* Por Junior de Paula
Lá se vão quase dois anos desde que Gal Costa lançou seu álbum Recanto e estreou o show de mesmo nome, ambos com a cabeça avant garde de Caetano Veloso no comando, voltando a ocupar o posto de diva inquieta, sem pudores, sem medo do novo e que sempre se coloca à frente de seu tempo.
Nesse sábado, dia 18 de janeiro, no Circo Voador, Gal confirmou – mais uma vez – a força deste show e a solidificação de sua volta por cima, já que nos anos que se antecederam a essa reviravolta ela estava se dedicando à maternidade e sem muita disposição para a ribalta.
Ali, nos braços do povo, no coração da Lapa, sob uma lua cheia cinematográfica e um calor típico de um verão que vem se mostrando um tanto quanto esquisito, Gal cumpriu seu roteiro de forma magistral.
Roteiro, aliás, que se mantém quase intacto desde a estreia de Recanto, com a exceção da inclusão de Meu Bem, Meu Mal, e Gabriela no Bis, que não faziam parte do roteiro dos primeiros shows. Mais do que uma exceção, aliás, as duas músicas funcionam como uma concessão ao apelo popular, mas que se mostram um tanto quanto desconexas em um set list tão sofisticado, inteligente e elegante.
Neste sábado, apesar dos mais de 700 dias na estrada, Gal mostrou que ainda se emociona em cena, enxugando as lágrimas que insistiam em brotar nos seus olhos durante a execução de O Amor, que o batidão de Miami Maculelê ainda a faz descer até o chão, que a guitarra de Pedro Baby continua a causar arrepios dos pés à cabeça, que seu dueto divertido com Tim Maia, no qual ela mimetiza o tom do músico em Um Dia de Domingo, ainda diverte e que nada tira o seu sorriso do rosto quando era aplaudida no meio das músicas ou, ao fim do último verso. A euforia no Circo se transformava numa onda de gritos, palmas e assovios. “Vocês são o verdadeiro show”, repetia, uma mais do que bem-humorada Gal.
Bom humor, este, que não foi a tônica nas arquibancadas superiores do Circo. Ocupadas majoritariamente por senhores e senhoras de meia idade e pouco acostumados à dinâmica do Circo Voador, quase saíram no tapa com os mais jovens, literalmente, que insistiam em se posicionar de pé, como estão habituados a fazer desde que o Circo é Circo, nas grades em frente à arquibancada. Tenso, para não dizer desrespeitoso, da parte daqueles que estavam indo pela primeira vez ao Circo e queriam impor a sua lógica burguesa de show sentadinho e aplausos contidos no reino da descontração.
Uma noite linda, como são sempre as noites ao lado de Gal Costa.
* Junior de Paula é jornalista, trabalhou com alguns dos maiores nomes do jornalismo de moda e cultura do Brasil, como Joyce Pascowitch e Erika Palomino, e foi editor da coluna de Heloisa Tolipan, no Jornal do Brasil. Apaixonado por viagens, é dono do site Viajante Aleatório, e, mais recentemente, vem se dedicando à dramaturgia teatral e à literatura.
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