Em sua noite de abertura, o Rio das Ostras Jazz & Blues 2014 faz o público sentir a onda da música na veia


Em novo formato e agora distribuído por dois finais de semana, o evento começa suingado, com Marcus Miller e Pepeu Gomes se destacando entre atrações de alto nível

* Por Bruno Muratori

O Rio das Ostras Jazz & Blues Festival enche os cariocas e fluminenses de orgulho! Afinal, é coisa nossa, tem selo brasileiro e é hoje uma referência da boa música, sendo apontado com um dos bons festivais do gênero no mundo, portanto, motivo para se inflar o peito! Começou de forma despretensiosa, em um papo entre amigos e na inspiração que vem de quem sempre tem alguma ideia e quer deixar a sua marca pelo melhor caminho, ou seja, fazendo a diferença. Assim, foi se tornando tradição e hoje já são 12 anos mudando a rotina do balneário fluminense e de todos que passam por essa festividade.

HT fez as malas e foi conferir in loco mais uma edição, tentando, como uma antena parabólica, captar tudo que anda rolando no evento e procurando traduzir em palavras a ótima energia destes seis dias de puro jazz’n’blues na Região dos Lagos. E, se o leitor pensa que é complicado chegar, é bom nem entrar nessa. Afinal, vale até a certeza de que é bem mais fácil ir da Cidade-Maravilha à Rio das Ostras do que da Barra da Tijuca ao Centro do Rio. Fato. Basta aproveitar o percurso e ir baixando o aplicativo do festival, que é uma novidade neste ano: funciona para smartphones e tablets, possibilitando aos fãs destes gêneros musicais montarem sua agenda de shows, terem acesso a informações úteis e até acharem aquele amigo perdido no evento ou ainda aquela paquera.

Logo de cara, quem aporta nesta cidade da Região do Lagos observa a excelente estrutura e organização, com gente bonita e vestida para matar, em chiquitude que deixaria Gloria Kalil toda faceira. Então, nada mal levar umas esbarradas aqui e ali e até aproveitar para sensualizar, fica a dica! O festival começou nesta sexta-feira (8/8) às 20h, na Cidade do Jazz (Costazul) que, além do palco principal, conta ainda com uma praça de alimentação montada numa enorme tenda iluminada por “candeeiros” para lá de charmosos. São 25 restaurantes e bares, 12 quiosques de produtos artesanais da cidade, de CDs, revistas e camisetas, além de telões que transmitem os shows ao vivo, com o light design sendo um detalhe à parte, conferindo charme extra madrugada adentro. Cuidado de acabamento que chama a atenção dos participantes, tal como a excelente distribuição dos banheiros. Ninguém fica apertado e pasmem: limpíssimos e alguns até com jarros com flores!

Entre as atrações, um espaço muito interessante é aquele que lembra um pub inglês. A Casa do Jazz esteve lotada do início ao fim nesta primeira noite, normal assim como edições passadas. A programação do badalo, que tem produção da Fundação Rio das Ostras de Cultura, foi aberta pela Coutt Orchestra, seguida de Alyne in Blues e Aroldo Sampaio Trio, Banda Bagunço e Junkie Buda. Sim, por falar em abertura no palco principal, esta ficou a cargo da banda sensação do momento após explosiva participação no programa “Superstar”, da TV Globo: os meninos da banda Jamz – nada mais que merecido! Afinal, dois integrantes são de Rio das Ostras e, eram até pouco tempo atrás, meros wannabes com aquele sonho de um dia subir ao palco. “Tudo pode ser e, se quiser, será…”

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Em seu show, nota-se um público jovem e nitidamente fã dessa “tchurma”, entre meninas histéricas e meninos tentando segurar a onda para não mirar muito nos meninos. Todos indo na onda cover de “Never Felt So Good”, que levou todo mundo a se mexer. Em seguida, entra a Orquestra Municipal Kuarup Sopros & Cordas, acompanhada pela Cia de Dança Baía Formosa. A orquestra é regida por Nando Carneiro, que faz um belíssimo trabalho inspirando a garotada da cidade a seguir esse fluxo de amor à música. Seu repertório bossa nova contagia e o homenageado é Dorival Caymmi, carta na manga surpreendendo o público.

