Apreensivo. Assim se definiu Nelson Sargento, aos 90 anos, às vésperas de uma série de 10 shows, que vão de Madureira ao Méier, no Rio, a partir de março, em comemoração ao seu quase centenário. Nas apresentações, ele adianta, estarão músicas de sua autoria (“Agoniza mas não morre” e “Berço de bamba”) e de “companheiros como Cartola (1908-1980) e Nelson Cavaquinho (1911-1986)”. Em conversa exclusiva com o bamba, a gente falou, é claro, sobre carnaval, já que ele, como se sabe, é um dos baluartes – ao lado de Jamelão (1913-2008), para citar um – da Estação Primeira de Mangueira. “Eu, por exemplo, não sou contra usar o dinheiro da contravenção do jogo do bicho (em caráter notório, muitos patronos de escolas de samba foram – e alguns ainda são – ligados ao jogo e financiam os trabalhos nos barracões). As escolas de samba precisam de incentivos. Agora, se os recebem de uma instituição proibida já é outra coisa que não tem a ver com samba. Eu sou um bom carnavalesco, não um bom folião. Vejo tudo culturalmente”, afirmou.
Perguntado sobre a chegada de um carnavalesco relativamente novo à Mangueira – ao lado da Portela, marcada pelo tradicionalismo, por ser o berço do samba fluminense -, Leandro Vieira, e pela midiatização da escola com um enredo sobre Maria Bethânia (Cauã Reymond, Caetano Veloso e Marisa Monte desfilaram neste ano), Nelson Sargento disse: “Bom ou não, ganhou né? A renovação, seja ela no futebol, no samba ou na música, é sempre natural. O nosso carnavalesco é um jovem estudioso e descobriu que a Mangueira, quando presta homenagem a um artista, normalmente se ganha o carnaval. Foi campeã com Monteiro Lobato (1882-1948), Chico Buarque e Carlos Drummond de Andrade (1902-1987). Quer um currículo mais rico que esse?”.
Mas já que Nelson relembrou Drummond, queremos saber: que história é essa de cartas trocadas entre vocês? “Ele foi um grande escritor brasileiro e eu tive a oportunidade de receber umas duas cartas dele quando ganhou um disco meu”, respondeu. Papo de quem, no maior estilo carioca da gema boa praça, também disse que ouve a turma sangue novo do batuque bom, porque “é compositor”. E mais: “Nós temos que saber o que está acontecendo em matéria de samba”. Um sábio.
Com direção da atriz Clarice Niskier, a série de shows contará com um bate papo com Nelson Sargento, no qual o compositor contará histórias de vida. Haverá ainda projeção que apresentará ao público duas outras veias menos conhecidas do artista: a de escritor e de pintor – com direito a obra no acervo permanente do Museu de Arte Naif. A produção fica sob responsabilidade de José Maria Braga, a iluminação com Aurélio de Simoni e o cenário com Luis Martins. Ele, aliás, vai ambientar a cena com projeções de frases extraídas dos livros de Nelson Sargento, momentos marcantes de sua vida e também dos multicoloridos quadros pintados pelo compositor.
Abaixo, a agenda completa de Nelson Sargento:
. Dias 4, 5 e 6 de março: Arena Dicró (Penha) – sexta e sábado 20h; domingo 19h
Av. Brás de Pina, s.n, Parque Ary Barroso. Penha (entrada pela Rua Flora Lobo) Tel: (21) 3486-7643 / Capacidade: 338 pessoas sentadas (oito para cadeirantes)
. Dia 1º de abril (6ªf): Arena Jovelina Pérola Negra (Pavuna), às 20h
Praça Ênio, s/nº – Pavuna Tel: (21) 2886-3889 / Capacidade: 308 pessoas sentadas (oito para cadeirantes)
. Dia 09 de abril (sábado): Arena Fernando Torres (Madureira), às 20h
Bernardino de Andrade, 200 Tel: (21) 3495-3078 / Capacidade: 408 pessoas sentadas (oito para cadeirantes)
. Dia 21 de abril (5ªf): Centro Cultural João Nogueira – IMPERATOR, às 20h
Dias da Cruz, 170 – Meier Tel: (21) 2597-3897 / Capacidade: 642 pessoas sentadas
. Dia 29 de maio (domingo): Arena Chacrinha (Pedra de Guaratiba), às 18h
Rua Soldado Elizeu Hipólito, 138 – Guaratiba Tel: (21) 3404-7980 / Capacidade: 330 lugares
[e mais 3 shows com datas a confirmar em breve]
Classificação etária: livre / Duração: 80 min / Ingressos: R$ 30,00 e R$15,00 (meia entrada)
[10% dos lugares serão distribuídos gratuitamente a professores e alunos das escolas públicas próximas]
Artigos relacionados