Gritos de “Fora, Temer”, protestos políticos, prêmios póstumos e uma linda homenagem a Gonzaguinha (1945 – 1991) marcaram a noite dessa quarta-feira, 22, durante o 27º Prêmio da Música Brasileira no Theatro Municipal do Rio de Janeiro. Canções icônicas do cantor e compositor foram lembradas em vozes especiais como as de Alcione, que entoou os versos de “Com a perna no mundo”, Ney Matogrosso, que levantou a plateia com sua interpretação de “Explode coração”, Luiz Melodia e Angela Rô Rô, que, juntos, cantaram “Grito de alerta”, João Bosco, que soltou a voz em “Galope” e outros. Pensa que foi só? Pois os mais jovens no cenário musical também tiveram seu espaço garantido. O paulistano Criolo, escalado para cantar “Comportamento geral”, fez uma versão toda própria da canção, com direito a versos politizados e improvisos nos quais criticou a homofobia, o machismo e o racismo. Ainda durante sua apresentação, o rapper substituiu o “você merece”, do refrão, por “você não merece” e convidou o público a se levantar contra o preconceito. A plateia do teatro foi ao delírio e Criolo foi aplaudido de pé. Quando o músico deixou o palco e Dira Paes, que foi a mestre de cerimônias do evento, voltou para anunciar a nova leva de vencedores das Categorias Especiais, a plateia se manifestou aos gritos de “Fora, Temer” e Dira falou sobre os horrores da ditatura militar sob muitos aplausos.
A banda Dônica também teve vez no evento e fez bonito com uma interpretação emocionada de “Lindo Lago do Amor”. O ator Júlio Andrade, que interpretou o artista no longa “Gonzaga: de pai para filho”, de 2012, subiu ao palco falando sempre em primeira pessoa e revisitando o papel que viveu há quatro anos. Ao lado dele, Dira Paes também apresentou esquetes sobre a vida do homenageado.
O evento, realizado desde 1987, reuniu um verdadeiro time de estrelas no tapete vermelho. Caetano Veloso, Gal Costa, Zélia Duncan, Elba Ramalho, Fafá de Belém, Victor e Leo, Chitãozinho e Xororó, Daniela Mercury, Mart’nália, Seu Jorge foram alguns dos nomes que passaram por lá. “É uma reunião de grandes amigos e artistas, além de uma premiação democrática, que engloba todas as categorias da música brasileira, que é tão bela e rica”, disse Gal Costa, ressaltando o merecimento de Gonzaguinha. “É uma homenagem muito especial. Ele foi um grande compositor e amigo”, contou. Fafá de Belém compartilhou a mesma opinião. “Fico muito honrada só de fazer parte desse ‘casting’, de estar indicada ao prêmio mais importante da música. Esse evento tem muita tradição e é um olhar generoso sobre todas as vertentes. Nem sempre o mainstream contempla a música como um todo, são muitos segmentos”, analisou.
Pois bem, a premiação foi generosa com diversos artistas em muitas categorias. Elza Soares chegou de surpresa para receber o prêmio de “Melhor álbum” na categoria “Pop/rock/reggae/hip-hop/funk” pelo álbum “A mulher do fim do mundo” e, em seguida, ao lado de Pretinho da Serrinha e Tiago da Serrinha, soltou a voz em uma versão emocionante de “O que é o que é”. Já a cantora e compositora Zélia Duncan, que assinou, pela terceira vez, o roteiro da festa, foi recordista de indicações desta edição: concorreu duas vezes ao troféu de melhor canção, por “Antes do mundo acabar”, em parceria com Zeca Baleiro e “Por água abaixo”, de Pretinho da Serrinha, Leandro Fab e Fred Camacho, além de disputar as categorias projeto visual, com Simone Mina, cantora de samba e álbum de samba, pelo disco “Antes do mundo acabar”. Ela levou para casa os troféus de “melhor canção” na categoria “Pop/rock/reggae/hip-hop/funk” e “melhor cantora” e “melhor álbum” na categoria samba.
Na categoria MPB, Caetano Veloso foi o vencedor do troféu “melhor cantor” e subiu ao palco, ao lado de José, um dos filhos de Gilberto Gil, para pegar o prêmio de “melhor álbum” por “Dois amigos, um século de música”. Na mesma categoria, o filho, Tom Veloso, levou o troféu de “melhor grupo” ao lado de sua Dônica. Fafá de Belém e Elba Ramalho ganharam dois prêmios cada. Enquanto Fafá ganhou o “melhor álbum” por “Do tamanho certo para o meu sorriso” e “melhor cantora” na categoria “Canção Popular”, Elba ganhou “melhor álbum” e “melhor cantora” na categoria “Canção Regional” com seu “Cordas, Gonzaga e Afins – Sagrama e Encore”.
