido de trabalho manual. Já a Bottobier Tcheca tentei trazer a verdadeira pilsen de volta ao mercado, com um gosto mais amargo e forte originário da região da Bohemia, na República Tcheca”, explicou Botto.

Leonardo Botto começou no ramo depois de cair de moto aos 25 anos (foto: divulgação)

O rapaz foi um dos oito cervejeiros que movimentaram o ramo de produção artesanal no país, ele e seus amigos se encontravam para trocar experiências. O Rio de Janeiro foi o primeiro a criar uma associação de cervejeiros artesanais. Suas criações foram premiadas em diversos lugares como o Concurso Nacional da ACervA, Belo Horizonte Homebrew Festival, Concurso Mestre Cervejeiro Eisenbahn e Bockfest Competition de Ohio, nos Estados Unidos. “Nunca pensei em me tornar cervejeiro, a profissão me achou totalmente ao acaso. Tinha vontade de saber como era produzir em casa quando descobri que a minha avó, que era alemã, fazia. Em 2005, precisei ficar um tempo em casa porque cai da moto e me machuquei. Com isso, comecei a estudar sobre cerveja. Cinco anos depois, formei como sommelier na primeira turma do Brasil da Doemens Akademie da Alemanha em parceria com o SENAC-SP. Nesta época, produzia e dava aulas. Minha marca saiu do nome que dava as minhas cervejas. Todas que criava recebiam o nome de Botto Bier, até que depois de tantas criações precisei especificar cada uma. Somente em 2013 que abri o Botto Bar. Desde então, parei de vender minhas cervejas porque não conseguia dar conta de tudo e resolvi focar no estabelecimento”, contou o mestre. Até hoje o rapaz dá aulas sobre como fazer cervejas e afirma ter sido professor de grande parte dos vendedores artesanais do mercado.

Rótulo da cerveja BottoBier Thor que Leonardo garante ter sido a mais difícil de produzir (foto: divulgação)

Formado em direito, dentro do ramo cervejeiro, Botto desempenha diferentes funções como sommelier, consultor e produtor. No entanto, teve que deixar sua grande paixão de lado devido a quantidade de trabalho que recebia chefiando o bar. “Percebi que estava criando cervejas para muitas pessoas e esqueci de mim. Sempre dou consultoria e ajudo a criar a receita de vários cervejeiros, mas deixei de lado o que mais gosto que é produzir. Recebi um empurrãozinho da galera porque sempre me falavam para voltar a fabricação. Consegui colocar a minha base aqui no Rio, em Barra do Piraí, o que facilitou meu trabalho já que antes precisava ir até Santa Catarina para olhar o processo”, relembrou. Sua sede, antes, ficava em Joinville.

Mesmo sendo muito conhecido no ramo, Botto não escapa das dificuldades que um produtor de cerveja sofre no Brasil. Não existem leis que estimulam os mestres o que acaba encarecendo o produto fazendo as industrializadas parecerem mais baratas. “O produtor no Brasil tem que pagar dois terços de impostos o que justifica o quanto a bebida é mais cara. Todo o meu custo de produção, desenvolvimento e entre outros deve ser captado em apenas um terço. Nos Estados Unidos, atualmente, duas novas cervejarias abrem por dia devido as leis de incentivo e impostos mais baixos”, garantiu Botto.

No entanto, um dos eventos mais populares atualmente no Rio de Janeiro mesclam Food Truck com cervejas artesanais. Sejam nas praças do Leblon ou do centro, a galera não perde a oportunidade de beber e comer um hambúrguer. “Esse movimento das pessoas é lógico. Antigamente, as grandes empresas de cervejas estavam engolindo as pequenas. A ideia das multinacionais era criar produtos mais neutros, pois poderiam agradar mais gente. Os produtores artesanais colocavam mais aromas ou gostos o que ganhava o coração de parte do público, mas era odiado pela outra parcela. Hoje em dia, existe um movimento de resgate dessas cervejas no mercado. A gente tem diferentes nichos, existe mercado para tudo, principalmente, com o aumento do poder aquisitivo. As pessoas querem saber o que estão comprando e, com isso, querem degustar do melhor”, afirmou Botto.

Leonardo Botto afirmou que é necessário conhecer todas as matérias primas (foto: divulgação)

Para quem pensa que a cerveja vem da latinha de metal está muito enganado. Existe um intenso processo de fermentação até chegar ao produto final. E, no caso da produção de Botto, são produtos naturais e sem conservantes. “Fazer cerveja é como cozinhar. Antes, achava que era algo muito industrializado, mas percebi que pode ser muito simples apesar de demorar dias para ficar pronto. A única diferença é a quantidade, é preciso fazer vinte litros ou algo próximo a isso. O produto final é muito melhor do que vemos no mercado, não é artificial”, confirmou. Os jovens que pensam em investir nesta arte podem ficar tranquilos. Segundo o metre cervejeiro, criar novas receitas é muito fácil. “A dica é saber o que cada composto faz e, dessa forma, a pessoa consegue combinar os gostos para criar algo novo. Até por isso que nenhuma cerveja é igual a outra, afinal as combinações podem ser diferentes de uma safra para a outra”, instruiu.