Na noite desta quarta-feira, as luzes do Theatro Municipal do Rio de Janeiro se acenderam para dar passagem a grandes nomes e personalidades do mundo da música. Em uma cerimônia curta e direto ao ponto, o 29º Prêmio da Música Brasileira deu voz a duas manifestações políticas potentes e acaloradas nos últimos minutos da cerimônia. Enquanto uma pedia a liberdade do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a outra exaltava a negritude brasileira ao som da canção ‘Negro Gato’, de Luiz Melodia, o homenageado da vez. Além disso, o público aplaudiu de pé a musa Alcione e a dupla As Galvão que se emocionou ao subir no palco. Para completar, os espectadores ainda acompanharam de perto o show inédito que reuniu Maria Bethânia, Caetano Veloso e os filhos Tom, Zeca e Moreno e a apresentação poderosa de Sandra de Sá e Zezé Motta.
Quando tudo indicava que o Prêmio da Música Brasileira não teria polêmica, o jogo mudou nos últimos 20 minutos. No anúncio dos ganhadores da última categoria, a atriz e mestre de cerimônia Débora Bloch chamou ao palco o grupo Moacyr Luz e o Samba do Trabalhador para receber o troféu de Melhor Grupo de Samba e Melhor Álbum. Em meio às comemorações, alguns integrantes da equipe exibiam o formato da letra ‘L’ em suas mãos. Logo na sequência, Leci Brandão, que ganhou Melhor Cantora de Samba, repediu o sinal. Com isso, a platéia começou a bater palmas e a entoar um coro de ‘Lula Livre’. Apesar desta manifestação, outra parte do Theatro Municipal se mostrou contrária à colocação através de vaias e símbolos gestuais que reafirmavam a condenação do ex-presidente.
Logo depois que os ânimos acalmaram, foi a vez de acompanhar mais uma manifestação que valorizava a cultura e a etnia negra no Brasil. Sendo assim, os cantores Iza, Liniker e Lazzo Matumbi subiram ao palco com roupas pretas para cantar a música Negro Gato, eternizada na voz de Luiz Melodia. A letra icônica ajudou encerrar a noite de premiações com uma mensagem poética contra o racismo. A canção ainda ganhou uma batida de funk e vários dançarinos negros que ajudaram a compor esta homenagem à comunidade afrodescendente e ao artista Luiz Melodia. Todos brilharam juntos em um show histórico de representatividade e protagonismo.
Outro ponto alto da noite foi a dobradinha histórica de Maria Bethânia e Caetano Veloso. Os dois homenagearam Luiz Melodia ao cantar uma das canções mais icônicas do artista: Pérola Negra. Ambos soltaram a voz neste momento irreverente em uma performance extremamente intimista que transbordava calmaria e talento. A dupla, acompanhada dos filhos de Caê, Tom, Zeca e Moreno, foi aplaudida de pé pelo Theatro Muncipal.
Sandra de Sá e Zezé Motta também arrepiaram o público da cabeça aos pés com a singular voz de ambas, dando o que falar entre os convidados. A atriz foi convidada por ser uma grande amiga de Luiz Melodia e considerada uma de suas principais intérpretes. Na época, os dois chegaram a gravar juntos a canção Dores de Amores e, por isso, esta foi a música escolhida para estas duas artistas.
Alcione foi outra personalidade reverenciada nesta noite de premiação. A cantora emanou luz, literalmente, não apenas por soltar a voz daquele jeito empoderador de sempre, mas também por aparecer usando um vestido cheio de brilhos digno de todo o seu poder. A intérprete já é figurinha repetida nesta premiação, mas isso não deixou de lado as palmas do público. A vitória já era esperada e, novamente, ela ganhou o destaque merecido como Melhor Cantora na categoria Canção Popular.
Engana-se em quem pensa que a noite parou por ai. As irmãs Galvão Meire e Marilene ganharam na categoria Melhor Dupla Regional pela primeira vez na história do Prêmio da Música Brasileira. A emoção das duas ao subir no palco foi tamanha que elas não conseguiram conter as lágrimas. A resposta do público foi imediata e as duas ganharam uma salva de palmas que durou alguns bons segundos.
Polêmico e histórico, o 29º Prêmio da Música Brasileira homenageou Luiz Melodia, falecido no ano passado, contando a sua história e trazendo grandes artistas da atualidade para reverenciar a sua obra. Com ‘L de Lula’ e cantores negros em evidencia, a cerimônia segue a tradição irreverente e questionadora.
