* Por Carlos Lima Costa
Desde pequena, Julia Svacinna trilha carreira de atriz através de projetos como a novela Império, os filmes Um Tio Quase Perfeito 1 e 2 e a série O Mecanismo, da Netflix, como filha do personagem de Selton Mello. Mas além de atuar tem paixão pela música e vem investindo também na carreira de cantora e compositora. Recentemente, lançou Everyday, seu quarto single e clipe. Uma reflexão sobre como foi viver na pandemia. “Falei um pouco sobre essa sensação que todo mundo teve de se sentir preso. Uma realidade que parece um looping, tudo se repete, nada muda nunca. E, na verdade, tudo que você quer é pegar a vida que você tinha de volta ou uma ideia de futuro diferente. O futuro vai ser o presente se a gente viver o presente da melhor maneira possível. Era a reflexão sobre o se sentir impotente com o geral”, enfatiza sobre a canção composta em abril de 2020, segundo mês da pandemia.
“Eu, meus pais e meu irmão, estávamos completamente isolados, em casa, e era um sentimento angustiante. Queria poder voltar aquele um mês e cinco dias mais ou menos, agarrar e não soltar nunca mais ou pular para uma realidade onde eu pudesse já viver de novo. Disso tudo, tirei como lição que a gente não pode tomar o dia de amanhã como garantia. Tudo pode acabar a qualquer momento, então, temos que viver tudo que a gente tiver pra viver, intensamente, com verdade. É o que eu falo até na música”, acrescenta ela, que anteriormente já havia lançado três canções, todas autorais e define seu estilo como pop.
Com o desejo de agora investir fortemente na música, ela revela que vem novidades em breve. “Eu tenho um EP vindo por aí, que ainda não foi anunciado oficialmente, mas vai ser nesse semestre. A música é uma forma de me comunicar com o público a partir da minha verdade e não através de um personagem. Sinto que consigo tocar mais as pessoas com a música do que com a atuação. Cada um se identifica com a letra de acordo com o que sente e não necessariamente com o que o autor quis dizer. E meu objetivo é transformar a vida das pessoas, de alguma forma fazer com que elas se sintam acolhidas e sintam que não estão sozinhas”, reflete ela, que, como cantora, se apresentou uma única vez, com um pocket show, em novembro de 2021, ao lançar Era Você, seu terceiro single. Agora, planeja realizar uma turnê. Por seu trabalho como compositora, recentemente foi contratada pela Warner Chappell, que cuida da parte administrativa das canções.
Everyday, o atual single, não faz parte do EP. Ele virá com canções inéditas. “Toda música tem uma história. Esse EP carrega uma história bem legal, que ainda não posso contar, porque seria muito spoiler. Mas assim, tento trazer sempre uma mensagem. A vida é feita de histórias e nós somos contadores delas, sejam elas da nossa vida ou de coisas que aprendemos em alguma situação, com outras pessoas, a partir de outras histórias. O EP vai trazer uma mensagem como um todo e cada música um sentimento. Uma música vai ser mais biográfica, vou contar mais sobre a minha vida”, explica. “Não paro de escrever, estou sempre compondo. Faço letra e música tudo junto e muito rápido”, conta ela que compõe no piano e no violão. Na pandemia, se expressou também pintando. “Era uma maneira de direcionar a minha tensão, jogar arte pra fora. E olha que engraçado, eu não desenho nada, sou zero artista plástica. Mas fazia cartaz de série que eu assistia, umas representações artísticas, fiz capa de CD do Ed Sheeran que eu sou apaixonada por ele, um ícone da composição. As músicas dele são maravilhosas, as da Taylor Swift também”, diz ela, que gosta também de Beyoncé e das gerações mais antigas, admira, por exemplo, os Beatles.
Julia começou a ter aula de canto aos sete anos. Ao mesmo tempo em que ia desenvolvendo carreira de atriz, aprendeu a tocar piano e violão, e, aos 12 anos, começou a compor, colocando na cabeça que desejava também trabalhar com música. Em fevereiro de 2020, lançou Minha Carta, seu primeiro single. No fim daquele ano, apresentou Mundo Paralelo. E cerca de um ano depois, foi a vez de Era Você.
Entre as mais de 30 canções que já tem compostas, nenhuma aborda o que vivenciou aos 15 anos, no Instagram, ao receber comentários mais abusivos. “Isso acontece com todo mundo. Na internet, as pessoas acham que tem um superpoder e que ninguém as atinge em lugar nenhum, então, tomam a liberdade de falar o que pensam, embora sejam comentários desnecessários e muitas vezes abusivos mesmo. Não só em direct, mas em lives também. Não deveria acontecer com ninguém, mas infelizmente a sociedade não funciona dessa forma. Aí você bloqueia a pessoa e a denuncia. É uma atitude completamente errada dessas pessoas e independente da idade que você tenha, você não está dando a cara a tapa na internet para alguém vir e fazer comentários com conotação sexual. Ficava muito chateada das pessoas falarem esse tipo de coisa sem eu dar motivo”, pontua.
