*Por Simone Gondim
Para Alcione, 2020 vai ficar marcado não apenas pela pandemia, mas também pela realização de dois projetos: o lançamento de “Tijolo por tijolo”, primeiro álbum de inéditas em sete anos, e a abertura do bar que leva seu nome, no Rio de Janeiro. Aos 73 anos, a dona de uma das vozes mais potentes do Brasil não se cala quando o assunto é linchamento virtual e cultura do cancelamento. “Em todo lugar tem gente abusada, mas não estou nem aí. Falo o que penso, na hora que acho que devo”, garante. “Quem não quiser ouvir não entre nas minhas redes sociais”, avisa.
Orgulhosa dos quase 50 anos de carreira, a Marrom jamais se intimidou diante do preconceito. Como mulher, negra e nordestina, não faltaram episódios de discriminação ao longo da vida. “Aprendemos desde cedo, com meu pai, que não deveríamos nos curvar a ninguém, que não tínhamos marcas de chicote nas costas. Preconceito existe sim, infelizmente, mas sempre procurei me posicionar, me fazer respeitar”, enfatiza.
Quarta de nove filhos, Alcione deixou sua cidade natal, São Luís do Maranhão, em 1967, quando veio para o Rio de Janeiro, a fim de investir na carreira artística. O nome do novo disco, “Tijolo por tijolo”, remete ao modo como ela traçou seu caminho na música. “Nada cai do céu, a gente tem que enfrentar as barreiras e seguir em frente. Sempre quis ser cantora, sabia do meu dom. Tive momentos difíceis, como todo mundo, mas sempre acreditei que poderia construir uma carreira”, conta.
Por conta dos riscos relacionados à Covid-19, a Marrom precisou mudar os planos de fazer uma turnê de lançamento do álbum, além de adiar a produção de um musical, idealizado por Jô Santana, que teria texto e direção de Miguel Falabella. “O musical está sendo articulado, enquanto as músicas novas já estão nas plataformas digitais e o álbum pode ser comprado pelo site da gravadora Biscoito Fino”, explica. “Os compositores, os fãs, todos me pediam um disco de inéditas. Estou muito feliz com o resultado, as canções caíram no gosto do público”, comemora.
O período de distanciamento social não chegou a ser um problema para Alcione. Antes da pandemia, apesar de ter um lado bastante caseiro, ela passava um bom tempo viajando, por conta dos compromissos profissionais. “Gosto de ficar em casa, mas também sinto falta de bater perna. Agora, com o lançamento do meu bar, estou mais saidinha”, confessa. “Mas me cuidando”, acrescenta.
Batizado de “Bar da Alcione, a Casa da Marrom”, o empreendimento abriu as portas para o público em 17 de novembro e tem o cardápio assinado pela premiada chef Kátia Barbosa. Hábil na cozinha, a cantora assume que deu seus palpites na escolha da comida. “Tem muitos pratos e petiscos inspirados na cozinha maranhense”, revela. “Mas a Kátia é uma craque, meus pedidos foram para acrescentar uma coisinha aqui e outra ali, nada demais”, admite.
Na decoração do bar, não faltam banners, letras de sucessos, fotos de Alcione sozinha e registros com amigos. Em relação à programação, a ideia é oferecer atrações musicais diárias, entre novos talentos e nomes já consagrados. Quem abriu os trabalhos, claro, foi a Marrom, em 19 de novembro. “Foi maravilhoso encontrar novamente o meu público. Estava morrendo de saudades do palco”, afirma.
As lives, definitivamente, são coisa do passado, embora tenham funcionado como uma boa alternativa no auge do distanciamento social. “Não pretendo fazer mais lives tão cedo, agora que posso subir ao palco com a presença do público”, diz a Marrom. Ainda que o isolamento tenha acabado, os cuidados com a saúde permanecem. “Os shows respeitam, logicamente, os protocolos dos órgãos sanitários”, ressalta.
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