Confira a lista completa, em negrito, dos vencedores da premiação de 2018:
CATEGORIA ARRANJADOR
- Flávio Mendes por ‘Danilo Caymmi – canta Tom Jobim’, de Danilo Caymmi
- Mario Adnet por ‘Saudade Maravilhosa’, de Mario Adnet
- Mario Adnet por ‘Jobim Orquestra e Convidados’, de Paulo Jobim e Mario Adnet
CATEGORIA MELHOR CANÇÃO
- ‘As Caravanas’, de Chico Buarque, intérprete Chico Buarque (CD ‘As Caravanas’)
- ‘Massarandupió’, de Chico Brown e Chico Buarque, intérprete Chico Buarque (CD ‘As Caravanas’)
- ‘Tua Cantiga’, de Cristóvão Bastos e Chico Buarque, intérprete Chico Buarque (CD ‘As Caravanas’)
CATEGORIA REVELAÇÃO PETROBRAS
- Almério (‘Desempena’)
- Pedro Franco (‘Pedro Franco’)
- Tim Bernardes (‘Recomeçar’)
CATEGORIA PROJETO VISUAL
- LAStudio por ‘Tribalistas’, de Tribalistas
- Felipe Taborda por ‘Campos Neutrais’, de Vitor Ramil
- Flávia Pedras Soares por ‘Invento’, de Zélia Duncan e Jaques Morelenbaum
CATEGORIA CANÇÃO POPULAR
ÁLBUM
- ‘Canções de Roberto e Erasmo’, de Angela Maria, produtor Thiago Marques Luiz
- ‘BIXA’, de As Bahias e A Cozinha Mineira, produtores Daniel Ganjaman e Marcelo Cabral
- ‘Coração’, de Johnny Hooker, produtor Leo D
CANTOR
- Leo Russo (‘Canto do Leo’)
- Roberto Carlos (‘Roberto Carlos’)
- Tibério Azul (‘Líquido’)
CANTORA
- Alcione (‘Boleros’)
- Amelinha (‘De primeira grandeza, as canções de Belchior’)
- Angela Maria (‘Canções de Roberto e Erasmo’)
DUPLA
- Chitãozinho e Xororó (‘Elas em Evidência’)
- Lourenço e Lourival (‘Caipira da Gema’)
- Zezé di Camargo e Luciano (‘Dois Tempos parte 2’)
GRUPO
- As Bahias e A Cozinha Mineira (‘BIXA’)
- Psirico (‘Nada Nos Separa’)
- Trio Parada Dura (‘Chalana, Churrasco e Viola’)
CATEGORIAS ESPECIAIS
ÁLBUM ELETRÔNICO
- ‘Frevotron’, de Spok, Dj Dolores e Yuri Queiroga, produtores Dj Dolores, Spok e Yuri Queiroga
- ‘Sintetizamor’, de João Donato e Donatinho, produtor Donatinho
ÁLBUM EM LÍNGUA ESTRANGEIRA
- ‘Ay Amor!’, de Fabiana Cozza, produtores Pepe Cisneros
- ‘Lessons in love’, de Indiana Nomma, produtores Raymundo Bittencourt e Indiana Nomma
- ‘Walkin’ In White Shoes’, de David Kerr e Canastra Trio, produtores Davis Kerr e Canastra Trio
ÁLBUM ERUDITO
- ‘Brahms’, de Nelson Freire, interpretado por Nelson Freire, produtor Dominc Fyfe
- ‘Heitor Villa-Lobos, Sinfonias nº 8, 9 e 11’, de Villa-Lobos, interpretado pela Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo, produtor OSESP
- ‘Villa-Lobos, Quartetos e Cordas’, de Villa-Lobos, interpretado pelo Quarteto Bessler-Reis e Quarteto Amazônia, produtor Mario de Aratanha
ÁLBUM INFANTIL
- ‘Deu Bicho Na Casa’, de Sula Kossatz, produtores Chico Batera e Fernando Brandão
- ‘Música de Brinquedo 2’ de Pato Fu, produtor John Ulhoa
- ‘Sem Você Não A’, de Tom Zé, produtores Paulo Lepetit e Daniel Maia
ÁLBUM PROJETO ESPECIAL
- ‘O Auto do Reino do Sol’, de Barca dos Corações Partidos, produtores Alfredo Del-Penho e Beto Lemos
- ‘Jobim Orquestra e Convidados’, de Paulo Jobim e Mario Adnet, produtores Mario, Joana e Antonia Adnet
- ‘Tatanaguê’, de Theo de Barros e Renato Braz, produtor Theo de Barros
MELHOR DVD
- ‘Do Tamanho Certo Para o Meu Sorisso- Ao Vivo’, de Fafá de Belém, direção Murilo Alvesso
- ‘Histórias e Canções’, de Bibi Ferreira, direção de Alexis Parrot
- ‘Jobim Orquestra e Convidados’, de Paulo Jobim e Mario Adnet, direção de Nelsinho Faria
VIDEOCLIPE
- ‘Maracutaia’, de Karol Conka, direção Brendo e Gonfiantini (Paranoid)
- ‘Culpa’, de O Terno, direção de Breno Moreira e Bruno Shintate
