*Por Simone Gondim
Sinônimo de alegria, irreverência e talento, com uma boa dose de fé, Baby do Brasil se prepara para subir ao palco. O show “Depois de tudo ainda ser feliz… É festa na floresta”, que estreia em dezembro (nos dias 4, no Rio de Janeiro, e 12, em São Paulo), vem para dar alguma leveza a um ano difícil, marcado pela pandemia causada pelo novo coronavírus. “Após a quarentena, com tantas reflexões e muitas inspirações, me senti muito criativa e comecei a sonhar com várias ideias. Assim nasceu um novo tempo e, com ele, uma nova turnê”, conta a artista.
Aos 68 anos, Baby aposta em um visual diferente: trocou a cabeleira totalmente roxa por fios rosa-choque e azul-turquesa, com nuances furta-cor. “Nos primeiros meses da pandemia, em completo isolamento, pintei as paredes lá de casa para dar uma sacudida. Por isso, resolvi também radicalizar o discurso nos cabelos”, explica. “A mudança de cor não foi pelo lado artístico, mas pelos aspectos espiritual e emocional. Eu me recusei a sucumbir à tristeza, ao medo e ao terror, pois isso baixa nosso cortisol e destrói ainda mais a imunidade”, afirma. “Decidi combater a tristeza com sabedoria e alegria, e o medo e o terror com a fé firme e inabalável. Busquei informação sobre tudo desse vírus, descobri todo o protocolo para não virar pneumonia, ajudei muita gente e vi a natureza se reciclando com a saída de cena do homem, enquanto nos recolhíamos em casa, em uma prisão domiciliar, por vontade própria”, completa.
Fã de cabelos coloridos desde a infância, quando leu que a personagem Branca de Neve tinha madeixas preto-azuladas, Baby descobriu os pigmentos para os fios em uma das suas primeiras viagens aos Estados Unidos. “Não havia nem sombra disso no Brasil. Na rua dos punks, em Nova York, encontrei muitas tintas e comecei a realizar meu sonho”, lembra. “Assumi pintar de várias cores em uma época que foi um susto para a maioria das pessoas. Fui até barrada na Disneylândia, com Pepeu Gomes, mas venci essa etapa com arte e muito humor”, acrescenta (nos anos 1980, ela e o ex-marido, pai de seus seis filhos, foram impedidos de entrar no parque por conta do visual multicolorido. A experiência virou a música “Barrados na Disneylândia”).
Com direção de arte de Allex Colontonio e André Rodrigues, “Depois de tudo ainda ser feliz… É festa na floresta” terá um cenário cheio de cores e projeções, que estarão integradas com o look de Baby e da banda. Os figurinos levam a assinatura de Toni Maravilha, enquanto o projeto de iluminação e a luz são de Marcelo Linhares. “Em algumas canções, o visual será com cores suaves e muito pop. Em outras, mais black e rock and roll”, entrega a artista.
No repertório do espetáculo, estão programadas canções inéditas, regravações e improvisos. Não vão faltar clássicos como “Menino do Rio”, “Acabou chorare”, “Cósmica” e “Telúrica”, além da recente “Decorei a onda”, composta por Baby durante a quarentena. “Tenho feito muita coisa nova e preparado um CD de inéditas. Vou trazer para o show um pouco dessa experiência musical e de vida, para a gente cantar e dançar muito”, diz. “Teremos algumas surpresas, pérolas da nossa música, grandes hits e momentos emocionantes, com uma banda de grandes estrelas, como Jorginho Gomes, Frank Solari, Gui Schwab e Marcos Suzano, além dos supermúsicos Milton Guedes, Raphael Garrido, Luciano Lopes e Milton Pelegrino“, adianta ela.
Uma das curiosidades da apresentação é a releitura de um dos concertos de “As quatro estações”, de Vivaldi. “Será tocado o ‘Verão’, solado pelo incrível guitarrista Frank Solari. A beleza dessa peça na guitarra é impactante, parece mais atual do que qualquer rock progressivo, com um sabor de apoteose, orquestral”, revela Baby. “Amo vários tipos de música e a clássica me emociona muitíssimo. Também sou completamente apaixonada por orquestras, big bands e corais”, confessa.
Outro diferencial do show é o uso de um trio de guitarras, algo pouco comum na cultura brasileira. “Estou em uma fase sinfônica e preciso de muito peso musical para expressar esse momento”, observa a artista. “Minha ligação com a guitarra é muito forte, principalmente por causa das várias canções que fiz com Pepeu. Eu me identifico muito com esse instrumento, que uso bastante para compor. Por isso, decidi colocar três guitarras. Ficou maravilhoso!”, entusiasma-se.
