Há exatamente um ano, Alice Caymmi se apresentava no Oi Futuro Ipanema com um repertório baseado no disco “Rainha dos Raios” e, em entrevista exclusiva ao HT após o show, comentou: “Eu gosto de mudar completamente, em qualquer aspecto da minha vida. Adoro mudanças bruscas, rápidas e fortes”. E o que o público presenciou na noite de ontem no Circo Voador, enquanto a cantora subia ao palco ao som de “Iansã”, ao mesmo tempo em que uma tempestade torrencial tomava conta da cidade lá fora, foi mais uma fase da evolução pela qual Alice tem passado ao longo desse ano.
Apesar de este ser o mesmo espetáculo que estreou na Sala Cecília Meirelles, em julho deste ano, as mudanças trazidas por Alice ao adaptar o show para a lona da Lapa deram um gosto completamente diferente ao show. Ao invés de observarem a cantora se movimentar pelo palco com passos marcados e coreografia meticulosa, o clima de conexão que o local gera entre fãs e público deu margem à veia cômica da artista, que, com seu background de Artes Cênicas, fez quase um stand-up comedy à parte, respondendo aos gritos de “Linda! Gostosa! Casa comigo?!” com bom humor e piadas afiadas. “É para casar com separação de bens? Aposto que não tem nada!”, brincou com um fã.
Alice subiu ao palco com um trench coat de vinil preto, ankle boots pretas, chapéu coco e um vestido destroyed que a transformaram quase em uma bruxinha sexy e misteriosa. Obra do styling certeiro de Felipe Veloso. Mas, como o negócio da artista é mudar, não demorou muito para ela aparecer apenas de vestido, com os cabelos soltos e os pés descalços, rebolando e demonstrando uma energia incomparável no palco, enquanto os fãs na plateia continuavam com as declarações em voz alta, cada vez mais fervorosas.
A mudança também percorreu a setlist: enquanto manteve queridinhas do público como os covers de “Bang bang” (Frank Sinatra), “I feel love” (Donna Summer) e “Joga fora” (Sandra de Sá), assim como “Princesa”, “Como vês” e “Meu mundo caiu”, do álbum que dá nome à turnê, Alice inseriu momentos inéditos para o público carioca, como um mash-up de “Meu Recado” e “Me dê motivo” (Tim Maia), uma versão sexy de “Be my husband”, clássico de Nina Simone e uma passagem lisérgica no palco, em que a cantora pegou uma guitarra e evocou “Black dog”, do Led Zeppelin, em uma performance sincronizada com a banda, que incendiou o Circo com cordas distorcidas e a bateria frenética.
A noite também teve espaço para um momento emocionante que deixou a artista com os olhos marejados e a voz embargada: ao cantar “Always on my mind”, de Elvis Presley, uma imagem de Dorival Caymmi, avô de Alice e um dos maiores mestres da MPB, surgiu no telão e, ao se virar para cantar na direção da foto, dava para sentir que cada sílaba entoada vinha de um lugar sentimental para a cantora. Na plateia, sua mãe, Simone Caymmi, tirava fotos da filha, orgulhosa e sorridente. “Às vezes dá muita saudade, cara”, comentou a estrela, ao final da apresentação.
Alice Caymmi canta “Always on my mind” em homenagem a Dorival Caymmi
“Eu estava ensaiando essa música, um dia, e tive um insight de que eu sempre pensava nele quando a apresentava. Sei que algumas pessoas não entenderam, mas eu adoro fazer essa maluquice de conectar referências. E acho muito melhor homenagear meu avô com essa canção do que com alguma dele, o que seria muito óbvio, né?”, comentou Alice com HT no backstage do Circo, logo após o show. Por lá, ela recebeu ainda os abraços de amigas como Emanuelle Araújo, que saiu emocionada, comentando: “É lindo ver o nosso bebê crescendo!”, e Nathália Dill, amiga da cantora desde a época da faculdade de teatro, que também saiu extasiada com a performance, que toda a versatilidade de uma artista que , a cada mudança, consegue surpreender e encantar ainda mais o público.
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