- ‘A Volta Pra Casa’, de Rincon Sapiência, direção de Kill The Buddha
CATEGORIA INSTRUMENTAL
ÁLBUM
- ‘Casa de Bituca’, de Hamilton de Holanda Quinteto, produtores Hamilton de Holanda e Marcos Portinari
- ‘No Mundo Dos Sons’, de Hermeto Pascoal e Grupo, produtor Hermeto Pascoal
- ‘Quebranto’, de Yamandu Costa e Alessandro Penezzi, produtores Yamandú Costa e Alessandro Penezzi
GRUPO
- Alessandro Kramer Quarteto (‘Alessandro Kramer Quarteto’)
- Hamilton de Holanda Quinteto (‘Casa de Bituca’)
- Hermeto Pascoal e Grupo (‘Mundo dos Sons’)
SOLISTA
- Hamilton de Holanda (‘Casa de Bituca’, de Hamilton de Holanda Quinteto)
- Hermeto Pascoal (‘No Mundo Dos Sons’ de Hermeto Pascoal e Grupo)
- Yamandú Costa (‘Quebranto’ de Yamandú Costa e Alessandro Penezzi)
CATEGORIA MPB
ÁLBUM
- ‘As Caravanas’, de Chico Buarque, produtor Luiz Claudio Ramos
- ‘Voz de Mágoa’ de Dori Caymmi, produtor Dori Caymmi
- ‘Mano Que Zuera’, de João Bosco, produtores João Bosco, João Mario Linhares, Marcello Gonçalves e Francisco Bosco
CANTOR
- Dori Caymmi (‘Voz de Mágoa’)
- João Bosco (‘Mano Que Zuera’)
- Zé Renato (‘Bebedouro´)
CANTORA
- Joyce Moreno (‘Palavra e Som’)
- Zélia Duncan (‘Invento’)
- Zizi Possi (‘Faltavam Seus Olhos’)
GRUPO
- Equale (‘Na Praia de Caymmi’)
- Ordinarius (‘Notável’)
- Quarteto do Rio (‘Mr. Bossa Nova’)
CATEGORIA POP / ROCK / REGGAE / HIPHOP / FUNK
ÁLBUM
- ‘Acabou Chorare, Novos Baianos se encontram’, de Novos Baianos, produtores Moraes Moreira e Pepeu Gomes
- ‘Estado de Poesia, Ao Vivo’, de Chico César, produtores Michi Ruzitschka e Chico César
- ‘Estratosférica, Ao Vivo’, de Gal Costa, produtor Marcus Preto e Pupillo
CANTOR
- Almério (‘Desempena’)
- Chico César (‘Estado de Poesia, Ao Vivo’)
- Lulu Santos (‘Baby Baby!’)
CANTORA
- Gal Costa (‘Estratosférica, Ao Vivo’)
- Simone Mazzer (‘Simone Mazzer e Cotonete’)
- Tulipa Ruiz (‘TU’)
GRUPO
- Nação Zumbi (‘Radiola NZ Volume 1’)
- Novos Baianos (‘Acabou Chorare, Novos Baianos se encontram’)
- Tribalistas (Tribalistas’)
CATEGORIA REGIONAL
ÁLBUM
- ‘Caipira’, de Mônica Salmaso, produtor Teco Cardoso
- ‘É Tempo pra Viver’, de Mestrinho, produtor Mestrinho
- ‘Terra dos Sonhos’, de Renato Teixeira e Orquestra do Estado do Mato Grosso, produtor Leandro Carvalho
CANTOR
- Mestrinho (‘É Tempo pra Viver’)
- Renato Teixeira (‘Renato Teixeira e Orquestra do Estado do Mato Grosso – Terra dos Sonhos’)
- Vitoru Kinjo (‘Kinjo’)
CANTORA
- Andrezza Formiga (‘E tome Forró, Meu Bem!’)
- Lia Sophia (‘Não Me Provoca’)
- Mônica Salmaso (‘Caipira’)
DUPLA
- As Galvão (‘Soberanas’)
- Duo Balangulá (‘Certos Tipos e Suas Canções’)
- Kleber Albuquerque e Rubi (‘Contraveneno’)
GRUPO
- Quinteto Violado (‘Quinteto Violado, 46 anos’)
- Sertanilia (‘Gratia’)
- Trio Nordestino (‘Canta o Nordeste’)
CATEGORIA SAMBA
ÁLBUM
- ‘Ao Vivo, no Bar Pirajá’, de Moacyr Luz e Samba do Trabalhador, produtor Max Pierre
- ‘Espiral de Ilusão’, de Criolo, produtor Daniel Ganjaman e Marcelo Cabral
- ‘Munduê, de Diogo Nogueira, produtor Rafael dos Anjos e Alessandro Cardoso
CANTOR
- Criolo (‘Espiral de Ilusão’)
- Diogo Nogueira (‘Munduê’)
- Thiago Miranda (‘Samba pra Elas’)
CANTORA
- Ana Costa (‘Do Começo ao Infinito’)
- Leci Brandão (‘Simples Assim’)
- Sandra Portella (‘Banho de Fé’)
GRUPO
- Épreta (‘Épreta’)
- Moacyr Luz e Samba do Trabalhador (‘Moacyr Luz e Samba do Trabalhador, Ao Vivo no Bar Pirajá’)
- Tempero Carioca (‘Se o Samba Me Chamar’)
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