Um recruta-compositor que se deu bem ao deixar o repertório ser decidido por outros músicos. Assim se define Hamilton Vaz Pereira em entrevista exclusiva ao HT antes de subir ao palco do Teatro de Arena do Espaço Sesc com o espetáculo “Somos duros com a plateia” nesta terça-feira (02) e quarta-feira. Os “outros músicos” a quais ele se refere é o Exército de Bebês grupo formado por Iuri Brito (filho de Hamilton com a atriz Lena Brito), Guilherme Lírio, Thomas Jagoda e Pedro Fonte. Funcionará assim: como Hamilton já contabiliza 80 canções compostas com parceiros como Evandro Mesquita, Frejat, Zé Renato e Fausto Fawcett para espetáculos teatrais produzidos em seus mais de 40 anos de carreira, decidiu optar por 20 nesse show. “Eu gravei, voz e violão, cerca de 30 canções e pedi ao Exército de Bebês que escolhesse as suas prediletas, as que soariam melhor nos seus arranjos”, explica.
Além do “Exército”, o show conta com duas canjas especialíssimas. Hoje, Jorge Mautner participa do show e amanhã a convidada é a atriz Camila Pitanga. “A Camila estreou no teatro em dois espetáculos dirigidos por mim: como a bela Afrodite, da peça ‘A Ira de Aquiles’, e depois como Penélope na montagem de ‘Odisséia’. Desde Homero todo mundo sabe que Camila é deusa imortal e uma das mulheres mais lindas do mundo. Soube que Camila estava fazendo aulas de canto e resolvi convidá-la para o show. Ela é quem vai escolher as canções que quer cantar, dentre as 20 que selecionamos”, diz Hamilton que, aliás, posou ao lado dela com exclusividade para HT, durante ensaio com a atriz. Já no caso de Mautner, Hamilton conta que “cola” nele desde 1980, quando ele escreveu um texto-elogio ao espetáculo “Aquela Coisa Toda” do Asdrúbal Trouxe o Trombone.
“De lá para cá, quando o vejo pelo Leblon me aproximo para ouvi-lo sobre qualquer coisa. Trabalhamos em ‘Deus É Química’, de Fernanda Torres e, recentemente, o poeta tornou-se parceiro de Iuri, meu filho, em composição que será apresentada no show”, revela. No repertório das duas únicas apresentações, canções como “Aquela vontade de rir”, gravada por Lulu Santos; “Pegadas Frescas”, gravada por Zé Renato; “Íntegro delírio”, composta com Fausto Fawcett, além de um tema que fez parte da inesquecível montagem de “A Farra da Terra”, do Asdrúbal Trouxe o Trombone, chamado “Essas Pessoas”. Mas não sem antes bater um papo ligeiro com HT. Aos fatos.
HT: Existe algo, uma linha que ligue as suas composições de alguma maneira? Se sim, que linha seria essa?
HVP: Do ponto de vista das letras, temas e versos, notei durante os ensaios que elas falam de solidão que não é abandono; de mulheres belas e fortes; das pessoas que se encrencam durante o dia, mas que de noite constelam; de notícias que não fazem barulho, etc. Do lado das melodias, harmonias e ritmos, são canções de aprendiz que rendem homenagem a Beatles, Stones, Gil, Caetano, Benjor, Marley e Nelson do Cavaquinho.
HT: Porque batizar o espetáculo de “Somos Duros Com a Plateia”?
HPV: Independente das canções serem caprichosas, do Exército de Bebês ter feito arranjos inspirados, do cantor ter certo charme, dos convidados serem um luxo só, vai ser duríssimo para a plateia assistir um show com um repertorio desconhecido. Não vamos cantar “Satisfaction”, “Leãozinho” ou “Folhas Secas”. Não quero ser cruel, mas o nosso espectador deve ter olhos ousados, ouvidos corajosos e coraçãozinho valente, pois o que temos são pedradas sonoras. No entanto, quem não for muito fofo vai sobreviver e vislumbrar
HT: Escrever, dirigir, atuar ou cantar? Por que?
HPV: Porque é bom para o espírito, anima a vontade de viver de qualquer pessoa. Música, teatro, literatura, esse tipo de atividade, para quem faz e assiste, existe para que a vida real não acabe com a gente.
HT: De que forma você enxerga o alcance dos editais de cultura para o teatro brasileiro. Geralmente são os mesmos nomes, concentrados nos grande centros…
HPV: Pela primeira vez, em 40 anos, estou sem realizar espetáculo em três temporadas seguidas. Entro nos tais editais e nada. Sem mágoa, estamos aí. Mas é duro ver jovens e anônimos artistas querendo transbordar vida do palco para suas cidades e encontrando tanta lama. Assim como é vergonhosa a encrenca que o Brasil impõe ao teatro de José Celso Martinez Corrêa (um dos principais diretores, atores, dramaturgos e encenadores do Brasil).
HT: O que ainda quer muito fazer, profissionalmente?
HPV: Criar e realizar espetáculos, compor e cantar canções, publicar minha dramaturgia, ser parceiro de criadores que admiro, frequentar o mundo da TV e do cinema, transbordar paz e saúde, pousar amizade no colo das pessoas; enfim, fazer o que faço: coisas simples.
Serviço
“Somos duros com a plateia” – As canções de Hamilton Vaz Pereira
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