SICC 2023: Com sua expertise, Frederico Pletsch, diretor da Merkator, lança um olhar 360 graus para setor calçadista


À frente da empresa promotora do Salão Internacional do Couro e do Calçado (SICC), principal plataforma de lançamento e negociações das coleções Primavera-Verão entre os players das indústrias de calçados, bolsas, acessórios, e lojistas e compradores nacionais e internacionais, Frederico Pletsch fala da histórica 30ª edição da feira, que será realizada em Gramado, na Serra Gaúcha, entre os dias 22 e 24. Em entrevista exclusiva, ele comenta ainda a trajetória de vida, o recorde de público esperado e o sonho realizado de ter a cidade gaúcha como epicentro de negociações nacionais e internacionais

SICC 30ª edição: geração de negócios e um horizonte para internacionalização da indústria calçadista brasileira

Contagem regressiva e todos os holofotes voltados para o Salão Internacional do Couro e do Calçado (SICC), principal plataforma de lançamento e negociações das coleções Primavera-Verão entre os players das indústrias de calçados, bolsas, acessórios, e lojistas e compradores nacionais e internacionais, realizada em Gramado, na Serra Gaúcha, entre os dias 22 e 24. Esta será a 30ª edição da feira, que já cravou sua chancela em prol de toda a cadeia produtiva do calçado made in Brasil  em sinergia com o varejo. E tudo teve início com o olhar visionário de um apaixonado por música e sapatos: Frederico Pletsch, empresário gaúcho que contribuiu para que Gramado, cidade a 104km da capital, Porto Alegre, se tornasse o epicentro do fazer a roda da economia do setor girar em alta potência. À frente da Merkator Feiras e Eventos, promotora que também assina a Zero Grau, voltada para o Outono-Inverno e realizada em novembro – sincronizando o tempo de produção das fábricas com a necessidade de abastecimentos do varejo para o primeiro semestre do ano, um período fundamental de vendas -, Pletsch, em janeiro, contabilizava, faltando ainda 100 dias para o início do SICC, 80% dos espaços disponíveis para locação esgotados. “Bah, meu sonho é estimular cada vez mais as negociações a nível mundial e estamos bem perto desta conquista do protagonismo do SICC no contexto internacional”, pontua, acrescentando ser crucial para o setor, pois, além de possibilitar o estabelecimento de relações olho no olho para o business, é uma vitrine importante para o segmento. O Brasil é o quarto principal produtor mundial de calçados.

Nascido em uma família de colonos do interior do Rio Grande do Sul, Frederico Pletsch revelou a determinação caraterística de uma família de imigrantes. Sua ascendência reescreveu a própria história quando chegou em solo brasileiro. Inicialmente os familiares eram campesinos plantadores de batatas que transformaram-se em produtores de calçados. Algo do qual diz orgulhar-se: “Ao longo dessa trajetória, o meu maior legado é o de ter conseguido montar a maior feira do setor calçadista, aquecendo todo o cenário em uma das cidades mais bonitas do Brasil: Gramado”, frisa. E ele arregaça as mangas, sou testemunha nesses anos todos que acompanho o SICC. Só para você, leitor, ter uma ideia, assim que o país entrou em lockdown por conta da pandemia do coronavírus, Pletsch estava com uma feira toda alinhavada. Em questão de dois meses foi pioneiro em mudar a rota 360 graus e migrar do contexto físico para o digital, mas destacando o mesmo compromisso com a qualidade e a inovação. A Merkator fomenta, através de suas feiras, a comercialização do que há de mais inovador e tecnológico no mercado, funcionando como uma ponte entre compradores do Brasil de Norte a Sul e do mundo.

Frederico Pletsch ganhou o título de “Cidadão Gramadense” pelo empreendedorismo na cidade, proporcionando empregos diretos para fornecedores locais, impostos públicos, geração do turismo de negócios, visibilidade do município no Brasil e em mais de 40 países. O SICC, por exemplo, proporciona o start das comercializações do que há de mais mais inovador nas coleções, cores, materiais e inspirações das principais marcas do país, que conquistam os consumidores do Brasil e do exterior. E quem sempre endossou as palavras do diretor da Merkator Feiras e Eventos foi Roberta Pletsch, diretora de Relacionamento da empresa. “Meu pai com a sua persistência, crença no produto e garra construiu uma das maiores feiras do Brasil. Ele acreditou em um sonho e foi lá e fez, mostrando para todos que era possível”.

