Após perder o pai para Covid, nascimento da filha renova Jorge Vercillo e inspira álbum contra preconceitos raciais

Jorge Vercillo lançou clipe da música ‘Endereço’, na qual exalta a beleza negra (Foto: Douglas Jacó)

* Por Carlos Lima Costa

Jorge Vercillo levanta a voz contra o preconceito ao falar de seu mais recente single, Endereço, que acaba de ter seu clipe lançado. Nele, além de abordar a eterna busca do encontro com o amor, o cantor e compositor faz uma ode à beleza negra. “A minha música sempre foi essencialmente negra. Ela provém do jazz, do reggae, do ijexá, do blues, da soul music, do samba… Então, é uma forma de exaltar toda admiração e respeito que tenho pela pele preta, e ressaltar o quanto me inspira. É bom que, hoje, a questão do preconceito esteja sendo discutida de forma mais enfática, porque por mais preocupado que a gente esteja com o outro, às vezes não temos noção do quanto determinada ação pode causar dor”, aponta. Endereço integra o álbum Raça Menina, homônimo a faixa inspirada na filha Luiza, de um ano, que nasceu após o cantor perder o pai vítima da Covid contraída em um hospital onde estava internado para tratar de outro problema de saúde.

No clipe, Jorge se imagina conduzindo um passageiro ao encontro da pessoa amada. E aqui reflete para onde gostaria de ser levado caso estivesse no banco traseiro de um carro. “Ah, se um motorista pudesse me conduzir a um sonho, creio que seria para um momento de muita paz e amor ao lado dos meus filhos, Vini, Victor (os dois de casamento anterior) e Luiza, e com minha esposa, Martha (Suarez) em uma praia paradisíaca, em que pudéssemos ficar por alguns dias celebrando a felicidade que eles me trazem. Para o sonho ficar ainda mais perfeito, o local poderia ter uma cachoeira e muita natureza, que também adoro e me ajudam a relaxar. Tenho relação muito próxima com os elementos da natureza e com os orixás. Sempre que posso estou abraçando uma árvore, compartilhando daquela energia”, conta Jorge que de certa forma já ajudou a realizar um sonho de amor.

Jorge conta que foi um dos cupidos do romance entre Paolla Oliveira e Diogo Nogueira (Foto: Douglas Jacó)

Ele contribuiu para unir a atriz Paolla Oliveira com o cantor Diogo Nogueira. “Fui apenas um dos cupidos. O Mumuzinho fez todo o trabalho final ao realizar uma chamada de vídeo para eles, mas fui eu que toquei no nome do Diogo com a Paolla e vice-versa. Na verdade, já existia uma química ali e nós fizemos apenas a ponte e torcemos. Fico muito feliz cada vez que os vejo juntos. Juntar esses dois amigos foi um dos pontos altos de 2021 pra mim”, conta ele.

Em pleno isolamento social, Vercillo viu nascer também outro amor: a filha, Luiza, em outubro de 2020. “Por conta da pandemia tenho podido estar mais com ela do que estaria se estivesse na estrada como era antes do surgimento da Covid-19. Criar uma menina é realmente diferente de tudo que eu fiz até agora com os meninos. Mas conto muito com a Martha, que é uma ótima mãe. Estamos nos cuidando e fazendo o máximo possível para deixar todo mundo seguro”, ressalta.

Compor e criar a filha foram os pontos de luz no meio do caos sanitário. Inclusive, a primeira música lançada de seu mais recente disco, Raça Menina, homônima ao nome do álbum, é uma homenagem à caçula. “É uma canção que fala sobre o quanto é encantador ser pai de uma menina. Em um momento no qual estamos perdendo tanto dos nossos, olhar para a Luiza e todas as suas descobertas é algo mágico e que me dá inspiração para compor músicas novas. Como eu sempre falo, a arte salva vidas. Nesse período, de alguma forma, todo mundo passou por um processo de transformação. Se for para sobreviver, que seja para transformar a mim e tudo à minha volta para melhor”, aponta, lembrando que teve perdas na família.

Família reunida: Martha Suarez, a filha, Luiza, e o marido, Jorge Vercillo (Foto: Reprodução Instagram)

“Perdi o meu pai, que tinha mais de 90 anos, e também sofri com a morte do avô da minha esposa. Ambos se contaminaram com a Covid-19 dentro dos hospitais onde foram internados por outros problemas. Isso aconteceu mais no início da pandemia. Inclusive, fizemos um alerta nas nossas redes sociais, sobre o alto nível de contaminação desse vírus e a importância de estarmos atentos na hora de cuidarmos dos nossos idosos. Agora estamos torcendo para que a variante ômicron, realmente seja mais suave. As vacinas já vêm mostrando resultados”, observa. 