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Após essas boa surpresas da noite, é a vez de Carlos Malta e Pife Muderno. Bom, ouvir a flauta desse gênio é mesmo uma catarse que leva a mares profundos, e é preciso ter ouvido capaz de ouvir e entender estrelas. O destaque vai para o percussionista Marcos Suzano – uma instituição! Afinal, o que ele faz com o pandeiro é mesmo surreal, de tirar o fôlego, com toda banda numa sintonia incrível. Nem é preciso dizer que essa energia by Carlos Malta leva todos a brincar no palco como se este fosse o quintal de casa. Dá até para viajar ao Nordeste e pedir a alguma mulher rendeira para entrar na festa.

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Mas, o ponto alto da noite (aguardadíssimo!) é o nova-iorquino Marcus Miller, conhecidíssimo como o baixista que já tocou com vários expoentes do meio, inclusive Miles Davis e David Sanborn. Currículo de responsa. Ele esbanja simpatia e é de uma propriedade no palco que até os mais íntimos com o estilo mostram-se estupefatos com o fato de cada música levar 15 minutos, sem cansar, conduzindo a plateia ao delírio total durante um set de uma hora e quinze minutos. Ele toca várias músicas que fizeram parte de sua carreira em álbuns como “Renaissance”, dentre outros, e termina em magnífica apresentação com a música free do CD “Blast, de 2007.

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Mas quem fecha a noite (ou melhor, a madruga, porque o agito avança até altas horas) é Pepeu Gomes, em família ao lado do filho Filipe Pactual, os dois mostrando a virtuose que levou o pai a ser considerado pela revista Guitar World como um dos dez melhores guitarristas do mundo na categoria ‘World Music’. É mole? O relógio já marca 4h quando ele sobe ao palco, ovacionado pelos fãs, que não demonstram a menor intenção de ir embora, apesar do horário.

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Entre uma pausa e outra, HT conversa com o simpaticíssimo Stenio Mattos, organizador do festival, e pergunta se ainda rola aquele friozinho no estômago ou se dá para relaxar e seguir em frente, sentindo a maresia após uma dúzia de anos de badalo. “Sempre dá, não tem jeito. Ainda mais nesse ano com esse novo período e esta nova proposta de formato. É como se a gente tivesse fazendo tudo pela primeira vez. Sempre foi um sonho nosso tocar o festival em duas semanas, pois além de aumentar o evento, a gente teria no meio da semana, com o palco Costazul montado, espaço para produzir outras atividades, gerando cultura. Um desafio e nova experiência bem cansativa, com a gente ficando apreensivo, mas é muito gratificante porque termos estas outras ações, principalmente o concurso de bandas, no qual se inscreveram 35 grupos. Valorizamos a música local e principalmente o gênero por aqui. Só pode participar quem é da região”, ele conta, completando que serão realizados vários workshops pela cidade, além da presença de grupos de dança da locais.

E essa divisão também seria um mimo aos músicos, possibilitando mais talentos a participar do evento? “Não, queríamos aumentar o festival sem estarmos restritos ao feriado. Como esta sempre era data oficial, demos principalmente  ouvidos ao comércio local e à associação de pousadas, ao seu pedido para gerar mais renda para a cidade. E como sempre estamos atentos e pensando em nossa localidade, resolvemos atender”, revela Estenio.

E, questionado sobre como que o festival pode inspirar as pessoas, o produtor cultural comenta que “é muito gratificante saber que, por exemplo, o Paulinho do Jamz foi o meu carregador há oito ou nove anos atrás, sendo super fã da empreitada. Como sempre dou chance aos os caras, vê-lo no palco pra mim é uma emoção sem igual!” E, por falar neste processo de construção do festival, Estenio não para! Tanto que já está no gatilho com grandes nomes para a próxima edição, ano que vem, soltando para o HT, em primeira mão, quem será um dos grande nomes a abrilhantar o próximo line up: Esperanza Spalding, com quem já está acertando os últimos detalhes. Hum, ficou com vontade de conferir? Bem, já está rolando o evento e, após este final de semana, ainda tem o próximo, dos dias 15 a 17 de agosto. Está esperando o quê para aterrissar de mala e cuia em Rio das Ostras?

*Carioca da gema e produtor de eventos, Bruno Muratori é uma espécie de fênix pronta a se reinventar dia após dia. No meio da década passada, cansou da vida de ator e migrou para a Europa, onde foi estudar jornalismo. Tendo a França como ponto de partida, acabou parando na terra do fado, onde se deslumbrou com a incrível luz de Lisboa e com o paladar dos famosos pasteis de Belém, um vício. Agora, de volta ao Rio, faz a exata ponte entre o pastel de Belém e a manjubinha