*Por Brunna Condini
Com apenas 16 anos, muita criatividade e a cabeça cheia de sonhos, Marcelle Dias de Oliveira, a Angel, viu sua música “Eu Nunca, Eu Já”, ser uma das mais compartilhadas do aplicativo Tik Tok nacional. O hit, com mais de 400 mil compartilhamentos até agora, foi lançado no início de abril, e conquistou artistas como Preta Gil e Lexa, que entraram na brincadeira proposta na letra. “Criei a música na quarentena. É importante demais ficar em casa no momento, mas ficava pensando em uma forma de levar diversão para as pessoas. Afinal, que nunca brincou disso?”, questiona a carioca. “Fui pegando coisas que eu já tinha feito, porque gosto muito de falar de coisas de verdade nas minhas músicas”, conta, sobre o hit que tem produção de Umberto Tavares, que já trabalhou com Anitta, Ludmilla, Kelly Key e Buchecha, entre outros.
Na letra, a cantora indaga em alguns trechos: “Na mesma festa beijou três? (Eu nunca eu já)/ Já pegou amigo do ex? (Eu nunca eu já) / Pra stalkear já fez um fake? (Eu nunca eu já) / Já namorou dois de uma vez? (Eu nunca eu já) / Já ficou louco e deu PT? (Eu nunca eu já)”. E nós, perguntamos à Angel, o que ela “nunca” ou “já”, da letra: “O único “eu nunca’, que tem na música, da minha experiência, foi dar perdido para beber, dar “pt’, porque não bebo. Mas de resto, quem nunca, gente?”. Isso aí, Angel.
Com nome artístico inspirado em um apelido da infância, a funkeira conta que muitos artistas já a acessaram depois que a música bombou. “Muitos vieram falar comigo! A Mc Tati Zaqui, o Mc Marcinho, a Jojo Todynho, A Simone, da dupla Simone e Simaria. A Kelly Key, gente! Que adoro, que cantava quando era criança. Teve também o Pyong Lee, que participou do BBB20. Muitos artistas legais, que eu já curtia, e entraram na brincadeira da minha música no Tik Tok”, revela, eufórica. “A Simony gravou com a filha, fez a brincadeira. Ela me marcou, ficou surpresa de saber que era eu cantando, e agora nos seguimos. A música alcançou pessoas de todas as idades, que entraram na diversão. É demais! Pensar que a minha música, minha brincadeira do Tik Tok, me levou até elas. Pensar que da mesma forma que admiro esses artistas, eles também podem me admirar agora. São pessoas que acompanho”.
Sonhos, determinação e atitude
A música entrou muito cedo na vida da moradora de Campo Grande, zona oeste do Rio de Janeiro. “Comecei a cantar na igreja com 6 anos. Até cheguei a liderar grupo Ministério de Louvor, que é um cargo que você tem na igreja quando você canta. Parei de cantar lá aos 13 anos, que foi quando comecei a cantar para os amigos, postar uns vídeos cantando covers na internet”, lembra. “Decidi que não queria misturar religião, crença, fé, com trabalho. E foi quando comecei a cantar outros estilos musicais que curto”.
Com seu primeiro EP lançado ano passado, o “Be Free”, ela curte experimentar estilos, e entrega quem é sua maior referência na música. “Me inspiro muito na Anitta. Não canso de dizer, que ela é uma artista completa e muito inteligente. Ela aproveitou todas as oportunidades que teve na vida de crescer. Também acompanho outros artistas dentro do funk, e dos estilos de música que ouço, mas ela é minha maior inspiração. Me encontrei no funk porque gosto muito de dançar, passar uma vibe através da música. E a Anitta transparece isso para mim”.
