Arthur Nogueira lança com exclusividade no site HT o seu novo clipe “Último Romântico” e fala sobre o Pará, Antonio Cicero e mais. Vem!


O poeta, músico, cantor e jornalista faz um passeio sensorial pela Lapa no novo vídeo roteirizado, dirigido e montado por Ava Rocha. Play já!

AN Por Barbara Almeida (3)

(Foto: Barbara Almeida)

Arthur Nogueira tem 28 anos, veio do Pará para sacudir o universo da canção brasileira e, se depender do seu fôlego e do seu talento, não vai deixar tão cedo o posto que ocupa, há algum tempo, de um dos nomes mais interessantes da nova MPB. Parceiro de Antonio Cicero, gravado por Gal Costa e Cida Moreira, dono de quatro discos – os mais recentes “Sem Medo Nem Esperança”, no ano passado, e, no forno, “Presente (Antonio Cicero 70)”, dedicado à obra do poeta e letrista Antonio Cícero, ambos lançados pela Joia Moderna – e, agora, vai fazer ainda mais barulho. O motivo? O lançamento de seu novo clipe, “Último Romântico”, gravado no Rio, na Lapa, no qual ele vagueia em busca do amor e termina com um beijão no ator Lucas Weglinski de deixar Caio Blat e Ricardo Pereira tímidos. Tudo sob a direção forte e autoral de Ava Rocha, sua parceira dos tempos em que morou na cidade.

“Gravamos o clipe em uma madrugada, de virada. Fui para o Rio, nos encontramos em Copacabana e, por volta de duas da manhã, começamos a filmar na Lapa. Voltei para São Paulo quando o sol nasceu. Eu não conhecia o Lucas Weglinski, que contracenou comigo, e esse encontro foi muito especial. Quando vi as imagens, me emocionei com a naturalidade com que a gente se entregou à história toda. Uma coisa marcante foi que algumas pessoas que passavam por lá interagiam com a gente, algumas eram simpáticas, outras até violentas. No clipe, tem uma cena em que a Ava mostra a reação de um cara que estava por lá e não compreendeu muito bem o que a gente estava fazendo. Sempre tive o sonho de realizar um videoclipe com direção dela. Ava é uma das artistas mais de verdade que eu já vi”, contou Arthur, em papo exclusivo com o site HT.

Na conversa, aliás, além de falar do clipe que a gente mostra em primeira mão por aqui, falamos de poesia, de Antonio Cicero, da importância da música paraense no caldeirão da MPB, os tempos da faculdade de jornalismo antes de se entregar à música, política, cidades e muito mais.

Site Heloisa Tolipan: Quem é Arthur Nogueira?
Arthur Nogueira: Digamos que há vinte e oito anos eu tento descobrir. Talvez essa busca seja o que me move a compor e cantar. No encarte do disco novo ,“Presente (Antonio Cicero 70)”, incluí o trecho de um poema de Hölderlin que funciona como um amuleto nesse caminho de descobertas. O poema se chama “Coragem de poeta”, expressão que tenho tatuada no braço, e diz (em tradução de Walter Benjamin): “Caminha então desarmado / através da vida e nada temas.”

HT: Como foi que um dos maiores artistas da nova geração foi parar na faculdade de jornalismo? O que aproveitou das aulas na sua vida?
AN: O jornalismo foi uma escolha anterior à carreira artística. Eu me interessei por música e poesia desde cedo, mas só entendi que também poderiam ser a minha profissão quando já estava na universidade. Durante o curso, estagiei em uma rádio e foi uma experiência incrível. Quando vim para São Paulo, trabalhei com a Patricia Palumbo e aprendi muito, não só sobre rádio, mas também sobre o mercado da música e sobre como as coisas se configuram por aqui. Gosto de estudar, seja música, poesia, filosofia, outras línguas. Às vezes até penso em prestar vestibular outra vez, para História ou Filosofia. A Hannah Arendt dizia ter a necessidade de compreender. Eu me identifico com isso.

AN Por Barbara Almeida (2)

(Foto: Barbara Almeida)

HT: O Pará demorou a ter sua música reconhecida e fazer despertar o interesse do sul. É um caminho sem volta? Que avaliação faz da cena contemporânea em Belém?
AN: Sim, é um caminho sem volta, porque o Pará não é uma modinha. O Pará é um lugar sui generis e nossa exuberância é fundamental para a cultura brasileira. Sempre foi assim, mas o reconhecimento da mídia nacional foi bacana para acabar com velhos preconceitos. Musicalmente, eu não vejo o meu Estado desconectado do resto do Brasil, senão corre o risco de virar uma caricatura. Acompanho tudo o que é produzido hoje e ouço um clássico como “Nativo”, disco do Paulo André Barata, com a mesma empolgação que ouço o “Matita-Perê”, do Tom Jobim.

