*Por Iron Ferreira
Continentes distintos, mas Brasil e Itália possuem muito em comum. E vamos falar de pizza! Embora a pizza, por exemplo, seja uma delícia culinária internacionalmente conhecida como “a maravilha italiana”, a cidade de São Paulo é a segunda maior consumidora do mundo. Pois bem. Partindo dessa constatação, a cantora Aramà compôs “Pizza & Guaraná”. Nascida na Itália, a artista sempre teve um grande amor e carinho tanto pelo nosso país, quanto pelo povo e sua cultura. A primeira vez que ela esteve em solo brasileiro foi em 2002, quando desembarcou na Bahia e descobriu a energia contagiante do Olodum. Da mistura de referências e a admiração pelos dois países nasceu a canção, que foi produzida pelo DJ e amigo Boss in Drama, alter-ego de Péricles Martins.
“Sempre tive uma ligação forte com Brasil. Quando fui à Bahia, me apaixonei totalmente pela energia. Eu tinha uma música escrita que se chamava ‘Pizza e Baba’. Em conversa com o Boss in Drama, que produziu a faixa e o meu novo disco, decidimos mudar para guaraná. Foi engraçado, pois pizza é super consumida na Itália e guaraná é genuinamente brasileiro. A conexão foi perfeita. Eu era a pizza e ele o guaraná. A música também fala das ligações que eu possuo com a minha terra natal”, contou Aramà.
As referências se uniram mais uma vez no clipe da música, que foi rodado no bairro do Bixiga, em São Paulo, no restaurante “Cantina C Que Sabe”. Evocando ares dos anos 50, o vídeo, que teve a direção de arte assinada por Italo Matos, mostra uma explosão de cores e sabores, além de apresentar uma versão mais dançante da cantora. “Eu sempre fui fã do estilo pin up. Acho interessante a sensualidade sutil, sem apelação. Primeiramente, a ideia era a de gravar na Sicília, mas, depois, optamos pelo Bixiga como locação. Como a música possui elementos de áudios utilizados nos filmes italianos dos anos 50 e 60, achamos legal inserir a estética”, contou a cantora.
Assista ao clipe!
A faixa é um aperitivo do próximo álbum, “As Luas de Wesak”. Com previsão de lançamento para agosto, o projeto foi construído a partir de diversos estilos musicais, reunindo características de diferentes regiões. Abrigando referências do samba, dos tambores africanos e das canções populares italianas, o disco é multicultural. Outro aspecto interessante que permeia as composições é o feminismo, que ganha força através do seu impacto na sociedade. “O trabalho irá reunir oito faixas que falam sobre o feminino e feminilidade. Abordo temas como o poder da mulher na sociedade e a dificuldade que alguns homens possuem em lidar com isso. Gosto de falar sobre relacionamentos e de como ser mulher é difícil. É um trabalho muito diferente”.
Falando em feminismo, a compositora aproveitou para expressar o quanto admira a luta das mulheres, principalmente a das mulheres negras. De acordo com ela, o racismo aqui é ainda pior do que o presenciado em seu país de origem. Triste, ela foi capaz de nos relatar um momento constrangedor que viveu ao lado de uma amiga, em uma casa de shows na Bahia. “Eu me solidarizo com as mulheres, ainda mais as que são negras. É uma situação que me deixa muito mal, mas acho que o preconceito aqui é ainda pior do que na Itália. É uma nação miscigenada, não era para acontecer isso. É lindo ver um negro de olhos verdes ou um japonês com a pele escura. Deveriam celebrar, não discriminar. Uma vez fui com um namorado e uma amiga negra em um show. Na entrada, ela pagou R$ 15 e, eu, R$ 10. Certeza que o motivo era a cor da pele. Saímos no mesmo momento”.
Mudando um pouco a perspectiva, ela seguiu falando sobre a nossa natureza espirituosa e como a gentileza é uma marca registrada do nosso povo no exterior: “Vocês são muito unidos, isso é lindo! Acho que a gentileza e a boa vontade com que vocês ajudam estrangeiros é uma característica muito forte. Em Milão, por exemplo, as pessoas são frias e não têm tempo para o próximo. O Brasil é país lindo, diverso, que sempre me abriu as portas quando precisei. Sou eternamente grata”.
Fã declarada da cultura nacional, a cantora não poderia deixar de apontar os seus maiores ídolos, que vão desde Elis Regina até Ivete Sangalo. Segundo ela, o lirismo e a poesia contidos nas músicas brasileiras são inigualáveis. A mistura de etnias promove uma riqueza de ritmos e sons que são percebidos, fazendo com que a nossa arte seja valorizada e prestigiada em diversos países. “Elis Regina é uma das maiores artistas, na minha opinião. A filha dela, Maria Rita também é incrível. Sou muito fã da Ivete Sangalo, acho a energia dela fabulosa. Céu, Caetano Veloso, Elza Soares, IZA, Karol Conká, Rincon Sapiência e Gilberto Gil são alguns nomes que não podem faltar na minha playlist”.
Artigos relacionados