O sucesso do SICC é conseguir agregar a moda plural: tanto a da indústria de alta produção como as indústrias de médio e pequeno porte. Oferecemos ao lojista os mais variados tipos de calçados: masculino, feminino, infantil, esportivo, além de bolsas, cintos. Todos os mais diversos acessórios em um só local e certamente vai solidificar relações comerciais durante e pós-feira – Frederico Pletsch

Frederico Pletsch: Diretor da Merkator verte seu olhar para o futuro do setor calçadista (Foto: Dinarci Borges)

A força de quem sempre acreditou em sonhos

Heloisa Tolipan –  Gostaria muito que abrisse o coração e me contasse um pouco sobre sua história de vida. Qual o caminho que trilhou até aqui?

Frederico Pletsch – Eu nasci em janeiro de 1950, em Novo Hamburgo (RS), onde meus pais eram fabricantes de calçados e a minha vida, desde muito pequeno, foi dentro de fábrica. Eu perdi meu pai muito cedo. Mas fiz de tudo para deixar a minha família numa boa. Desde os anos 60, eu passei pela área de vendas produção, representação até promover de feiras permeadas pelos valores da humildade, comprometimento e união. Enfrentamos muitos altos e baixos, mas  conseguimos vencer.

HT –  Qual o maior significado de ter memórias afetivas tão presente em suas ações?

FP –  Eu tenho muito orgulho da minha história familiar. Meu pai sentiu o chão batido da terra do Rio Grande do Sul. O meu avô, anteriormente, plantava batatas para viver, criava porcos. Todos oriundos de uma agricultura familiar. Com 13, 14 anos, meu pai foi atrás de emprego [no ramo calçadista] e conseguiu. Começou fazendo saltos e trabalhos com couro. Eu, que trabalhei muito com música também e, de repente, fui fazer um pequeno desfile para uma promotora de eventos, estou aqui trabalhando há 50 anos. A grande maioria das pessoas da nossa região acompanhou passo a passo do nosso trabalho promovendo o calçado brasileiro. O meu maior brio, o legado que tenho e levo é o de ter conseguido montar a maior feira de calçados em Gramado.

HT –  Como foi compartilhar conhecimento com sua filha, Roberta, e como vê o trabalho dela hoje ao seu lado como diretora de Relacionamento da Merkator Feira e Eventos?

FP: A minha filha sempre foi uma apaixonada pelos esportes. Uma grande tenista, participou de muitos campeonatos e observou as condições do próprio esporte e eu dei muita força a ela. Com o tempo, ela cursou a Faculdade de Turismo e de Mercado de Promoções. Fomos sempre muito ligados e Beta foi dedicando-se a isso. Nós nos damos muito bem. Ela se aperfeiçoou e eu fui passando o que pude de experiências no setor. De modo que, hoje, parece que é ela quem manda em mim. Roberta é uma boa promotora e faz tudo acontecer.

Frederico Pletsch e Roberta Pletsch à frente da Merkator promotora do SICC, em Gramado (Foto: Dinacir Borges)

HT –  Você costuma ressaltar que cada um que trabalha na Merkator também faz parte da família. Como criar estes laços? Quais as histórias de vida de cada um com você?

FP: Eu sempre tive o prazer de ver cada uma das pessoas que trabalham na empresa galgarem seus espaços com afinco. Nunca fui de contratar gente que já vem pronto do mercado. Eu treino meus colaboradores desde a pré-venda e os instruo a estar lá, a tratar bem os clientes. Algo que acaba por criar laços. Hoje, eu tenho um time todinho, perfeito e posso me orgular de cada um dos integrantes.

Talvez o meu grande segredo é que todos os colaboradores, sem exceção, são focados em ter uma rotina sensacional  – Fred Pletsch

HT –  A sua chancela é ser o maestro de eventos que contribuem para o mercado da moda e criando ambientes de network e negócios. Qual o feedback que sentiu em todos esses anos?

FP: Para mim, o fato de trazer o empresário, o comprador ou o vendedor. Não é uma simples feira. Tem que agregar muita coisa. Eu sempre penso a partir do tripé business, turismo,  já que Gramado é uma cidade turística e cada dia que passa mais linda e informação e todos os dias têm excelentes palestrantes falando sobre diversos assuntos.

HT – O SICC vai receber número recorde de lojistas brasileiros e importadores para marcar sua trigésima edição. Como foi chegar até aqui e consolidar como plataforma inovadora de negociações com vasta repercussão?

