*Por Domênica Soares
Céu surpreende com mais um lançamento e leva a reflexão o estilo de vida que adotamos atualmente. Ela lança o clipe de “Corpocontinente” pela Som Livre e afirma que gosta de ideia de amplas interpretações para sua canção. “‘Corpocontinente’, um lugar onde dois corpos, que também são dois continentes, se juntam, viram uma única coisa, e lá existe esse sentimento chamado saudade. A ideia era traduzir isso em uma linguagem futurista e tropical”, conta. Sobre o jeito que vivemos, ela diz que gosta de debater e refletir. “Gosto muito de estimular uma linha de raciocínio onde se possa debater, refletir, sobre o jeito que estamos vivendo, o que está sendo construído, destruído, como entendemos o mundo e como ele está respondendo conforme essas escolhas. Para mim, isso é política. O jeito que você fala com uma pessoa na rua é política, o que você faz com o seu lixo é político, a sua liberdade é política. Não acho que a panfletagem seja a única forma de fazer política”.
Em entrevista exclusiva ao site Heloisa Tolipan, a artista discorre sobre o cenário da música atual e conta que ‘tudo mudou e nada mudou’. “Parecia que a indústria ia acabar com a chegada da internet, falavam muito isso, mas o que me parece é que só o sistema mudou e que, sim, a internet descentralizou o poder e ajudou a democratizar, mas a indústria só cresceu. Acho que poderia ter uma readequação das pulverizadoras de sons, as famosas rádios, para se atentar a esse novo mundo. Tem muita coisa fantástica sendo feita”. O projeto lançado traz o posicionamento da cantora que adotou como linha de pensando as falhas dos seres humanos. “Eu entendi que o ser humano tem muitos erros e tudo que eu tenho certeza é que eu ainda estou longe de saber das coisas, e que para melhorar eu tenho que investigar outros sistemas, desconstruir as minhas certezas, pois elas existiram a partir de uma posição de privilégio também. Então, ao invés de apontar certezas, eu prefiro apontar caminhos”.
O calor humano, a receptividade, alegria, musicalidade e farra são as características brasileiras que encantam Céu. Em contrapartida, ela diz que viver de música no Brasil é difícil e entende a cara feia do pai quando ela disse que ia trabalhar no ramo. “Talvez por conta da internet tenha acontecido uma pequena evolução, mas muito, muito distante de uma realidade possível de respeito com os músicos, de viabilização com esse ofício”. Além disso, conta que no exterior qualquer artista, do independente ao gigante da música, é respeitado.
A internet foi o meio de democratização de muitos trabalhos e descobertas de artistas que até então não tinham dinheiro para investir na carreira de músico, por exemplo, mas traz também o pior lado das pessoas. “A internet é a famosa faca de dois gumes, ao meu ver. Pode ser e conter o melhor, ajudar em tantas coisas, a encontrar o que você precisa, a conectar. Mas também pode ser o amplificador do pior do ser humano, o ego, a possibilidade de se escorar em um logaritmo para extravasar o seu pior, pode ser um esgoto humano”. Os dois lados da moeda da vida na internet são importantes para destacar e ela conta: “O bom são os serviços. Outro dia perdi minha cachorra e por causa da internet eu a encontrei em três horas. O ruim é que parece que não vivemos mais o presente com tanta intensidade”.
A paixão pela música surgiu muito nova e aos 14 anos já tinha decidido se profissionalizar. A cantora sempre teve certeza do que buscava. Arregaçou as mangas e buscou sua independência. Hoje e sempre seu maior sonho foi um mundo igualitário, mas diz ter muitos outros: “Sou uma eterna otimista, mas ultimamente estou achando mais difícil. Sonho por uma reconstrução mais respeitosa com o meio ambiente, sem desigualdade social, sem preconceito, sem violência”. Para 2020, ela busca essa reconstrução da sociedade e já começa com “Corpocontinente” para inspirar, refletir e conscientizar pessoas sobre para onde estamos caminhando.
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