Foi a versão brazuca de “Bésame Mucho” – o clássico bolero argentino que faz parte do álbum “Amoroso”, de João Gilberto, lançando em 1977 – ouvida na rádio do carro do pai, que despertou um John Pizzarelli ainda menino para a música brasileira. Era a primeira que o criador da bossa nova incluía uma canção estrangeira no seu repertório (uma não, três!), em uma época em que ele fazia carreira internacional, principalmente nos Estados Unidos, país onde John nasceu (Paterson, Nova Jersey, 1960). Esta poderia seria uma surpresa: um representante do jazz que adora a bossa nova, “Big John” sempre surpreende. Dessa vez, ele volta ao Brasil com parte do repertório de “Double Exposure” (2012), seu mais recente álbum, no qual recria alguns standards do pop-folk-rock, além de algumas bossas que costumava cantar aqui no Brasil nas mais de 15 vezes que marcou presença na Cidade-maravilha. Prova que a finada casa do Leblon que costumava recebe-lo era mesmo uma Mistura Fina. Mas dessa vez coube ao Teatro Bradesco, na Barra da Tijuca, lançar seu tapete vermelho para este respeitável astro do jazz.
No lugar de uma imagem messiânica de venerável estrela do jazz contemporâneo, a leveza e desenvoltura de um belo, alegre e jovem cantor e compositor de 54 anos. Nem precisava fazer gracejos no palco com o primor de música que traz, mas ainda tem isso. Pizzarelli faz uma música que é adorável a qualquer hora e em qualquer lugar, que serviria até como pano de fundo para comerciais motivacionais de plano de saúde clichês, mas ele é sempre mais encantador em um espetáculo ao vivo. Além do enorme talento como músico, intérprete e guitarrista, John Pizzarelli é um showman, daqueles que une técnica, emoção e humor, proporcionando entretenimento da melhor qualidade às mais exigentes e seletas audiências.
Entre as canções de se derreter no set list estão “Witchcraft”, do álbum “Dear Mr. Sinatra”, homenagem ao ídolo Frank Sinatra, que é para sair de lá, no mínimo, dançando na chuva. Mas, para Pizzarelli, seu herói e máximo inspirador é Nat “King” Cole e a comparação com o ídolo é o maior dos elogios. “Considero que somos uma extensão, uma versão século 21 do que ele era”, declara sua modéstia. Ele dedicou dois álbuns, “Dear Mr. Cole”, e “PS Sr. Cole”, à música deste grande ícone da música americana. É desse rasgar seda rendeu sua versão para “September Song” que, por sua vez, é de transformar a noite em momento memorável, saindo de lá apaixonada pelo ar que respira, dando até beijo no segurança “carrancudo”.
Seduzido por Jazz e Bossa Nova, Pizzarelli já gravou nada menos que 40 álbuns, com destaque para: “I’m Hip – Please Don’t Tell my Father” (1983), “Dear Mr. Cole” (1994), “Our Love Is Here to Stay” (1998), “Meets The Beatles” (1998), “Brazil” (2000), “Bossa Nova” (2004) e “Dear Mr. Sinatra” (2006). A Opus Promoções e o Bourbon Street de São Paulo fazem quatro shows do músico no Brasil. As outras apresentações são em Natal (17 no Teatro Riachuelo), Recife (18 de maio no Teatro RioMar) e Porto Alegre (22 de maio no Teatro do Bourbon Country). O último show da turnê do artista no país, na capital gaúcha, faz parte do Bourbon Street Festival 20 anos, que é um belo programa. Junto com John Pizzarelli (voz e guitarra) estão na banda Martin Pizzarelli (baixo acústico), Kevin Kanner (bateria) e Konrad Paszkudziki (piano). Se perdeu no Rio, ainda vale a pena fazer qualquer sacrifício para curtir os outros shows, até voando – ao som de Pizzarelli, que é mais agradável.
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