As Bahias e a Cozinha Mineira se apresentam no Circo Voador neste sábado ao lado de Não Recomendados e lançam segundo álbum, “Bixa”


E esta será uma noite da celebração da liberdade, como contou Raquel do grupo As Bahias e a Cozinha Mineira. No palco, a diversidade e a representatividade da mulher negra e transexual dão o tom da festa. “Vai ser um show em que vamos poder mostrar o que somos e quem queremos ser”

O show é neste sábado, 14, e terá participação de Rico Dalasam e Zélia Duncan (Foto: Luiz Signorini)

Pode preparar a purpurina e não é para o Carnaval. A alguns meses da folia, o Circo Voador terá mais uma noite memorável no palco que coleciona momentos históricos. Neste sábado, 14, haverá “Tropical Sound System vol.2” com As Bahias e a Cozinha Mineira e Não Recomendados como atrações. Para potencializar a noite, Rico Dalasam ainda será o convidado para lá especial de um lado e Zélia Duncan do outro. Ou seja, o sábado no Circo Voador será “babadeiro”. Ah, e quem garantiu isso foi uma das estrelas da noite, a Raquel do As Bahias e a Cozinha Mineira. “Estamos preparando um show lindo com todas as nossas músicas e o lançamento do novo álbum, o “Bixa”. Eu tenho certeza que vai ser uma noite muito especial e estamos pensando em todos os detalhes para garantir isso. Já ensaiamos o show e agora estamos escolhendo os figurinos, botas e cabelo para ficar tudo lindo”, contou Raquel.

E esta será uma noite da celebração da liberdade, como contou a cantora do grupo As Bahias e a Cozinha Mineira. No palco, a diversidade e o empoderamento da mulher negra e transexual dão o tom da festa. “Vai ser um show em que vamos poder mostrar o que somos e quem queremos ser. Teremos a chance de mostrar de forma lúdica, feliz e alegre que é possível resistir fazendo boa música”, disse Raquel. Para isso, o local não poderia ser mais significativo. Neste encontro de arte e comportamento, o palco do Circo Voador foi o espaço escolhido para As Bahias lançarem o novo trabalho. “Este é um dos palcos mais importantes que temos. Por lá só passaram artistas geniais. Então, toda vez que pisamos no palco do Circo Voador a gente sente um siricutico no corpo todo, uma mistura de boas vibrações que nos aquece”, explicou a cantora que já se apresentou na casa de shows duas vezes.

O grupo As Bahias e a Cozinha Mineira já se apresentaram no Circo Voador outras duas vezes (Foto: Luiz Signorini)

Se já não bastasse a mistura potente do som empoderado de As Bahias e a Cozinha Mineira com o do Não Recomendados na noite do “Tropical System vol.2”, o show de sábado ainda terá convidados super especiais. Amigo e referência musical e social, Raquel contou que Rico Dalasam foi o nome escolhido para a dobradinha no Circo Voador. “Ele é um fenômeno, além de ser nosso companheiro de vida e parceiro de cena. Na música, ele possui composições políticas incríveis e traz uma força muito interessante por ser o primeiro rapper negro e gay do Brasil. Só essa marca já o faz extremamente potente”, analisou Raquel que fez um paralelo entre os discursos do grupo As Bahias e o de Rico Dalasam. “Nós defendemos bandeiras diferentes, mas temos a consciência de que precisamos andar juntos. Eu sou uma cantora trans e negra e ele é um rapper negro e gay. São desafios diferentes que usam a arte como estratégia comum”, completou.