Enquanto vai se encantando com as descobertas da caçula, Luiza, os olhos brilham também ao falar do primogênito. Com nome artístico de Vini Vercillo, ele já segue a carreira do pai. Este ano, vai lançar Somos Nós, seu primeiro álbum. “É um trabalho que está ficando muito bom. Falo isso repetidamente para ele, porque gosto realmente das músicas, melodias e letras. O Vini compõe muito parecido comigo, cria primeiro as melodias. Artisticamente, está muito amadurecido. O mais incrível é observar seu talento musical. Torço para que esteja sempre aberto para aprender e evoluir. Mesmo quando temos uma longa carreira, nunca devemos parar de aprender”, opina ele, cujo filho do meio, Victor toca bateria, mas até agora não planeja ser músico profissional.

“O Vini compõe muito parecido comigo”, afirma Jorge Vercillo sobre o filho que segue seus passos como cantor e compositor (Foto: Reprodução Instagram)

E volta a falar sobre a pandemia para pontuar a forma como a classe artística tem sido afetada. “Fico preocupado e pasmo de como não temos nenhuma liderança nem representatividade. Por exemplo, só nesse mês de janeiro, seis shows meus foram desmarcados por conta de instabilidades. Na maioria das vezes é compreensível, mas não faz sentido a gente estar aí com todos os restaurantes e botequins abertos, o pessoal bebendo sem máscara, os voos e transportes públicos lotados e só os shows e profissionais da cultura não poderem trabalhar. E todos precisam de cultura para ter mais saúde mental e emocional”, frisa. 

E, em meio a um país extremamente polarizado politicamente, Vercillo diz que o Brasil está desalinhado no seu Yin e no seu Yang, que as energias estão desequilibradas. “Essa polarização política vai muito além do Lula e do (Jair) Bolsonaro. Sinceramente, gostaria de ver em 2023 outro candidato que esteja longe dessa polarização de esquerda ou direita. É triste ver amigos e familiares se dividindo e se magoando por causa de um sistema político corrupto e atrasado. Esses dois nomes da política são lados opostos de uma moeda que não serve mais. A pauta mais importante no momento é a da preservação da vida e a causa ambiental”, aponta ele, que nessa fase está focado na atual música de trabalho.

“É triste ver amigos e familiares se dividindo e se magoando por causa de um sistema político corrupto e atrasado”, garante Jorge Vercillo (Foto: Douglas Jacó)

“A gente sempre deseja que as músicas novas ocupem o mesmo tamanho de hits como Que Nem Maré, Homem Aranha, Final Feliz, Monalisa. Endereço é um R&B, um soul music que conquistou meus ouvidos logo no início e tem conquistado muita gente. Acho que vai ser mais uma música importante na minha carreira. Ela traz uma junção de cinco compositores de gerações diferentes, o que é algo novo na minha caminhada. Todas as músicas refletem a minha alma, são a minha verdade. Isso é importante”, assegura ele, que gravou o clipe no Portal do Humaitá, em Salvador.

Vercillo, inclusive, participou da criação do roteiro do vídeo, dirigido por Marcello Brito. “Esse disco tem um flerte maior com a eletrônica, então, eu mandei essa música para alguns produtores como o Lourival Rodrigues, lá em Miami, o Rafinha RSQ, que é um hitmaker e produtor, enfim, as participações são várias, principalmente com os artistas novos, que eu estou sempre me envolvendo. Aliás, Endereço é composta pelo Rafinha, por mim, pelo Bruno Sucesso e por mais dois compositores da nova geração que gravam com todo mundo, do popular ao samba, ao pop. É bacana essa interação. Eu me sinto renovando a minha linguagem, sempre contemporânea moderna”, explica e no disco, além do eletrônico e do pop, mostro ritmos como o reggaeton, o afrobeat, o R&B e o trap. 

Do novo álbum, após a faixa título, Vercillo lançou Sobrenome Amor, com participação de Cassiano Andrade, que transmite mensagem de paz, amor e união; depois disponibilizou Tempestade, com participação de Júnior Meirelles, ex-The Voice Brasil; e uma versão de Luz do Sol, de Caetano Veloso. Tudo vem sendo lançado com exclusividade no Clube Jorge Vercillo, dentro da plataforma Famosos.com. Ao longo do primeiro semestre desse ano, todas vão chegar aos demais streamings.