*Por Rafael Moura
“Quando eu lançar um pulsar/ sobre o arco solar/ segura forte minha mão e diz que tudo passa/ Que o tempo passa aqui e agora
Quando morre estrela em mim/ e um buraco entre nós/ nenhuma luz de mim escapa
Eu fico à deriva esperando você me resgatar”
O cantor e compositor pernambucano André Mussalem lançou nas principais plataformas digitais o EP ‘Distopia – Estado de Emergência’, o segundo da trilogia Distopia, que conta com quatro faixas autorais, ‘Cinema, Democracia e Cartões Postais’, um duo com Zé Manoel, e ‘Transtorno de Ansiedade Generalizado’, ‘Brasil, 17 de Março de 2020’, samba inspirado na canção ‘Meu Caro Amigo’, de Chico Buarque e Francis Hime, e a faixa ‘Sobre a Importância dos Artistas’, que contou com a produção de Rafael Marques e participação da artista Isadora Melo. O projeto teve início em janeiro, com o EP ‘Distopia – A Vida Segue’.
André conta que Distopia é uma obra feita à quatro mãos com Rafael Marques que tem arranjado para artistas do quilate de Zé Manoel. Ele escolhe temas influenciado pela Literatura ou Cinema e inicia o processo de construção da canção. “Eu sempre converso com o Rafa sobre as referências, ouvimos canções novas e velhas que outros compositores lançaram e definimos como essa música aparecerá para o mundo. No começo, era na casa de Rafael e tomando um café. Hoje é remotamente e bebendo algo mais forte pra poder aguentar esse rojão”, revela.
A valsa intitulada ‘Cinema, Democracia e Cartões Postais’ abre o EP e faz alusão ao momento que a humanidade vive. Com participação especial de seu conterrâneo Zé Manoel (piano e voz), a faixa narra simultaneamente o momento presente (de pandemia) e um futuro distópico em que perdemos elementos da vida que apesar de parecerem cotidiano nos fazem muita falta. “Há muito tempo quero fazer uma parceria com o Zé. Depois que a música já estava finalizada, ouvi ‘História Antiga’ do Zé e achei que nossas composições falavam sobre temáticas parecidas. Então, o chamei para cantar comigo e ele prontamente aceitou”, relembra Mussalém. Os músicos Alexandre Rodrigues (sopros) e Rafael Marques (bandolim, viola e arranjos) participam da canção.
O músico revela que o período de isolamento social está inserido no processo criativo desse EP, pois a maior parte das músicas de “Distopia 02“. As faixas já falavam sobre temas que se tornaram evidentes nesse processo tenebroso de doença e do negacionismo de tantos políticos. “O link está evidente com o mundo atual como é o caso de ‘Brasil 17, de Março de 2020‘”.
Mussalem conta que a arte sempre acompanhou as manifestações sociais e neste momento não poderia ser diferente. E ele disse a seguinte frase recentemente à Veja: “O papel da arte é subverter os momentos difíceis. É um exercício diário de adequação para não ficar panfletário. Como diz Maria Bethânia ‘música é perfume’, a atração por um uma boa canção é imediata, como o cheiro de algo bom”. Manifestações por meio da arte precisam ter tato e, ao mesmo tempo, criar uma fragrância atrativa que lhe pegue o público de imediato e gere identificação. “Se você é vocacionado para a atividade política, isso vai repercutir inevitavelmente na sua música”, frisa.
André Mussalem começou a compor aos 16 anos e, desde então, se dedica a estudar o processo de formação do povo brasileiro por meio da música. “No Morro da Minha Cabeça”, seu primeiro registro fonográfico foi lançado em 2016, e “Pólis”, segundo álbum, em 2018. Este último traz a faixa “Maré”, uma celebração a vida e a obra de Marielle Franco.
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