O highlight da noite ficou por conta de uma parceria entre os três filhos de Gonzaguinha, Daniel, Fernanda e Amora Pêra, que subiram ao palco e interpretaram três músicas do cantor, encerrando com “Redescobrir”, imortalizada na voz de Elis Regina.
Vale destacar que, ao todo, 83 artistas e grupos competiram em 16 categorias e o sistema de votação foi composto por 21 integrantes. Foi uma pré-seleção de 532 CDs e 61 DVDs, até as escolhas finais e o foco não foram apenas os discos físicos, mas também mp3, downloads e serviços de streaming. Veja todos os vencedores abaixo:
Canção popular
Melhor cantor: Roberto Carlos (‘Primeira Fila’)
Melhor álbum: ‘Do tamanho certo para o meu sorriso’, de Fafá de Belém, produtores Felipe Cordeiro e Manoel Cordeiro
Melhor grupo: Jamz (‘Insano’)
Melhor cantora: Fafá de Belém (‘Do tamanho certo para o meu sorriso’)
Melhor dupla: Chitãozinho e Xororó (‘Tom do Sertão’)
Especiais
Álbum em língua estrangeira: ‘Cauby Sings Nat King Cole’, de Cauby Peixoto, produtor Thiago Marques Luiz
Álbum infantil: ‘Para Ficar Com Você’, de Palavra Cantada, produtores Paulo Tatit e Sandra Peres
Álbum eletrônico: ‘Gaia Musica – vol. 1’, de Dj Tudo e Sua Gente de Todo Lugar, produtor DJ Tudo
Álbum projeto especial: ‘Café no Bule’, de Zeca Baleiro, Naná Vasconcelos e Paulo Lepetit, produtores Zeca Baleiro, Naná Vasconcelos e Paulo Lepetit
Melhor DVD: ‘Loucura – Adriana Calcanhotto canta Lupicínio Rodrigues’, de Adriana Calcanhotto, direção de Gabriela Gastal
Álbum erudito: ‘Sinfonia nº12, Uirapuru e Mandu-Çarará’, de Villa-Lobos, interpretado pela Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo, produtor OSESP
Regional
Melhor cantor: Xangai (‘Xangai’)
Melhor cantora: Elba Ramalho (‘Cordas, Gonzaga e Afins (Sagrama e Encore)’)
Melhor dupla: Almir Sater e Renato Teixeira (‘AR’)
Melhor álbum: ‘Cordas, Gonzaga e Afins (Sagrama e Encore)’, de Elba Ramalho, Produtores: Sergio Campello e Tostão Queiroga
Melhor grupo: Ilê Aiyê (‘Bonito de se Ver’)
Pop/rock/reggae/hip-hop/funk
Melhor cantor: Lenine (‘Carbono’)
Melhor álbum: ‘A Mulher do Fim do Mundo’, de Elza Soares, produtor Guilherme Kastrup
Melhor grupo: Titãs (‘Nheengatu – ao vivo’)
Melhor cantora: Gal Costa (‘Estratosférica’)
Categoria melhor canção
‘Antes Do Mundo Acabar’, de Zeca Baleiro e Zélia Duncan, intérprete Zélia Duncan (CD ‘Antes do mundo acabar’);
Categoria revelação
Simone Mazzer (‘Férias em Videotape’)
Instrumental
Melhor álbum: ‘Tocata à Amizade’, de Tocata à Amizade, produtores Yamandu Costa e Rogério Caetano
Melhor solista: Hamilton de Holanda (‘Pelo Brasil’)
Melhor grupo: Tocata à Amizade (‘Tocata à Amizade’)
Categoria projeto visual
Tereza Bettinardi por ‘Dancê’, de Tulipa Ruiz
Categoria arranjador
Guinga por ‘Porto da Madama’, de Guinga
Categoria MPB
Melhor álbum:‘Dois Amigos, um século de música’ de Caetano Veloso e Gilberto Gil, produtores Caetano Veloso e Gilberto Gil
Melhor cantor: Caetano Veloso (‘Dois Amigos, um século de música’)
Melhor cantora: Virginia Rodrigues (‘Mama Kalunga’)
Melhor grupo:Dônica (‘Continuidade dos Parques’)
Categoria samba:
Melhor álbum: “Antes do mundo acabar”, de Zélia Duncan, produtora Bia Paes Leme
Melhor cantor: Alfredo Del-Penho (“Samba Sujo”)
Melhor cantora: Zélia Duncan (“Antes do mundo acabar”)
Melhor grupo: Moacyr Luz e Samba do Trabalhador (“Moacyr Luz e Samba do Trabalhador – 10 anos e outros sambas”)
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