SENAI CETIQT: Vem saber sobre o protocolo para a retomada das atividades nas confecções com segurança na pandemia


Documento elaborado em conjunto por Abit, SENAI CETIQT, Sesi e Sebrae contempla empresas de todos os portes e visa a promover a volta ao trabalho com o mínimo de riscos à saúde de todos os profissionais envolvidos

A pandemia de Covid-19 tem gerado uma quantidade inédita de conhecimentos científicos e nos fez repensar nossas atitudes diante do cotidiano. Pessoas no mundo todo estão tendo de lidar como uma enfermidade grave e se viram forçadas a mudar formas de agir até há poucos meses tidas como inquestionáveis. Se ainda não temos a cura efetiva, pelo menos estamos buscando maneiras razoavelmente seguras de controlar a doença, a ponto de podermos retomar a vida como a conhecíamos – dentro do que vem sendo chamado de “novo normal”, claro. Um novo normal que envolve a adoção de cuidados com a higiene e normas sociais que nos permitem seguir em frente com segurança.

Pois foi pensando na segurança do trabalhador do setor de confecção que foi realizado o Protocolo de Retomada das Confecções em uma ação que envolveu Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit), SENAI CETIQT, Serviço Social da Indústria (SESI) e Sebrae. O documento, completíssimo, visa a proteger a saúde e a segurança dos colaboradores das confecções, um universo que reúne cerca de 1 milhão e 200 mil profissionais em todo o Brasil. A indústria têxtil e de confecção é o segundo maior empregador da indústria de transformação, com 1,5 milhão de postos formais de trabalho atuando nessa atividade econômica. Lançado durante um webinar, do qual participaram o presidente do Conselho de Administração da Abit, Fernando Pimentel; o presidente emérito da Abit, Rafael Cervone, a psicóloga Geórgia Antony Gomes de Matos (SESI), o engenheiro de segurança Dernival Barreto Medrado Neto (SESI), o médico do trabalho Cláudio Patrus de Campos Bello, do SESI e o consultor industrial Luiz Cláudio Leão, do SENAI CETIQT, o protocolo foi pensado para abranger empresas de todos os portes e características. Trata-se de um trabalho dinâmico, mas que já tem um corpo extremamente sólido de regras a serem seguidas pelas empresas que buscam o bem-estar de seus funcionários.

O consultor do SENAI CETIQT Luiz Cláudio Leão chama a atenção para a necessidade fundamental de se compartilhar informações: “Nós estamos falando de vidas”, ressalta. “Temos hábitos que passam despercebidos no nosso dia a dia. É muito comum levarmos as mãos ao rosto. Existe um estudo de 2015 com estudantes de medicina da Austrália e eles sinalizaram que nós colocamos a mão no rosto cerca de 23 vezes por hora. Ou seja, é um contato muito frequente na boca, no nariz e nos olhos. Temos de orientar devidamente as pessoas que trabalham no chão de fábrica. Essas informações não podem, não devem ficar retidas somente com o proprietário da empresa. Isso tem que ser amplamente divulgado. E para quem trabalha no chão de fábrica a repetição das informações é o grande segredo para vencermos essa pandemia”.

Fernando Pimentel abriu os trabalhos analisando que o número grande de profissionais envolvidos nas confecções exige muitos cuidados, na medida que estamos enfrentando um cenário de pandemia e, consequentemente, os protocolos de funcionamento farão toda a diferença para haja uma retomada segura e consistente. “As incertezas continuam no ar. Aliás, a única certeza que nós temos é que nós temos muitas incertezas, idas e vindas no comércio e, a ciência evoluindo para descobrir ou desenvolver novas perspectivas e conhecimentos desse micro-organismo que está impactando a todos nós. Estamos construindo o caminho através do nosso andamento. Consequentemente, esse documento que nós estamos apresentando é um documento que será vivo. Ele não é um documento definitivo e vai evoluir a partir das sugestões que nós formos recebendo. O documento não é algo escrito sobre a rocha. Mas tem ali um grande caminho já trilhado e traçado para que a gente possa desenvolver processos novos que nos tornem cada vez mais seguros e façam com que nós sejamos um país reconhecido pela sustentabilidade, saúde e segurança de uma maneira efetiva”, pontua.