Para se prevenir contra o coronavírus, a produção de “Depois de tudo ainda ser feliz… É festa na floresta” seguirá todos os protocolos de segurança, saúde, distanciamento e sanitização. Baby faz questão de deixar claro que leva a Covid-19 muito a sério e está se cuidando. “No início, fiquei bem atenta para entender que loucura era essa. Como sou da bio-ortomolecular, intensifiquei a ozonioterapia e as vitaminas. Tenho tido contato com várias experiências de cura de gente que pegou o vírus e se tratou logo que desconfiou dos sintomas. Nenhuma dessas pessoas precisou ir para o hospital”, ressalta. “Estou bem vitaminada e ozonizada para seguir trabalhando. E, ainda por cima, com o sangue de Jesus na cobertura total”, garante.
Quem acompanha a trajetória de Baby do Brasil sabe que ela nunca escondeu seu lado espiritualizado. Evangélica há mais de 20 anos, em 2015 a artista quebrou um longo período dedicado à música religiosa, com o lançamento do CD e DVD “Baby sucessos”, e reconhece já ter enfrentado o preconceito por causa de suas escolhas. “Encontrei algumas resistências. Mas, como sempre gostei de desafios, foi agradável, embora um pouco delicado, mostrar às pessoas que, de fato, aconteceu algo comigo espiritualmente. Foi uma revelação espetacular sobre tudo que sempre sonhei entender. Isso me tornou uma pessoa absolutamente amorosa, paciente e feliz”, esclarece.
Segundo Baby, o mergulho no lado espiritual foi uma grande batalha, na qual buscou o Criador em muitos lugares. Atualmente, ela está no que chama de Matrix de Deus. “Tive um arrebatamento em maio de 2019. A partir daí, tudo mudou. Uso a palavra Matrix para quebrar a religiosidade e levar as pessoas a considerarem as coisas de Deus como naturais, pois Ele é o nosso autor, a quem temos todo o acesso por Cristo Jesus”, descreve.
Para a artista, ciência e espiritualidade andam lado a lado. “Tudo que é descoberto já estava previsto para ser encontrado. Vai sendo revelado aos poucos, de geração em geração. Assim como Isaac Newton provou cientificamente a Lei de Causa e Efeito e Albert Einstein declarou que pensamento é matéria, eu percebo a mão do Criador operando em todas as coisas. Como está dito nas Escrituras Sagradas: ‘Eu sou o Deus de toda a ciência’. Tudo caminha junto, embora não pareça”, acredita ela.
Baby atribui à conexão divina o fato de ter mantido a sanidade em meio à Covid-19. A Ele, também, ela credita boa parte de sua ótima forma física. “Nesse tempo de pandemia, não deixei que a onda de terror matasse minha fé. Intensifiquei as orações e os jejuns, aumentei minha intimidade com Deus, me revesti da armadura que está em Efésios 6 e o Espírito Santo fez a obra em meu coração e na minha mente”, assegura. “Creio que essa ligação com o Criador tem sido a mola mestra para andar sempre alegre e feliz, deixando que isso se reflita em todo o meu ser. Exerço frequentemente o perdão e o arrependimento, libero as mágoas e ressentimentos. Da saúde do corpo, cuido com vitaminas, ozônio e alimentação. Para o bem-estar da alma, fico com os ensinamentos de Cristo Jesus”, complementa.
Ela não gosta de usar o termo isolamento social para falar da quarentena. “Palavras têm poder. Isolamento aponta para solidão, tristeza, prisão, confinamento, abandono etc. Entre outros conceitos, esse efeito psíquico causa depressão, medo, pânico, terror etc. Uma das expressões ideais seria recolhimento social”, teoriza. “Fiquei em quarentena um bom tempo e me dediquei a orar pelo Brasil e o mundo, por todas as pessoas. Fui me fortalecendo e estou superbem”, enfatiza.
Solidão, aliás, não combina com Baby. Avó de Rannah Sheeva e Dom, e mãe de Sarah Sheeva, Zabelê, Nãna Shara, Pedro Baby, Krishna Baby e Kriptus Gomes, ela não perde o instinto protetor e gosta mesmo é de vê-los reunidos. “Amo ter os filhos ao redor, principalmente nas principais datas, como aniversários, Natal, Ano Novo e Páscoa. Gosto de juntar todos para que percebamos nossa família, nossa raiz e descendência. Sou intercessora de oração dos meus filhos e da família, entrego todos a Deus, diariamente, ao acordar e antes de dormir. É um compromisso que assumi para a vida”, resume.
Ser avó também é uma experiência belíssima. “Quando Rannah, minha primeira neta, nasceu, me senti muito poderosa, tive a certeza da honra que é ser, com Deus, cocriadora dessa nova família. Como avó, sou a criança com as experiências conquistadas ao longo da vida e deslumbrada com essa incrível beleza de ver nascer os filhos e os filhos dos meus filhos, entender que eles não teriam nascido se eu e o pai deles não tivéssemos casado”, derrete-se. “Amaria já ter bisnetos, pois adoro a casa cheia, mas não interfiro na criação dos netos e deixo todos muito à vontade”, atesta.
