* Por Jamari França
A Cor do Som se reúne pela primeira vez desde 2005 em sua formação original. Desta vez com planos de gravar um disco de inéditas (em 2005, os músicos gravaram um acústico). Foi o que me disse o Dadi (baixo) depois do show que lotou por dois dias o Teatro Rival, no Centro do Rio com gente voltando da porta. Dadi me disse que ainda estavam meio dispersos fazendo suas coisas, mas, a partir de agora, vão se dedicar direto aos shows.
Disse a ele que tinha uma mina de ouro nas mãos para correr o Brasil. São músicos conhecidos, de larga experiência, com muitos sucessos no currículo e de uma excelência musical impecável. É a mesma formação criada em 1977 com Armandinho na guitarra baiana (o pau elétrico), Mu nos teclados, Dadi no baixo, Gustavo Schroeter na bateria. E Ary Dias, que entrou em 1978. O show foi em clima de festa total. Um esfuziante reencontro dos fãs com a banda, com direito a um bônus.
Moraes Moreira estava na segunda fila. Quando Dadi falou que eles tinham começado como banda do Moraes, o próprio falou: “Esta banda é minha”. Foi o bastante para Armandinho descer do palco, se postar diante de Moraes tocando a abertura de Preta Pretinha. Um roadie entregou um microfone a Moraes, ele se levantou e mandou o hino dos Novos Baianos, incluindo um belo texto poético dele sobre sua ex-banda. Teatro inteiro cantando, puro êxtase.
Uma vez a Paula Toller definiu crítico como o cara que ganha ingresso de graça para falar mal do show. Nossa visão do show não é de um fã, pode até ser de fã também, mas temos que avaliar friamente os shows. O único senão desta esplendorosa volta da Cor do Som foi sua maior estrela. Armandinho muitas vezes extrapola como se estivesse num show de Armandinho e banda. Show solo é uma coisa, show de uma banda é outra. Armandinho parte para longos improvisos que culminam com sua descida à plateia para tocar por uns cinco minutos posando para fotos com os fãs, se divertindo a valer e atendendo a todos que o queriam a seu lado, enquanto a banda fica segurando a base para ele brilhar.
Em outras partes do show ele joga para a equipe, mas extrapola um pouco demais. O outro músico de harmonia, Mu Carvalho, também é um virtuoso, faz maravilhas num piano acústico e teclados, mas aparece menos por conta da exuberância do parceiro. Dadi usa um baixo regulado meio para o grave e meio para o agudo, mas faltou profundidade ao som do instrumento. Alguns músicos secam o som do baixo aproximando-o de uma guitarra, no caso faltou presença ao som dele. A parte rítmica faz bem a sua parte de marcação, suingue e floreios nos tambores e pratos.
Gustavo na batera segura a onda e Ary Dias, mais solto, dá seu show à parte e até cantou no bis Dentro da Minha Cabeça. A banda teve a platéia na mão o tempo inteiro, seja na reação entusiasmada ao que é o forte da banda, o instrumental, às canções de sucesso num backing vocal integral e afinado. Um belo reencontro da Cor do Som com seu público.
P.S. Teve uma falta imperdoável. Não tocaram Dança das Fadas, minha favorita.
SETLIST: Saudação à Paz, Pororoca, Zero, Alto astral, Frutificar, Dominguinhos de Sábado a Sábado (Inédita), Arpoador, Menino Deus, Ticaricuriquetô, Se Assim Quiser, Swing Menina, Abri a Porta, Semente do Amor, Beleza Pura
BIS: Zanzibar e Dentro da minha cabeça
* Jamari França é jornalista, escreve sobre pop rock desde 1982. Cobriu exclusivamente o Rock Brasil para o Jornal do Brasil nos anos 80, quando se dividia entre o Caderno B e a Editoria Internacional. Trabalhou no Globo Online de 2001 a 2009. É autor da biografia dos Paralamas, Vamo Batê Lata, e tradutor de livros sobre música e política.
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