*Por Brunna Condini
De setembro de 2020 para cá, uma vida nova vem se apresentando para BENJAMÍN. Na época, nós conversamos com o ator, que antes era conhecido como Bia Damini e chegou a interpretar Martinha em Malhação, que havia revelado ao público, através de um post no Instagram, sua transição de gênero e declarou: “Pessoas trans são oprimidas todos os dias. Existir sendo trans já é existir com medo. Eu tenho medo de ir à praia, andar na rua, usar um banheiro público. E isso, por si só, já é bem opressor. Vivemos no país que mais mata transexuais no mundo. E se fizermos um recorte social, transexuais negros e periféricos vão sofrer ainda mais com essa violência, com essa opressão. Acho que o que fica para mim dessa questão da opressão é de existir sendo oprimido, porque é isso”.
Ao mesmo tempo, o jovem artista de 21 anos, celebrou: “Precisei me perdoar para me permitir ser quem eu sou. E hoje eu quero existir nessa minha completude. Poder me expressar sem medo. Permitir que a minha auto identificação e a minha liberdade de ser quem sou sejam as minhas maiores qualidades. Quero fazer arte. Escrever, cantar as minhas histórias, dar vida às minhas composições. Fazer música para mim e para o mundo. Acho que é algo que a minha alma está pedindo neste momento”.
Aos 21 anos, BENJAMÍN que esteve em “Malhação: toda a forma de amar” (2019) atendeu os desejos da alma. Desde então vem vivendo por inteiro sua essência e fazendo música. Lançou em novembro o single ‘Gela’ e sexta-feira passada (dia 29), Dia da Visibilidade Trans no Brasil, lançou também duas versões acústicas do mesmo single produzidas pelo músico Rodrigo Suricato, que foi convidado especialmente para o projeto.
“Tem muito vindo por aí. Estamos trabalhando em novos singles e também em fase de pré-produção do novo álbum. E, se tudo der certo, sai este ano ainda. Está ficando lindo, estou explorando muitas sonoridades, que se encontram dentro deste universo pop. Estou bem empolgado e as expectativas são bem grandes, quero muito dividir isso com os meus fãs e com todo mundo que me acompanha”.
Livre, leve e solto. Essa é uma boa definição para o seu estado de espírito. Lançar esse trabalho ajuda no nascimento do BENJAMÍN? Ou seria um renascimento? “Sim, com certeza reafirma muito para mim. Pessoalmente é um marco, porque foi o meu primeiro dia da Visibilidade Trans assumido e isso é muito significativo em muitos aspectos”.
Ainda falando dos desejos dentro do mundo da música, ele entrega: quem convidaria para um feat? “Tenho muita vontade de trabalhar com a Pabllo (Vittar). Acho que seria incrível. Adoro o trabalho dela, adoro ela. Seria surreal se a gente trabalhasse junto”. E quem convidaria para ir à sua casa? “Nossa, meu sonho é conhecer a Liniker, porque eu admiro demais o trabalho dela. E tenho curiosidade de sentar, conversar, tomar um suco (risos), uma cerveja, um vinho, qualquer coisa com essa pessoa e trocar muito”.
Ele conta se teve receio que a transição prejudicasse sua carreira como ator. “Antes de me assumir, tinha medo de muita coisa neste âmbito profissional, mas hoje não tenho. Entendo que todas as nossas vivências e as escolhas que vamos fazendo no decorrer da vida vão pautando novas experiências. É claro que transicionando eu perco o lugar de mulher cis e de fazer personagens femininos. Não que isso seja uma regra, afinal muitas pessoas cis interpretam pessoas trans, né? E acho que temos que olhar inclusive para isso. Por que pessoas trans não estão interpretando pessoas trans?”, questiona. E revela um personagem dos sonhos, agora como ator: “Quero fazer um personagem trans (risos). Gostaria muito e viver esta experiência”.
A leveza de ser
Popular nas redes desde ‘Malhação’ e agora ainda mais, BENJAMÍN não se assusta com o interesse do público. O assédio aumentou depois da transição? “Costumo receber mensagens de pessoas que me admiram. Existe um certo assédio, sim, mas sempre em um lugar de muito respeito. Adoro ler os comentários e as mensagens, me sinto muito querido e isso é gostoso”, observa.
Viveria um romance com uma fã ou um fã? “Olha, não diga nunca, né? Mas eu acredito que para viver uma história com alguém, não pode ter esse lugar do ídolo e do fã. Até porque eu sou uma pessoa como outra qualquer, também tenho minhas intempéries, então acho que precisa ser num pé de igualdade sempre. Mas viveria um romance com um fã ou uma fã, sim, se fosse neste pé de igualdade”, afirma.
Está amando alguém? “Estou em um momento que estou me amando muito. Criando um laço muito forte mesmo comigo. Acho que até por ter vivido muito tempo tendo que negar minha verdadeira identidade, estou em um momento que está gostoso ser eu. Me amar, cuidar e priorizar os meus sentimentos, emoções, vivências. Honrar isso e experimentar a vida sozinho. É bom estar só também, gosto muito”.
E o que alguém precisa ter para você se apaixonar? “Nossa, que pergunta difícil. Porque eu não acho que tenha um padrão de pessoa que costumo me apaixonar, mas com certeza tem algumas características que admiro. O bom humor, por exemplo, é algo que me cativa muito. Também tenho uma quedinha por pessoas engraçadas. Gosto da leveza para a vida. Pessoas que levam a vida com leveza me encantam. Gente que respeita o próximo, têm senso de empatia. E pessoas fieis à própria essência. Nossa, como me apaixono por pessoas que são elas mesmas! Gente que você conversa e vê que é aquilo, se respeita, se ama, se coloca no mundo com a própria essência. Isso é muito bonito, me apaixono facinho”, avisa.
Por respeito e direito
BENJAMÍN também ‘desenha’ para quem ainda não entendeu: porque existe Dia da Visibilidade Trans e não existe da ‘visibilidade hetero’, por exemplo: “Acredito que quando falamos em visibilidade, partimos do princípio que existe uma invisibilidade e dentro da população trans, isso é histórico. É uma população que desde os primórdios é condenada, morta, violentada, oprimida, apenas por existir. Então, acho que isso deixa mais ‘desenhado’ porque não existe um dia de ‘visibilidade hétero’ ou uma ‘visibilidade cis’, que seria quem não é trans. E é uma população que historicamente está no poder e oprime as pessoas trans. Então, é muito importante termos esse dia para pode relembrar essa opressão histórica e reafirmar nossa existência e a nossa resistência”.
O que gostaria de dizer para quem tem preconceito com pessoas trans? “Diria que na verdade, se formos olhar a transfobia enquanto problema estrutural, a gente parte do pressuposto que somos todos transfóbicos. Assim como o racismo, a transfobia é uma questão estrutural. Então, todos somos preconceituosos, isso é uma verdade. Acho que temos que buscar muito o conhecimento, porque só isso nos liberta da ignorância e do preconceito”, reflete. “É importante seguir pessoas trans nas redes sociais, dar espaço para elas ocuparem, ouvirem o que têm a dizer. Ao mesmo tempo, entender que se você tem mesmo um preconceito muito forte, se essa transfobia se pronuncia muito na sua vida, talvez tenha alguma questão dentro de você que precise ser olhada. Alguma questão de repente mal resolvida com a sua própria identidade. Porque o problema não está nas pessoas trans. A nossa existência não é uma violência para ninguém. Nós é que estamos sendo violentados”.
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