“Agora, ou eles me mandam o passaporte americano ou o Green Card”, brinca MC João sobre “Baile de favela” nos EUA


Trancado em um estúdio de gravação em São Paulo, MC João viu seu hit “Baile de favela” ganhar de novo a internet ao ir parar em uma festa de rua na Filadélfia, nos Estados Unidos, comemorando a virada do democrata Joe Biden nas urnas do estado da Pensilvânia, em meio à contagem de votos para decidir quem passará os próximos quatro anos na Casa Branca. “O poder da música é surreal. Fiz para tocar aqui no Brasil, nunca imaginei que fosse aparecer nas eleições de outro país”, diz o funkeiro

*Por Simone Gondim

A sexta-feira (dia 6) prometia ser apenas mais um dia de gravação em estúdio para MC João, que prepara novas músicas a serem lançadas em breve. De repente, os celulares do produtor Déh D’Brito e do próprio artista começaram a receber uma quantidade imensa de mensagens, que chegavam quase que simultaneamente: era o vídeo que tomou conta da internet e virou assunto do dia, mostrando manifestantes nos Estados Unidos dançando o hit “Baile de favela” na rua, em frente ao Reading Terminal Market, na Filadélfia. O motivo? Celebrar a virada do democrata Joe Biden nas urnas do estado da Pensilvânia, em meio à contagem de votos para decidir quem passará os próximos quatro anos na Casa Branca. “Agora, ou eles me mandam o passaporte americano ou o Green Card”, brincou o músico.

“O poder da música é surreal”, diz MC João (Foto: Divulgação)

Mesmo não sendo a primeira vez que “Baile de favela” vira assunto internacional, o vídeo e sua repercussão deixaram MC João surpreso. “O poder da música é surreal. Fiz para tocar aqui no Brasil, nunca imaginei que fosse aparecer nas eleições de outro país”, diz o funkeiro. Em 2016, o artista se apresentou em duas turnês na Europa, tocando em lugares como Holanda, Portugal e Itália, embalado pelo sucesso, que havia sido lançado no ano anterior.

Ainda em 2016, houve um momento inusitado envolvendo a canção: o brasileiro João Schiavinato aproveitou a passagem do ator Leonardo DiCaprio pelo tapete vermelho do BAFTA, a premiação máxima da Academia Britânica de Artes Cinematográficas e Televisivas, para fazer uma brincadeira com a letra, trocando o nome de um dos lugares da periferia de São Paulo pelo astro de filmes como “O regresso”, “Titanic”, “Era uma vez em Hollywood” e “O lobo de Wall Street”. No vídeo que Schiavinato postou em seu Instagram, na época, dá para ver que DiCaprio não entendeu nada ao passar e ouvir uma voz masculina gritando seu nome, mais de uma vez: “o DiCaprio é baile de favela”.

Já o vídeo da comemoração pró-Biden na Filadélfia, que também foi compartilhado por Renê Silva, criador do “Voz das comunidades”, teria sido gravado pela jornalista brasileira Heloisa Villela, correspondente da CNN Brasil. “Conseguem ouvir isso? ‘Baile de favela’ na festa, aqui, em português?”, pergunta uma voz de mulher no meio da multidão, com o funk tocando ao fundo. O humorista Marcelo Adnet também publicou o registro, fazendo um trocadilho: “Biden de favela”.

MC João lembra que, na época em que compôs “Baile de favela”, a música começou parando o estúdio onde o artista estava. “Fui gravar outra música, mas não estava dando certo. O produtor (Rodrigo Santos, o R7) foi bem direto: ‘está uma bosta’. Ele viu que pegou pesado comigo e falou para ir cantando. Eu tinha uma melodia na cabeça e fiz a letra. A música saiu na hora, comecei a lembrar de todos os bailes onde eu ia quando era novinho”, conta o funkeiro. “Todo mundo no escritório ouviu e disse: ‘é isso'”, acrescenta.

A gravação do clipe com o diretor KondZilla, uma das maiores referências na produção audiovisual do funk brasileiro, foi a realização de um sonho. “Quando deu um milhão de acessos de ‘Baile de favela’ na internet, expliquei ao meu empresário que estava sob pressão e não conseguia mais compor. Disse que precisava gravar o clipe com o KondZilla”, recorda MC João, rindo. “Foi o primeiro clipe oficial que gravei na minha quebrada. Compartilhei uma data, postei no Facebook, chamei amigos e amigos de amigos. Ninguém levou muita fé que eu fosse conseguir fazer o fluxo (baile de rua) durante a semana”, conta.

Como dá para ver no clipe de “Baile de favela”, a gravação ficou lotada. O local escolhido foi a Rua Sete, onde MC João fazia baile quando ainda não era famoso. “Eu mesmo fiz o palco, junto com alguns amigos. Antes, não conseguia lugar para cantar”, revela. “Essa música foi uma das que levou o funk de São Paulo para o Rio de Janeiro. Havia uma rivalidade discreta entre os MCs das duas cidades”, afirma. “Uma coisa mágica no clipe é que não precisei pedir a ninguém para cantar. Só liguei o som e abri o porta-malas. Parecia um estádio, todo mundo cantando”, orgulha-se.