A alegria de estar em uma casa cheia vem desde a época em que todos os integrantes dos Novos Baianos moravam em um sítio, no bairro carioca de Jacarepaguá. “Amo viver em comunidade! Com música todo dia, de preferência. Consigo fazer isso mantendo, também, a privacidade. Os dez anos morando com os Novos Baianos, meus irmãos, foram inesquecíveis, uma experiência enriquecedora e fantástica, escola de música e de vida”, assegura a artista. “Foi maravilhoso aprender a amar mais uma família, viver o amor ao próximo como a nós mesmos. Arte e vida se misturaram, é por isso que os Novos Baianos são insuperáveis em sua arte”, disserta.
A morte de Moraes Moreira, em abril de 2020, ainda parece irreal para Baby. “Não vai cair a ficha nunca. Sinto Moraes vivo a cada acorde, em todos os momentos do show. Sei que ele foi resgatado por Deus e está na maior festa da eternidade, mas ficamos aqui com muita saudade da sua risada, da batida inconfundível no violão, dos momentos em grupo e das conversas cheias de códigos criados entre a gente. Nós o amamos muito”, emociona-se. “Demoramos a aceitar subir no palco novamente, precisávamos aterrissar dessa nova realidade. Nos shows que fizemos sem ele, cantamos e tocamos como se Moraes estivesse ali conosco”, recorda.
Diante da inevitável brincadeira com o título de um de seus sucessos com os Novos Baianos, “A menina dança”, de 1972, Baby dá uma resposta bem-humorada. “Aos 68 anos de planeta Terra, a menina ainda dança, e dança bastante! E pretende entrar em uma escola para aprimorar a performance e ficar muito melhor”, fala, rindo. “O que mudou de 1972 para cá é que os filhos cresceram, já se cuidam e, sendo assim, a mamãe-menina Baby já pode dançar bem mais, sem parar”, diverte-se.
Mantendo a postura de não se enquadrar em padrões impostos e não ceder a pressões sociais, a artista segue equilibrando os aspectos masculino e feminino de sua personalidade. “Aprendi ao longo da vida que posso exercer esses dois lados com graça, serenidade e seriedade, no sentido de firmeza e dignidade. Amo ser feminina e, também, uma mulher de negócios. Ser doce, mas ter atitudes firmes”, argumenta. “Ser uma mulher feminina não fere o meu lado masculino, porque para parir seis meninos eu tive que ser muito masculino e feminino”, declama, fazendo uma versão da letra de “Masculino e feminino”.
Em relação às redes sociais, Baby admite que relutou um pouco para ter um perfil. “Amo a tecnologia a favor da felicidade, alegria e praticidade, mas sou da geração Woodstock, em que tudo era muito orgânico. Resisti bastante para ter rede social, mas de repente me apaixonei e aprendo mais a cada dia. Quando virem uma postagem meio torta, me perdoem. Minha equipe me ajuda bastante, mas às vezes faço umas investidas na madrugada, quando todos dormem”, assume. Sobre haters e a cultura do cancelamento, ela faz um alerta: “A internet é uma ferramenta útil e importante, que deveria ser usada sempre para o bem. Como isso nem sempre é possível, precisamos estar atentos para não cometer injustiças e conseguir ajudar o próximo”.
E quais serão os planos de Baby para além das apresentações de “Depois de tudo ainda ser feliz… É festa na floresta”? Além de um álbum de músicas inéditas, há três projetos voltados para o lado espiritual: a reedição de “Peregrina”, diário da artista ao percorrer o Caminho de Santiago de Compostela, lançado nos anos 1990; um livro de orações; e a retomada da gravação do Livro do Apocalipse. “Sempre gostei de escrever meus sentimentos e muitos viraram letras de música. As orações foram acontecendo com frequência e decidi publicá-las para ajudar os outros. Elas são diferentes do padrão, despojadas de qualquer compromisso com um vocabulário mais religioso, vão contribuir para as pessoas desenvolverem um estilo próprio de falar com Deus, com intimidade”, pondera.
Em relação ao Apocalipse, também chamado de Livro da Revelação, Baby considera um conteúdo indispensável. “Esse meu lado ‘Matrix de Deus’ é muito missionário”, define, rindo. “No momento em que a humanidade passa por essa tribulação que é a pandemia, o livro escrito pelo apóstolo João em seu exílio é surpreendente. Como diz o nome, é Revelação, mas também é um sinal de alerta muito preciso, que aponta para um futuro próximo”, conclui.
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