FP: Esse ano vai ter recorde de lojistas brasileiros e expositores. Teremos aqui gente de Portugal, da Espanha e da Argentina expondo com a gente, provando que a nossa feira pode ser de qualidade mundial. Um dos meus sonhos que eu queria muito realizar já é realidade. Na América do Sul realizamos nosso evento sempre no mesmo período, o que se reflete em mais expositores, consequentemente, também passa a ter mais compradores. Estamos na estação fria, então nós vamos conseguir vender com calma a produção Verão. Lá por agosto, setembro, há tempo de as peças chegarem na Arábia Saudita. Quando eles vêm aqui comprar bota em pleno Verão, estarão recebendo-a em abril ou maio. Isso é o grande despertar, o que conseguimos mudar. Isso agregado ao valor do sapato brasileiro, com tecnologia e sendo um dos melhores do mundo.

Frederico Pletsch acredita que seus colaboradores são determinantes para o seu sucesso (Foto: Dinarci Borges)

HT –  O SICC sempre teve seu olhar voltado também para os médios e pequenos produtores. O grupo Estação Moda RS e o Três Coroas Shoes (RS) já estão confirmadíssimos mais uma vez.

FP:  As pequenas e médias indústrias estão proporcionando um diferencial enorme e que representam lucro para o lojista. Os compradores começaram a entender a importância de novos projetos com alto valor agregado.

HT: Um grupo de expositores de Juazeiro do Norte (CE) aderiu à feira. Como foi esta negociação para ter o Nordeste pulsando na SICC. O que tem a falar sobre a potência da produção de calçados no Ceará?

FP: Antes da pandemia, nós estávamos crescendo muito em Natal e em João Pessoa e ali começamos a fazer um trabalho de feira regional e entrando cada vez mais. Em Juazeiro do Norte tem muitos profissionais produzindo de 4 a 30 pares/dia e gente pensou em ter eles conosco. O próprio Sebrae está ajudando e fazendo muita força junto aos sindicatos e virão muitos lojistas também do Nordeste. A nossa imagem vai se fortalecendo junto a estes fornecedores.

HT –  São 58 empresas do Rio Grande do Sul participando do SICC e a viabilização contou com coordenação do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas empresas SEBRAE/RS e com apoio institucional da ACI/NH/CB/EV e do Sindicato das Indústrias de Calçados e Artefatos de Farroupilha, e financeiro das prefeituras de Novo Hamburgo, Sapiranga, Farroupilha, Campo Bom e Igrejinha. Nos conte sobre esta união de forças.

FP: Toda esta parceria foi construída lá atrás. Percebi que estava fazendo uma feira em Gramado e precisava deles como entidades para poder montar a programação. A Merkator criou o conselho e eu faço uma reunião em Gramado e levo esses fabricantes e representantes do Sindicato da ACI e sentamos numa sexta-feira à tarde e ficamos horas pensando na programação. Criamos laços de amizade e decidimos o planejamento, os preços e ouvimos o que o mercado está dizendo, o que o lojista está vendendo. Estamos cada vez mais fortes e interligados.

HT –  Também do Rio Grande do Sul tem o grupo Três Coroas Shoes com 16 empresas que têm o apoio da prefeitura de Três Coroas e do Sindicato das Indústrias de Calçados de Três Coroas. O que pode ressaltar de diferencial sobre a produção calçadista de Três Coroas?

FP: O arrojo. É um sindicato atuante e trabalha levantando a marca e a cidade. Um sindicato fortíssimo. A Prefeitura é de uma cidade que sempre tem festa e foi a primeira do Brasil a tratar 100% do lixo na indústria do calçado. Trata-se de um assunto resolvido e eles reaproveitam tudo do lixo. Não existe resíduo industrial em Três Coroas por causa dessa conexão entre todos.

HT:  Com a mudança de Governo como tem sentido o reflexo no setor calçadista?

FP: É uma grande dúvida para que lado o Lula vai levar o Brasil, mas de uma forma geral o país está maduro. Não dá para aguentar as inconstâncias da política quando um faz, outro desfaz e um terceiro torna a desfazer. Eu acho que o Brasil como um todo colocou as barbas de molho e vamos continuar, porque, se não seguirmos firmes, a coisa não vai para frente. Acho que este é um momento em que os empresários precisam se preocupar tanto com as lideranças politicas como as dos seus respectivos setores. Hoje não existe uma figura líder, na política muito menos.

