*Por Rafael Moura
Atuantes na cena hip hop, rap e funk, desde 2016, o Rap Plus Size, formado por Sara Donato e Jupi77er, é um duo que descobriu na música uma forma de expressão para combater a gordofobia, o machismo, o racismo, a LGBTfobia e todo tipo de opressão. No início, o que deveria ser apenas um projeto paralelo à carreira de Sara e Jupi77er, se solidificou após o lançamento do primeiro álbum, homônimo. Inúmeras apresentações e parcerias musicais levaram a dupla ao grande destaque da cena do rap nacional. E, por meio do projeto Sesc ConVIDA!, a canção ‘Fôlego’, que faz parte do segundo álbum da dupla, ‘A Grandiosa Imersão em Busca do Novo Mundo’, ganhou clipe.
Em 2018 firmaram parceria com a festa Toda Grandona, um espaço para empoderamento gordo com foco no body positive e criaram a música de mesmo nome da festa, que viralizou nas redes sociais, trazendo enorme visibilidade não só para a festa, mas para a causa principal do Rap Plus Size: a desconstrução da ditadura dos padrões de beleza. O duo fez tanto sucesso que começou a viajar o Brasil levando arte e militância em prol da aceitação de corpos livres e cobrando respeito, empatia e diversidade no rap e na música brasileira como um todo.
Confira abaixo a conversa do site Heloisa Tolipan com a dupla:
Heloisa Tolipan – Vocês acabam de lançar clipe da faixa ‘Fôlego’. Como surgiu a inspiração? Nesse momento é preciso de fôlego para…?
Jupi77er – Essa musica é a faixa quatro do nosso último álbum denominado “A Grandiosa Imersão em Busca do Novo Mundo”, no qual contamos uma história da fuga de um ambiente controlado para a busca de algo maior e profundo, que é um novo mundo. Essa faixa fala do respiro que precisamos para continuar lutando, enfrentando o que nos tiram a sanidade mental. Lançamos esse disco ano passado, mas, agora na pandemia, parece que essa musica faz ainda mais sentido. Então Nesse momento é preciso de fôlego para continuarmos vives e lutando.
HT – Estamos passando por um turbilhão de emoções nesse período de pandemia. Como anda a criatividade da dupla? E a saúde mental?
Jupi77er – Estamos bastante tempo em casa e isso reflete muito no jeito como temos nos tratado, cuidado da casa e de quem mora com a gente. Tivemos que nos mudar, conseguimos com a ajuda do nosso público o que precisávamos, acho que a fase mais turbulenta passou. Agora estamos focades nos novos singles e EP. Então, a criatividade está a mil!
HT – O Rap Plus Size nasce como uma forma de mostrar sua voz também contra a gordofobia e LGBTfobia. O universo do rap ainda é altamente machista. Como quebrar essas barreiras?
Jupi77er – Acredito que que a maior forma de quebrar ciclos estruturais de opressão é pela ação coletiva. Lembro que, em 2016,eu postei uma imagem no Facebook que eram duas escadas. Uma das minas onde todas davam as mãos pra chegar nos degraus mais altos e a outra era dos caras que se empurravam dos degraus e competiam entre si. Aquela imagem repercutiu na época, porque realmente significava a união das mulheres dentro do rap e do hip hop. Isso fez com que as mulheres começassem a ter mais destaque na cena. O trabalho que a Frente Nacional de Mulheres no Hip Hop fez e faz também contribuiu para isso, e com certeza, aos poucos, as mulheres foram tomando seu espaço na cena. O mesmo tem acontecido com a cena LGBTQIA+ do movimento, mas ainda é muito difícil e eu sinto que é mais complicado pelas distâncias e tudo mais. Mas, segue avançando. Vejo a Bixarte por exemplo, ou a Jup do Bairro, abrindo espaços e conquistando o que é delas por direito! Isso é massa, estamos definitivamente chegando em outros lugares.
HT – De 2016 para cá quais foram as mudanças percebidas por vocês dentro do universo do rap?
Sara Donato – O rap tem chegado em lugares que nunca alcançou antes, inclusive com pessoas fora do eixo SP/RJ. E isso é muito importante. E também não dá pra negar que cada vez mais mulheres e pessoas lgbtqia+ vieram tendo destaques e assim cravando o nome na história.
HT – Quem são suas inspirações e influências?
SD – Eu me inspiro muito no que está perto, nos amigos e pessoas que vejo fazendo um trabalho. Gabi Nyarai, Souto Mc, Tasha e Tracie, Bivolt, Killa Bi, Pankapauli e por aí vai, poderia ficar citando várias pessoas.
HT – Vocês já passaram por algum caso de gorbofobia? Em geral as pessoas só entram nas militâncias quando algo as afeta.
SD – Desde que me entendo por gente e acredito que toda pessoa gorda já tenha passado ou vai passar por isso e o que me fez entrar pra militância foi entender que mesmo o que já não me afeta, segue machucando muitas crianças gordas e adolescentes que nem sempre vão ter os mesmo caminho que eu tive: o de me aceitar e enxergar linda como eu sou.
HT – A arte ativista tem ganhado muita visibilidade no Brasil e no mundo. Qual a importância de dessa ideologia caminhar junto com a música?
SD – Acredito que muita das vezes é mais que levantar bandeiras. São nossas histórias sendo contadas e isso acaba indo de encontro com esse ativismo, porque muita das vezes somos nós cantando nossas dores, externando o que nos machuca e apontando soluções pra mudar isso coletivamente. É importante e acredito que a arte liberta e isso não tem preço que pague.
HT – O que podemos esperar do duo nos próximos meses?
Rap Plus Size – Estamos trabalhando em um EP de cinco faixas em parceria com a UZZN REC. Muita batidas e levadas.
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