“As músicas também são forma de resistência e de homenagem a movimentos como ‘Vidas Negras Importam’, diz Marcelo D2


Rapper anuncia live com transmissão nesta sexta-feira (5), com conceito inovador e iluminação em LED, que dá a sensação ao público de estar dentro do show em um estúdio na Jeneusse Arena, na Barra da Tijuca, que está fechado. E com direito a filme pela primeira vez de “amar é para fos fortes”. Além disso, Marcelo D2, fala com exclusividade ao site, sobre a produção na quarentena, sua reinvenção, as apreensões com o momento, amadurecimento, os planos de uma biografia, e também sobre o casamento recente com a produtora Luiza Machado, com quem tem planos de ter mais filhos, além dos seus quatro: “A Luiza tem 32 anos, é 20 anos mais nova que eu e quer filhos. Vai pintar. Ela é uma super companheira. E é produtora, escreve, canta. Sou fã da escrita dela. Temos um projeto musical juntos, ainda em andamento”

*Por Brunna Condini

Ele é movido à arte e ao contato com o público. Tanto, que após algumas transmissões pela plataforma de streaming Twitch, na qual mostrou um pouco da sua intimidade , Marcelo D2 vai fazer sua primeira live, transmitida pelo Multishow, na TV e no canal no YouTube, nesta sexta-feira (dia 5), das 20h às 22h. “Na verdade, vão ser três horas de show. Duas horas no Multishow e uma no meu canal. Vou tocar as músicas da carreira e as recentes. Vai ter Planet Hemp, vai ter “À Procura da Batida Perfeita” e o meu recente trabalho, “Amar é para os fortes”. Além de samba, claro, muito Bezerra da Silva. Vou dar uma sapecada no público, vamos fazer barulho”, promete. E salienta: “Claro que as músicas também são uma forma de resistência, de homenagem a todo esse movimento necessário, como o “Vidas Negras Importam”. Algo que sempre esteve presente na minha trajetória”.

O rapper falou com exclusividade ao site sobre o show chamado a “Festa em Casa com Marcelo D2” e sobre o momento atual, de recolhimento por conta da pandemia da Covid-19. Ele conta que deseja apresentar um novo conceito de live, transmitida em um espaço fora de casa, em um estúdio na Jeneusse Arena, na Barra da Tijuca, que está fechado. Marcelo destaca o conceito: uma iluminação em LED, formando um cubo ao seu redor, que dará ao público de casa a sensação de estar no cenário do show. “Sempre pensei uma maneira nova de levar o público para dentro da live. Tenho me reinventando nesta quarentena. Nosso show está respeitando as regras da Organização Mundial de Saúde (OMS), sem banda, só eu e o cara do vídeo. Montamos um cubo de três paredes de LED, então o povo vai ter a sensação de estar dentro do palco, mas vai estar seguro, em casa”, revela. “Vai ser uma live diferente, tenho muitos vídeos, meu último trabalho, “Amar é para os fortes”, tem muito audiovisual, é um álbum visual, e vou poder usar isso. Vou passar o filme pela primeira vez nesta live. A galera vai poder ouvir e ver a música. É incrível podermos fazer assim”.

“Sempre pensei uma maneira nova de levar o público para dentro da live. E essa vai ser assim, mas o público vai estar seguro dentro de casa” (Divulgação)

O cantor tem se surpreendido com as novas linguagens. “Essas plataformas todas chegaram para ficar. Essas lives serão o futuro. Acho que daqui para frente é isso. Estou me adaptando, curtindo escrever, dirigir, roteirizar. Sempre digo que a procura é mais importante do que achar a batida perfeita. Estou à procura”, analisa. “Essa revolução da internet não tem volta, e a pandemia empurrou todo mundo para o mundo virtual, fomos jogados para dentro”.

Quarentena e Lua de Mel

D2 diz que a vida mudou muito com a quarentena. Ele está na sua casa confinado com a mulher, a produtora Luiza Machado, e confidencia, que como a maioria das pessoas, tem seus altos e baixos dentro do recolhimento. “A quarentena começou a afrouxar agora em um momento em que ainda temos uma curva ascendente na cidade de contágio da Covid-19. Sinto que estão jogando as pessoas para cima do vírus. Temos que nos cuidar e cuidar muito dos nossos. Estou cuidando dos meus, da minha família, da minha equipe”, divide. “Acho que o mundo não vai ser mais o mesmo. Se voltarmos para esse mesmo lugar, vamos voltar para essa realidade, que não está boa, nunca foi”.