SICC deve receber recorde de público (Foto: Dinarci Borges – FlashTOP)

HT –  Como atrair tantos importadores para SICC? O que eles mais compram nas feiras promovidas pela Merkator?

FP: Na época que eu fiz essa proposta, o sindicato eu queria dar um percentual do faturamento para eles, mas não queriam. Gostaram tanto do que viram que só naquela determinada edição, demos 50 passagens aéreas para importadores da África, da América, da Ásia. Na segunda vez, só a estadia. Na terceira, eles vieram voluntariamente e virou uma necessidade e já há 150 a 200 importadores que vão vir para esta edição. É uma imensidão de gente que aproveita também da cidade e este foi o diferencial para que o evento seja muito conhecido mundialmente. A própria China esta querendo vir. Os importadores têm preferência por calçado femininos. Nos masculinos, Portugal sai na frente ainda que tenham excelente fabricantes de sapatos masculinos.

HT –  Em março, dados dão conta que a segunda semana deste mês de março, as exportações totais do país cresceram 13,3% em relação ao mesmo período do ano passado, somando divisas de mais de US$ 12 bilhões. Pode comentar sobre este cenário hoje?

FP: As exportações seguraram a maioria dos negócios durante a pandemia já que os americanos estavam sem estoque. É o que posso dizer, ainda que afirmando não categoricamente.

Frederico Pletsch afirma que uma ação cooperativada é um dos segredos que garante o sucesso da SICC e da Zero Grau (Foto: Dinarci Borges)

HT –  Quais as ações da SICC em prol da sustentabilidade durante sua realização? Pesquisas recentes mostram que os consumidores darão preferência a marcas com proposta e que tenham uma pegada claramente social e de sustentabilidade. Comente o que você tem visto a respeito de mudanças.

FP: A gente começa fazendo coisas dentro daquilo que as normas nos permite. Cuidando da saída do esgoto, da energia e tudo o que é possível nas normas e há um crescimento maior de recursos para a o que se faz com o descarte adequado. A energia elétrica à base de gerador e água de reuso. Temos que melhorar isso. A sustentabilidade é um caminho sem volta todo mundo vai ter que entrar nessa.

HT –  De que forma conseguiu realizar um evento de incentivo ao setor calçadista e ao empreendedorismo durante tanto tempo com um país que tem uma economia tão oscilante?

FP: Através de um a ação cooperativada.

HT –  O novo varejo Varejo 4.0 não diz respeito apenas à tecnologia, mas também trata do ambiente, das pessoas, dos serviços prestados, da maior integração entre o físico e o online, com o objetivo de melhorar a experiência do cliente. Como você vê este cenário?

FP: Não tem escapatória. O pessoal está criando tecnologias para os sapatos nos quais os clientes não precisam nem experimentar o calçado. A ideia é que o cliente escolha o modelo ponha a medida do seu pé no computador e dentro de quatro dias o produto esteja pronto e entregue em consonância com o pé do cliente. Falta que isso seja viabilizado financeiramente. Cada vez mais o e-commerce se estabelece e é tudo uma questão de ver e a internet vai regular isso. Trata-se de um caminho sem volta. Na pandemia oferecemos a melhor situação possível dentro de um ambiente virtual”.

HT – Quais os avanços tecnológicos que vislumbra?

FP: Está chegando o momento em que será possível comprar um sapato novo só se levando o velho. Estamos lançando mão de ações em favor da sustentabilidade. Em breve creio que vá ser possível comprar um novo a partir da cessão do velho: o cliente leva o seu sapato velho para a loja, que não precisa ser aquela na qual o produto foi inicialmente comprado. Ela vai encaminhar para a fábrica, que vai desmontá-lo e, assim, contribuir com a circularidade. Em Três Coroas, por exemplo, quase todas as indústrias tem ar condicionado central a partir de iniciativas sustentáveis de energia.

HT –  Quais as dores e delícias de continuar se dedicando à promoção de uma feira de suma importância? O que o inspira ainda e mais?

FP: As dores são as injustiças, a raiva, as maledicências, que fazem com a gente. Toda hora querem me destruir e isso dói muito. Dizem inúmeras fake news… Entre as delícias, chegar onde cheguei, e que consegui diante de muito esforço. E a minha família: ter uma companheira como a minha mulher, Cristina, ser pai, avô e estar presente.