HT: O que você tem de Belém, onde nasceu, Rio onde viveu por um tempo, e São Paulo, onde reside atualmente? De que forma cada cidade dessa mudou sua percepção musical e da vida?
AN: Belém está em tudo o que faço, porque é o meu lugar, sou eu. No disco “Sem Medo Nem Esperança” fiz uma canção sobre isso, chamada “Guamá”. Quando decidi sair de Belém, foi somente porque buscava mais possibilidades para a minha música. Quis ir primeiro para o Rio, pela beleza e pelas canções. Minha experiência por lá foi curta, mas transformadora. Foi o meu primeiro contato com o mundo, digamos assim. Tive de aprender a me virar sozinho, em todos os aspectos. Musicalmente, isso se refletiu em uma maior proximidade com o violão. Eu precisava tocar, caso contrário não poderia apresentar as minhas músicas sem o background de meus amigos e parceiros musicais de Belém. Quando cheguei a São Paulo, mudei o meu olhar. O Rio é um lugar exuberante, mas tem horas que aquela beleza toda não satisfaz. Em São Paulo, a beleza não é fácil, é preciso apurar o olhar para percebê-la. São Paulo ensina a olhar para dentro.

HT:  Seu disco lançado em 2015, “Sem Medo Nem Esperança” profetizou um pouco os tempos que vivemos atualmente, se olharmos para a economia e para política. De que forma avalia o atual governo interino e o que espera que vai acontecer com o país?
AN: Eu nem me dou ao trabalho de avaliar, porque não tem legitimidade. É um governo de corruptos notórios, que tomaram o poder de forma nebulosa e, ainda por cima, manobrando para barrar a maior investigação contra corrupção já realizada no Brasil. Tenho muitas críticas, mas defendo a legalidade do governo de Dilma Rousseff. Pessoalmente, admiro sua história e sua coragem. Espero que ela volte e que a democracia se fortaleça.

HT: Você é considerado um dos maiores poetas da nova geração brasileira. O que é poesia para você?
AN: Que responsabilidade, obrigado! Eu não me considero poeta, porque o bom poema é aquele que vale por si e tudo o que escrevo é para fazer parte de uma obra, no caso, uma canção. Essa pergunta, “o que é poesia?”, atravessa os anos sem ter uma resposta definitiva. Você experimenta o que é poesia no momento em que lê um poema. Eu gosto daquela famosa frase do Oswald de Andrade: “aprendi com meu filho de dez anos que a poesia é a descoberta das coisas que eu nunca vi.”

HT: Quando descobriu Antonio Cicero? De que forma vocês se aproximaram e como tem sido todos estes projetos que giram em torno do nome dele?
AN: Por volta dos 13 anos, descobri e me encantei com os poetas do livro que também são letristas. Minha identificação com a poesia do Cicero foi imediata. Pessoalmente, a gente se conheceu em 2004, quando ele foi a Belém para lançar “A Cidade e os Livros” e participar de um evento sobre filosofia no Instituto de Artes do Pará (IAP). Eu tinha 16 anos, era o mais jovem da plateia. Cicero achou curioso eu estar ali e trocamos e-mails. A gente se correspondeu durante um tempo, depois musiquei um de seus poemas, “Onda”, que agora gravei. Daí por diante, nos tornamos amigos. Organizei um livro com suas entrevistas em 2013 e fizemos algumas apresentações juntos, de poesia e música. Todos os projetos decorrem de nossa amizade, que para mim é a coisa mais valiosa.

(Foto: Barbara Almeida)

(Foto: Barbara Almeida)

HT: Por que escolheram o “Último Romântico” pra esse clipe?
AN: Porque ficamos felizes com o resultado dessa faixa e porque, apesar de ter sido composta em 1984, é uma canção extremamente atual. O roteiro que a Ava criou destaca o quanto essa música é um manifesto da liberdade. Infelizmente, ainda tem muita gente que ignora que a vida é uma só, aqui e agora, e que é melhor amar, seja lá quem e como for. Como diz o próprio Cicero, não sabemos como seria um mundo realmente livre, em que as pessoas não fossem pressionadas a se conformar desde crianças, mas o artista deve preservar essa utopia. É preciso que haja no mundo “alguma coisa que não se guie por consideração alguma de utilidade, e essa coisa se chama arte”.

HT: Você é um cara que se relaciona com bastante gente, trabalha, troca, e tem essa cabeça coletiva. De que forma escolhe quem se aproxima? Quem são seus parceiros mais frequentes e com quem não trabalhou ainda que gostaria de trabalhar?
AN: É natural, ou você se identifica ou não se identifica com alguém. Quando rola a química, o resto vem naturalmente. Não posso trabalhar com quem não admiro. Cicero é o meu parceiro mais frequente, nem tanto em números, porque não fazemos uma canção por mês, o que seria uma absurdo, mas pela troca de experiências, pelas conversas que me inspiram e fazem a minha cabeça. A gente se fala quase todos os dias. Uma pessoa com quem tenho muita vontade de compor é o Lirinha. Os discos dele talvez tenham sido os que mais ouvir aqui em São Paulo. Sou muito fã.

Capa do novo álbum de Arthur Nogueira lançado pela Joia Moderna "Presente (Antonio Cicero 70)"

Capa do novo álbum de Arthur Nogueira lançado pela Joia Moderna “Presente (Antonio Cicero 70)”

HT: Próximos projetos?
AN: Eu tinha acabado de lançar o “Sem Medo Nem Esperança” quando aceitei o convite do Zé Pedro para gravar esse disco em homenagem ao Cicero. Então agora pretendo ficar algum tempo longe de estúdio. Quero voltar a compor e circular por aí. Surgiu o convite para fazer um show de voz e violão em São Paulo e estou avaliando a possibilidade de viajar com esse formato pelo exterior e por algumas cidades do Brasil.