Usando o tempo para trabalhar em casa, o músico tem produzido e composto sem parar. “Acabei de fazer um disco para o Planet Hemp, e já escrevi cinco músicas inéditas. E estou começando a escrever samba. Me cobro muito, mas tenho produzido bem. Acho que com a idade, nos cobramos mais, porque é uma sensação de aproveitar o tempo que temos”, diz, Marcelo D2, que está com 52 anos.

“A quarentena começou a afrouxar agora, em um momento em que ainda temos uma curva ascendente na cidade de contágio da Covid-19. Sinto que estão jogando as pessoas para cima do vírus” (Foto: Alex Batista)

Ele entrou de quarentena um pouco antes do isolamento ser recomendado por aqui. “Fiquei com medo, porque meus amigos na Europa já tinham dito que o bicho estava pegando. Deveria ser claro já aqui hoje e ainda não é: quanto mais gente dentro de casa, menos o vírus circula por aí. O negacionismo está matando muita gente”, lamenta. “Tenho sofrido como todo mundo. Tem dia que acordo bem, tem dia que acordo deprimido. Mas tenho quatro filhos, preciso dar força e incentivo para eles. É um momento difícil pra caramba. Todo mundo duro, perdendo emprego, casa, a esperança. Me sinto um cara muito abençoado, nasci na favela, numa casa muito pobre. Hoje moro em uma casa linda, meus filhos fazendo aulas online. Então, sou agradecido, tenho noção dos privilégios. Agradeço. Lutei muito por tudo, nada caiu do céu, mas no momento não posso reclamar de nada”.

Ele se casou dia 12 de fevereiro com Luiza Machado e se recolheu em quarentena no dia 14 de março. Do casamento para a intensa convivência no isolamento, como está? “Está ótimo, ela é uma super companheira”, diz, bem-humorado. “Temos nos respeitado, nos apoiado. O que está deixando todo mundo em pânico é a incerteza. Sabemos que os próximos meses vão ser ruins, mas ainda há muitas indefinições. Então, ter gente que nos ama e apoia por perto, é fundamental”.

Marcelo D2 e Luiza Machado: “Ela é uma super companheira. Temos nos respeitado, nos apoiado” (Acervo pessoal)

Pai de Stephan, de 27 anos, Luca, Lourdes e Maria Joana, e avô de Giovanna, de 4, filha do seu primogênito, o cantor diz que aumentar a prole é certo. “A Luiza tem 32 anos, é 20 anos mais nova que eu e quer filhos. Vai pintar”, revela. E fala com admiração da parceira: “Ela é produtora, escreve, canta. Sou fã da escrita dela. Temos um projeto musical juntos, ainda em andamento”.

O músico em registro com os filhos Stephan, Luca, Lourdes e Maria Joana (Acervo pessoal)

Quem é esse Marcelo D2 que passou dos 50? “Eu era um cara mais briguento, mas vai chegando a sabedoria. Hoje luto com a minha arte”. Está mais calmo? “Estou, sim. Mas é aquela coisa, não pisa no meu calo (risos). É bom ver tudo que eu fiz na vida, ver que estou escrevendo minha história. Não estou a passeio”, reflete. “O ruim, é saber que se for como o meu avô, que viveu até os 104 anos, estou na metade da vida. Gosto de viver, então acho pouco. Sou um cara criativo, gosto de fazer coisas novas. Mas por outro lado, sou um cara bem realizado, grato a tudo que a vida me proporcionou. Ela foi dura no começo comigo, mas me ensinou bastante como viver”.

“Gosto de viver. Sou um cara criativo, gosto de fazer coisas novas. Mas por outro lado, sou um cara bem realizado, grato a tudo que a vida me proporcionou. Ela foi dura no começo comigo, mas me ensinou bastante como viver” (Divulgação)

Algum sonho ainda não realizado? “Ah, tenho, claro. Por exemplo, que o mundo aceite tirar a Cannabis da ilegalidade. Tem o medicinal, e tem o recreativo, e tem um outro lugar de outras drogas. Porque diferente de outras, como álcool, cocaína, é mais suave. Essa ilegalidade só leva a lugares obscuros. Meu sonho é ver ela sair da ilegalidade antes de morrer”.

E deixa escapar um outro projeto, mais a longo prazo: “Lá para os meus 60 anos, vou começar a sentar para escrever minha biografia. Minha vida foi louca desde o início, tenho muita história para contar. De onde vim, o que passei, construí, superei, a trajetória com o Planet Hemp, foram quatro casamentos, quatro filhos, até aqui. Mas isso é assunto para conversarmos mais para frente, em outra entrevista”.