SPFW inverno 2014 day #1: das brumas escocesas ao futebol-arte, passando pela África das chiques e a dancinha da moda


Animale, UMA, Tufi Duek e Osklen dão partida à maratona de desfiles

A Animale abriu a SPFW com um desfile que misturou a tradição e o futuro. O tema foi a mística celta o que, na prática, significa que a marca usou fez uso dos códigos dessa antiga cultura bretã para vestir sua coleção. Naturalmente, gaitas de fole misturadas a um pancadão sublinharam perfeitamente a coleção que transitou entre o a Escócia e punk, o neo esportivo e a mitologia druida, com os kilts e tartans – que seriam de se esperar – comparecendo de maneira sutil. Tricôs em efeito devorê, renda, feltro e gaze dividiram a cena com o couro ecológico, com boas soluções criadas pela estilista Priscila Darolt para interpretar as montagens características da estética punk como a sobreposição de kilt sobre calça, um standard nesse estilo. No caso, ela desenvolveu calças em couro que têm um falso kilt sobreposto, mas que é uma extensão da própria peça. Bem bacana. E vestidos com zipper transversal. E, como a grife sabe muito bem trabalhar o supermercado de estilos para atender sua clientela fiel, até mesmo a pouco comercial saia midi deu as caras devidamente adaptada para satisfazer os anseios dessas consumidoras: duas fendas revelavam um pouco as pernas das modelos. Aliás, neste quesito top model, a marca sempre costuma arrasar. Além de Karlie Kloss, tops-druidas de Avalon como Ana Beatriz Barros, Cinthia Dicker, Alicia Kuczman, Bruna Tenório, Bárbara Berger, Angélica Erthal, Marcelia Freesz, Renata Kuerten e Lovani Pinow compuseram o star system do show, que ainda contou com a presença chique – mas hoje bissexta nas passarelas – da apresentadora Caroline Ribeiro.

Em seguida, o minimalismo da UMA dançou. Literalmente. A grife de Raquel Davidowicz abdicou dos modelos para apresentar sua coleção feminina e masculina em um espetáculo de dança encenado pela São Paulo Companhia de Dança, uma das mais respeitadas do país. Os bailarinos evoluíram na passarela em looks que são a cara da marca, devidamente antenados com o vocabulário fashion do próximo inverno: sportswear, bicromias e monocromias, cinza-mescla, preto, azul bic, saias pregueadas, amarrações na cintura com jeitinho oriental e muito legging, já que este é peça emblemática nesta estação. Além de bela coleção, o desfile foi prova de que é possível ser performático sem deixar de priorizar o principal, que é mostrar a roupa. Ponto para a UMA.

A grife Tufi Duek apostou em uma releitura contemporânea da África e deu certo. Eduardo Pombal fez mesmo uma coleção que é a cara da riqueza, com o trabalho do fotógrafo malinês Malick Sidibé como fonte de inspiração. Mas, tanto para o artista quanto para a marca, essa África é chique, com o primeiro retratando a alta sociedade desse continente nos anos 1950/60 e com a segunda soprando modernidade minimalista na exuberância africana. Afinal, a mulher da Tufi Duek é poderosa e cool, prefere usar formas limpas, com recortes futuristas, franjas em camadas – que remetem à palha dos figurinos tribais usadas de forma sofisticada, nada étnica. Praticamente, o universo afro traduzido em geometrias e grafismos limpos, nada gestuais, meticulosamente desenhados em tecidos como seda, couro, ráfia e fibras e de lãs. Os acessórios com alusão às presas de feras e os saltos das gladiadoras em forma de marfins causaram furor na plateia, assim como a presença magnética de Isabeli Fontana abrindo e fechando o desfile.

Oskar Metsavaht fechou a noite marcando um gol de placa. Observando esse esporte como um fenômeno cultural brasileiro, ele desenvolveu uma coleção que abusou dos registros fotográficos das partidas de futebol e da memória afetiva daqueles saudosos documentários do finado Canal 100. Tanto que até a música desse último foi usada pelo Gomus na fila final. Paola Rahmeier puxou o time da Osklen para o campo em montagens que brincam com esses arquétipos esportivos, com direito a vestidinho de gramado, estampas que reproduzem a rede das traves, prints digitais que estilizam a alegria das arquibancadas, debruns que aludem aos faixas das quadras e listras que remetem aos uniformes dos jogadores. No geral, a marca traduziu para o seu estilo o corolário sportswear da temporada, com formas cocoon, recortes variados gráficos, texturas e minimalismo em gamas fortes que lembram as cores dos times como esmeralda, coral e amarelo, além de preto e branco.

Fotos: Agência Fotosite