Com as aulas suspensas, ela que cursa o 2º ano do Ensino Médio, conta que por conta da pandemia do novo Coronavírus, seu primeiro show teve que ser uma live. Foi uma apresentação colaborativa, ao lado de nomes como Mc Rebecca e Gabilly, para arrecadar doações para os profissionais da música. E embora Angel esteja ansiosa pelo o que está por vir, pós Covid-19, ela tem consciência que o isolamento social é necessário. “Vou acabar estudando em épocas que estaria de férias. E também, acabar adiando os shows mais para o final do no ano. Estou cumprindo a quarentena, é muito importante. Lavo as mãos corretamente, passo álcool em gel, estou fazendo o possível para me proteger dessa doença”, garante. “Também estou aproveitando este tempo para fazer muitas músicas, estou tendo muitas ideias. Realmente me encontrei neste momento. O tempo livre tem me dado muita liberdade de criação. Fico muito ativa nas redes sociais, no meu Tik Tok, que amo. E estou sempre tentando trazer coisas novas para as pessoas que me seguem”.
Mesmo com a pouca idade, Angel demonstra atitude e consciência. Tanto, que fez questão de observar o fato, de que nem todos na localidade em que vive, estão respeitando o isolamento. “Aqui onde eu moro já tiveram muitas pessoas infectadas. Algumas respeitam a quarentena e outras não, infelizmente. Mas eu, a minha família e as pessoas próximas, temos cumprido o isolamento”, relata, sobre a região, que no início deste mês, teve o calçadão interditado, após denúncias de aglomeração, no bairro que é um dos maiores números de mortes por Covid-19 no Rio até o momento.
Vinda de uma geração que já nasceu digital, conectada e não conheceu o mundo sem a internet, a cantora sabe o poder de ter uma relação tão próxima com os seguidores. “Minha geração já consegue alcançar lugares mais longe, e também se preocupa em lutar por direitos. Não que as outras gerações não fizessem isso, mas é que com o avanço da tecnologia, da internet, as pessoas têm mais meios para se expor, dar visibilidade aos temas e serem vistas por isso. Acho que a gente ainda vai evoluir muito nesta questão, e é o que espero”.
E que lutas acredita que merecem ser batalhadas hoje? “O feminismo, por exemplo. Me considero feminista. Acho que existem várias formas de se opinar e falar sobre esse assunto. Mesmo que eu não fale abertamente muitas vezes sobre o tema nas minhas redes, recebo muitas perguntas quando eu faço quiz, de meninas. Tem de tudo, são meninas compartilhando seus sentimentos, umas dizem que se sentem feias, que têm autoestima baixa, que outras pessoas colocaram elas para baixo. Ou que estão sofrendo pelo boy. Em todas as minhas respostas, tento passar, que elas são muito mais do que isso. Que cada uma tem sua beleza, o que oferecer para o mundo. Elas são importantes, são lindas e ninguém pode dizer o contrário”, divide Angel.
E continua: “É preciso também lutar contra qualquer preconceito, seja o racismo, o religioso, de classes sociais. Pelos gays, porque as pessoas precisam aprender a respeitar as outras. Não importa como eu sou ou como você é, sermos diferentes não faz ninguém menor. As pessoas têm o direito de serem felizes, livres. Afinal de contas, a vida é de cada um. É muito triste, em pleno 2020, ter ainda que mostrar para as pessoas, que preconceito é ruim, e em alguns casos, crime”.
Nós também achamos, Angel.
A revelação do funk carioca pretende realizar muitos sonhos ainda. “Quero muito dar certo nesta carreira que estou trilhando. Vou sempre dar o meu melhor, pode ter certeza. Estou muito feliz, sou grata por tudo que tem acontecido. Quero evolução, que meu trabalho possa alcançar lugares altos”, deseja. “Pode parecer um sonho muito grande, mas espero que a minha música um dia possa tocar o mundo todo. Que eu possa fazer shows em todos os lugares que sonho conhecer, que eu possa fazer shows com gente que admiro. E sonho também, que quando essa pandemia acabar, a gente tenha um mundo em que possamos nos respeitar e nos colocar mais no lugar dos outros, que todos possam dar mais valor à presença, ao cuidado com a saúde, com a vida. Agora vemos o que é importante”.
Artigos relacionados