“Ter um corpo magrelo é só pra televisão, pois na vida real o que importa é o popozão”, diz a marchinha “Querem que eu faça lipo”, da escritora Veralinda Menezes. A letra, cantada pela maravilhosa Mariah da Penha, questiona os padrões de beleza impostos pela sociedade. “A ditadura da beleza é cruel, se a pessoa não é magra ou cheia de músculos, está fora do padrão. Mas que padrão é esse? Cada um tem sua genética. Uma alimentação prazerosa e saudável é o que importa”, diz Mariah.
Atriz, diretora, historiadora e cientista social, Mariah da Penha tem todas as credenciais para ocupar com maestria o lugar de fala no debate sobre a presença de mulheres negras e plus size nos meios de comunicação. “Atualmente, vemos nos comerciais de TV a presença de modelos plus size e negras. Será que só agora descobriram que esse público consome e tem representatividade?”, questiona ela. E volta a fazer críticas ao modelo estético que a sociedade tenta empurrar goela abaixo das pessoas. “A ditadura da beleza mata por depressão”, afirma.
Foi justamente o incômodo com a busca pelo chamado corpo perfeito que levou Veralinda Menezes a escrever a marchinha “Querem que eu faça lipo”. A grande quantidade de manchetes noticiando a morte de mulheres que recorriam à lipoaspiração disparou o alarme na cabeça da compositora. “Comecei a refletir sobre isso: que corpo perfeito é esse? Como mudar isso? Se é preciso tanto sofrimento para atingir esse modelo, é porque ele não é ideal”, conta Veralinda.
Para Mariah da Penha, a indústria da beleza já entendeu que precisa vender produtos que representem as pessoas como elas são. “O público tem mais voz nas redes sociais e as coisas precisam mudar”, garante ela. Mariah explica que a ideia de cantar a marchinha nasceu em um almoço com Veralinda. “Papo vai, papo vem, ela me perguntou se eu conhecia alguma atriz/cantora gorda que poderia interpretar uma marchinha. Respondi que gravaria. Marcamos um dia e começamos os ensaios. Drayson Menezzes foi o meu diretor musical”, lembra Mariah.
Sobre o carnaval, Mariah diz que é um momento de celebração popular em que todos podem virar artistas para viver o personagem que quiserem. “No Brasil, começou assim, escravos viraram reis. Na Roma medieval também havia inversão de personagens. O mistério do carnaval de Veneza, com capas, canções e máscaras brancas, surgiu no Renascimento. Foi com o teatro de improviso da commedia dell’arte e com os cortejos que o carnaval ganhou definitivamente as ruas. É o momento em que o profano desafia o sagrado, antes da quaresma”, ensina.
Partindo para uma análise no cenário da arte atual, ela conta que cada época que vivemos traz suas histórias, mudanças e mutações. “O século XXI está trazendo muitas mudanças no comportamento humano. Estamos cada vez mais robotizados, mas não é uma desumanização que as novas tecnologias estão trazendo. Pelo contrário, porque vai chegar um momento em que a natureza humana vai buscar a mente, o raciocínio, uma luz que seja para não perder para as máquinas”, acredita Mariah. Para completar, a atriz afirma que uma regressão do que vivemos é impossível, já que toda evolução tem suas consequências. “Há milhões de anos a Terra, a mãe Natureza, se reinventa e a vida continua”, diz.
A atriz conta que o sonho de atuar era antigo e foi realizado depois de duas graduações – ciências sociais e história. “Tive uma prática intelectual muito fértil no Grupo de Teatro Tá na Rua, de Amir Haddad. Quando íamos para a rua fazer a peça, passávamos horas conversando sobre os acontecimentos dos jornais, da vida, e estudávamos os pensadores modernos. O século XXI tinha chegado com todo o avanço tecnológico e eu não queria ficar para trás, eu queria saber como se dava esse processo de transformação das sociedades passadas e presentes para entender o que poderia vir do futuro”, explica.
Mariah afirma ainda que adianta que, em breve, deve voltar a fazer novelas, e seu maior sonho é ser protagonista no cinema e na televisão. “No teatro já faço meus monólogos e tenho muitos prêmios nos festivais do mundo todo, inclusive a Palma de Ouro e o Oscar. Sonhar é uma delícia!”, conclui.
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