E tudo isso será também para o lançamento do novo trabalho de As Bahias e a Cozinha Mineira. No Circo Voador, o trio irá estrear seu segundo disco, batizado de “Bixa”. Depois de “Mulher”, em 2015, agora eles mergulham no álbum “Bicho”, de Caetano Veloso, que este ano comemora 40 anos de lançamento, para a nova empreitada. “É um disco feliz e alto astral, mas que não deixa de falar dos problemas. Esse é um trabalho poético, cheio de metáforas, que brinca com os animais e é super dançante”, adiantou Raquel sobre o projeto que foi beber de grandes artistas da música popular brasileira para a construção da sonoridade. Ah, e o nome foi uma versão purpurinada de Caetano Veloso mesmo. “A ideia inicial era até copiar o álbum de 1977. Mas, como viemos do primeiro disco chamado ‘Mulher’, achamos que tinha tudo a ver a gente dar o nosso toque e transformar o bicho em bixa”, lembrou.

A sonoridade e o nome do novo álbum tiveram o disco “Bicho” de Caetano Veloso como referência (Foto: Luiz Signorini)

O que também mudou foi o comportamento musical do grupo. Sem abandonar a essência que os consagrou, Raquel reconheceu a evolução de As Bahias e a Cozinha Mineira desde o lançamento do primeiro álbum há dois anos. Neste tempo, ela, Assucena Assucena e Rafael Acerbi, reforçaram a poesia musical que guia a identidade do trio. “O ‘Bixa’ traz novos sons e texturas sem abandonar o princípio que nos trouxe até aqui. Então, este é um álbum super voltado para a música popular brasileira e vamos ter sempre esta como referência”, explicou a cantora que também destacou a evolução teórica do grupo. “A música é algo que não tem fim. Precisamos sempre estar estudando, redescobrindo e criando novas possibilidades e experimentando novas linguagens”, completou.

No entanto, não é só a música que compõe a identidade de As Bahias e a Cozinha Mineira no cenário artístico nacional. Nos microfones, o trio também usa a voz para levantar a bandeira da diversidade e do empoderamento. Negra e trans, Raquel defendeu a ideia de uma arte militante, que precisa estar presente em qualquer lugar. “Isso é algo natural para mim. Se eu fosse dentista, médica ou qualquer outra profissão também iria militar. Mas, como eu sou cantora, ainda tenho a visibilidade que o meu trabalho traz. Hoje, eu sei que tenho a questão da representatividade, o que é importantíssimo. E, mais que isso, fico muito feliz quando sei que ainda sou referência para algumas pessoas. Eu também sempre me inspirei em artistas negros e é bom eu hoje ocupar essa posição”, comemorou.

As Bahias e a Cozinha Mineira (Foto: Luiz Signorini)

Apesar da alegria, Raquel reconhece que este ainda é um assunto complicado em 2017. Ainda mais no Brasil, o país que mais mata LGBT’s no mundo, defender bandeiras como essas que o trio levanta é motivo de orgulho e coragem. Mas, assim como As Bahias, outros artistas da cena brasileira têm se empoderado e potencializado esse discurso. Neste mês, por exemplo, tivemos aquele que foi considerado o “Rock in Rio mais gay de todos os tempos”, na opinião de Johnny Hooker. Com Pabllo Vittar no Palco Mundo e Linikier no Sunset, a diversidade já é um caminho sem volta na música. Ainda bem! “São muitos desafios que a gente precisa vencer todos os dias. É um trabalho de resiliência, resistência, e potência também”, analisou Raquel que acredita que a liberdade de gênero seja um assunto cada vez mais popular. “Agora só precisamos discutir até a exaustão. Muitas pessoas ainda sofrem e morrem por causa do preconceito e somente o debate vai evoluir o pensamento de nossa sociedade. Precisamos surfar nessa onda da popularidade e fazer com que esse discurso ganhe ainda mais força”, completou Raquel que, depois do show de sábado no Circo Voador, se dedica com os companheiros de As Bahias e a Cozinha Mineira à divulgação do novo álbum. Vem “Bixa”!

Serviço: TROPICAL SOUND SYSTEM VOL. 2

As Bahias e A Cozinha Mineira part.: Rico Dalasam + Não Recomendados part.: Zélia Duncan
E mais: Nicole Nandes
Data: Sábado, dia 14 de outubro de 2017
Local: Circo Voador
Abertura da casa: 22h