E acrescenta: “Se esses comentários acontecessem em uma escola, em uma rua, no trabalho, seria considerado assédio, então, não é legal, e é reflexo de uma sociedade machista sim onde os homens acham que tem o direito de falar o que bem entendem para as mulheres e não está certo, eles não tem esse direito”, reclama.
Mas analisando a geração dela e os amigos, Julia crê que o machismo anda perdendo espaço. “É uma situação que vem melhorando. Por exemplo, não tenho amigos que compactuam com esse tipo de atitude. Se compactuassem eu iria manter distância e não chamaria de amigo. Somos muito formados por opiniões que escutamos dos outros e do que a gente julga ser mais certo a partir do nosso entorno. Acho que muitas pessoas tem aprendido e se posicionado melhor, tem tido como se posicionar contra o machismo, como se portar, como um ser humano decente deve. As mulheres tem exigido respeito também, porque infelizmente a gente tem que lutar por isso, que já deveria ser algo natural da sociedade”, pondera.
Tema relevante que como tantos outros deveriam ser debatidos na Educação. “A minha escola traz a tona assuntos que devem ser discutidos na sociedade. Venho de uma família boa, estudo em uma escola particular boa, tenho uma vida privilegiada, vamos dizer, mas tenho que entender a realidade do mundo. A gente não pode crescer dentro de uma bolha. Essas questões tanto sociais quanto racistas e machistas têm que ser debatidas desde cedo nas escolas, as crianças devem saber o que está certo ou não. A gente tem que aprender a ter respeito com o próximo desde cedo qualquer que seja a questão, seja orientação sexual, seja o gênero, etnia, o que for. Não tem nada de errado com ninguém. Pra mim, o que não faz sentido é o preconceito”, afirma.
Desde cedo ela percebe esse comportamento machista. “Conforme venho crescendo, vem piorando. A primeira vez que vivi uma situação dessas eu tinha 11 anos, não tinha nem corpo de mulher ainda, era uma criança e tive uma situação bem constrangedora. Na escola, um menino do ensino médio não falou nada, mas ficou me olhando e a gente sabe quando é um olhar de maldade”, lamenta.
O machismo ainda não foi retratado em nenhuma música. Mas já falou sobre o tema em seus stories, no Instagram. “Ali é a minha vida, sou muito aberta e aí eu falo mesmo”, diz ela, que tem 253 mil seguidores, pra os quais escreve sobre seu trabalho e seu lifestyle.
Na pandemia, Julia pôde se ver na reprise de Império, nas cenas de flashbacks de Cristina, papel interpretado por Leandra Leal na fase adulta. “Eu era muito criança, tinha 8, 9 anos no máximo, então, na época, não pude assistir a novela toda, via as minhas cenas, algumas coisas e agora quando reprisou eu assisti. Foi muito engraçado me ver na versão pocket, porque sou eu muito nova. Tenho essa sensação com quase todos os trabalhos que eu fiz. No último já lançado, Um Tio Quase Perfeito 2, eu estava com 14 anos”, explica. Seu mais recente trabalho, Fazendo o Meu Filme, adaptação cinematográfica do livro de Paula Pimenta, ainda está inédito. “A Natália não é uma personagem de comédia, mas ela é o alívio cômico da história e foi muito interessante.” No momento, tem engatilhado para filmar a comédia romântica Fazendo o Meu Filme 2.
Entre os papéis que interpretou chamou atenção o da autista, Beta, filha do personagem de Selton Mello, na série O Mecanismo, da Netflix. “Foi interessante, porque era um universo com o qual eu não tinha tido muito contato e ao mesmo tempo é uma realidade próxima da gente. Então, com certeza, agregou muito pra mim na minha visão de mundo, como uma menina de 12 anos, que começou a ter mais perspectiva sobre a realidade e sobre a arte. Consegui crescer como artista. Foi um dos meus trabalhos mais complexos e densos. Mas pra mim foi mais difícil fazer uma menina que era cômica do que uma autista. Agora, aprendi muito com o Selton. Nossa, que honra trabalhar com ele, um artista e pessoa maravilhosa”, ressalta Julia, que vai completar 18 anos de idade, em dezembro.
“Por muitos anos, não tive projeção nenhuma de futuro com essa idade. Minha única meta é tirar minha carteira de habilitação, dirigir. Não tenho vontade nenhuma de sair da casa dos meus pais agora. Tenho uma relação ótima com eles e com o meu irmão. E antes de sair, primeiro, vou me estabelecer financeiramente para conseguir me sustentar sem passar nenhum sufoco”, garante.
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