“50 anos de MPB – a Era dos Festivais” estreia no dia do afastamento de Dilma Rousseff, no Rio de Janeiro. Vem saber os detalhes!


Grupo formado por Edu Krieger, Soraya Ravenle, Marcelo Caldi, PC Castilho e Fabiano Salek apresenta clássicos dos anos de ditadura e outras músicas mil

Em 2016, os Festivais de MPB, promovidos pela Record nos anos da ditadura, completam 50 anos de existência. E, por isso, o músico Edu Krieger idealizou e pôs em prática ao lado de Soraya Ravenle, Marcelo Caldi, PC Castilho e Fabiano Salek o espetáculo “50 anos de MPB – a Era dos Festivais”. Em cartaz no Espaço Tom Jobim, no Jardim Botânico, até hoje, sábado, a estreia na noite de quinta-feira, com os mais de 370 ingressos esgotados, não poderia ser em dia mais oportuno: depois de quase 20 horas de sessão no Senado Federal, a presidente Dilma Rousseff foi afastada do cargo. Embora o projeto tenha sido iniciado e programado desde 2015, a coincidência foi o “tempero” da noite para Edu Krieger. “É uma surpresa inesperada estrear esse espetáculo em um momento que estamos remetendo à tantas palavras da década de 60 como golpe, resistência, luta. A intenção primordial desse projeto sempre foi reverenciar os festivais daquela época. A gente nunca quis fazer uma analogia daquele momento político e o nosso de hoje”, disse o artista a HT.

A estreia do projeto teve casa cheia no Rio de Janeiro (Foto: Cyntia C.)

A estreia do projeto teve casa cheia no Rio de Janeiro (Foto: Cyntia C.)

Com um repertório que combina clássicos dos festivais e outras canções menos conhecidas, o idealizador disse que as músicas apresentadas dialogam com o atual momento brasileiro pela semelhança no panorama de 50 anos atrás. “É o tipo de repertório que fala por si só, não precisa sublinhar nada com alguma expressão que não seja musical. A nossa missão é levar para o palco canções que foram muito representativas em uma época que o Brasil viveu uma efervescência política”, completou Edu Krieger. Já a atriz e cantora Soraya Ravenle destaca o poder que essas músicas tiveram de parar o país nos anos da ditadura. “Essas canções, naquele momento, causavam essa mobilização. E hoje, nesse show e com essas músicas, a gente com certeza vai estar contaminado pelos últimos acontecimentos”, afirmou
Confira um trechinho do show:

Antes da primeira apresentação do projeto na noite de quinta-feira, o grupo fez um pocket-show do espetáculo em um colégio de São Cristovão, Zona Norte do Rio de Janeiro, ocupado por um grupo estudantil que reivindica melhorias ao governo. Traçando um paralelo, os músicos destacaram a importância de estarem próximos a essa realidade dos movimentos estudantis do passado. “A distância de 50 anos entre um manifesto e outro não interferiu na fluência da comunicação do repertório junto aos estudantes. E, para nós, constatarmos isso na prática foi muito emocionante”, disse Edu. Já Soraya destacou a atemporalidade dessas canções. “Eu acho que essa característica de atravessar o tempo é muito poderosa na música. São verdadeiros clássicos”, completou.

50 anos de MPB - a Era dos Festivais (Foto: Cyntia C.)

50 anos de MPB – a Era dos Festivais (Foto: Cyntia C.)

E com um repertório tão carregado de história e grandes nomes da cultura brasileira, Edu Krieger questionou como nenhum outro músico havia pensado em um projeto que enaltecesse esses festivais. “Eu acho que esse assunto é muito delicado, não é todo mundo que quer botar a cara a tapa e lidar com isso. Principalmente, porque é um tema que tem a delicadeza das canções muito presente. Além de abordas esses temas, tem a questão de mexer em ícones sagrados da música também. Levar para o palco um repertório que já foi cantado por Elis Regina, Gal Costa e Nana Caymmi é uma grande responsabilidade. A posição da Soraya nesse espetáculo é muito corajosa e delicada. Ela está mexendo em um material que já foi visitado por essas artistas que são mitos para a cultura nacional”, argumentou o idealizador. Ao HT, a intérprete escolhida confessou que estava uma pilha de nervos antes do espetáculo. “Adrenalina insuportável”. Brincadeiras à parte, Soraya disse que jamais escolheria as canções apresentadas para cantar na carreira se não fosse por um projeto especial. “Estou adorando fazer, mas eu não escolheria essas músicas para cantar na minha vida exatamente porque eu reverencio essas mulheres. São músicas que ficaram marcadas nas vozes dessas damas da cultura brasileira”, explicou a cantora.

Com um tema que envolve tanto posicionamento político em tempos de grandes manifestações, Edu Krieger ressaltou a importância do grupo seguir uma mesma ideologia sobre o assunto. Em relação à votação que afastou Dilma Rousseff do cargo de Presidente da República, Soraya Ravenle disse que chorou ao acompanhar. “Eu estou achando tudo tão difícil que nada do que está acontecendo me representa. Estou me sentindo meio órfã. Está tudo contaminado e eu não consigo tomar partido de nada. Por outro lado, eu chorei com aquela mulher. Uma coisa que eu acho muito básica é a corrupção, só que ela não pode ser acusada disso em nenhum momento. A Dilma pode ser culpada de outras milhões de coisas, mas isso não. Ela não enriqueceu como a família de todos eles. Eu estou com uma grande interrogação assim como todos nós. É um circo dos horrores, uma sensação muito louca. Parece que estamos em um pesadelo. É comovente, doloroso”, desabafou Soraya Ravenle. E Edu Krieger completou sugerindo que a mobilização social pró-impeachment teve caráter machista: “Foi um processo iniciado por uma figura repugnante como o Eduardo Cunha. É tudo muito difícil de assimilar. A maior vítima desse processo todo está sendo uma mulher sobre a qual não recai nenhuma suspeita de enriquecimento ilícito. Então, a gente acaba pensando também que o fato dela ser mulher acaba influenciando nessa percepção da sociedade, que ainda é machista e patriarcal.  Isso é algo que representa um retrocesso em vários aspectos, sobretudo nas conquistas obtidas na sociedade”.

Serviço

Show: 50 anos de MPB – a Era dos Festivais

Local: Espaço Tom Jobim

Dia 14 de maio (sábado), às 21h

Endereço: Dentro do Parque Jardim Botânico – R. Jardim Botânico, 1008 – Jardim Botânico
Telefone:(21) 2274-7012

Ingressos: R$ 10 inteira e R$ 5 meia  (renda revertida para a Casa Francisco de Assis)

Classificação etária: Livre