Geórgia Antony, psicóloga do SESI Nacional lembrou que no setor de confecção industrial alguns lugares não pararam as fábricas. E elas entraram firme na produção de EPIs. E o que esse novo protocolo fez? Reuniu informações de documentos governamentais (portarias, ofícios, protocolos) e, também, de documentos internacionais, tanto da Organização Mundial da Saúde, e do CDC, que é um centro de controle de doenças americano. Também foram usadas portarias da própria Anvisa para compor esse material. “Ele reúne melhores práticas recomendadas nacional e internacionalmente. Foi um trabalho muito equilibrado, com técnicas desenvolvidas, defendendo pessoas que vivem o dia a dia de trabalho, e que trouxeram as necessidades de equilíbrio entre o que é proposto e o que é factível”, afirma.

A psicóloga conta que foram focados quatro eixos de atuação, que são mudança no ambiente de trabalho, na rotina das pessoas, na forma como se cuida da saúde e, também, investimento em pesquisas para que os trabalhadores estejam cada vez mais seguros. A finalidade é impactar na redução do risco de contaminação, preservar a saúde e contribuir para a manutenção de emprego e renda.

Dernival Barreto Medrado Neto, engenheiro de segurança do SESI, diz que os controles de ambiente de trabalho são bem simples, quando você fala que tudo se converte em limpeza das mãos, higienização do ambiente, distanciamento social e conhecimento.”Os trabalhadores precisam muito de informação para evitar até que eles descumpram algum protocolo. Eu chamo a atenção bastante para as questões de reforço e capacitação. O trabalhador tende a se acostumar com a rotina. Essas adequações de adequação contra o contágio englobam medidas administrativas, que são tomadas pela empresa para que ela possa se adequar a esse protocolo, de engenharia, com os bloqueios que podem ser feitos, e as de proteção individual, que são os EPIs usados pelo trabalhador”.

O engenheiro alerta que o trabalhador tem de conhecer os sintomas da doença e ligar para o Disque Saúde – 136, no caso de apresentar um deles. Acrescenta que em todos os locais da empresa deve haver a informação constante do uso obrigatório da máscara. “O SESI preparou cartazes e comunicações visuais para estar sempre chamando a atenção do trabalhador. Para todos os lados que ele estiver devem ser reforçadas normas”, frisa, acrescentando que desde a forma correta de higienização das mãos até alertar sobre o uso do braço quando espirrar devem estar em um comunicado aos trabalhadores. Assim como também realizado o distanciamento de um metro e meio entre os profissionais e todos utilizando máscaras faciais.

“Vocês podem perguntar: ‘como manter esse distanciamento quando um trabalhador necessite, por exemplo, em algum momento entregar um material, como um tecido ou molde?’.Se a gente tem um trabalhador que precisa se aproximar de alguma forma, a ideia é que você coloque uma barreira translúcida. No posto de trabalho, essa barreira pode ser de acrílico ou de PVC”, diz o engenheiro. No caso de uma barreira ser impossível, o trabalhador deve usar o protetor facial, o face shield, que é uma proteção maior para o rosto, e até o uso de óculos também, que podem ser utilizados em alguns momentos. Na hora do cafezinho, muitas pessoas se aglomeram. Isso deve ter evitado. Outras recomendações: reduzir o acesso de visitantes à fábrica, ao escritório e demais áreas da confecção. A internet está aí para resolver muitas necessidades e a empresa evita o contato com pessoas que não fazem parte do convívio dos seus trabalhadores. Reforçar a aplicação das medidas de distanciamento social por meio de sinais, cartazes e marcações no chão. Reuniões de videoconferência para clientes. Se não tiver jeito e você precisar reunir por algum motivo, para apresentar algum produto que a empresa acredite que não dá para ser por teleconferência, diminuir a quantidade de participantes. E, na sala de reunião, manter o distanciamento”, pontua Dernival Barreto Medrado Neto.

“No protocolo abordamos também a rastreabilidade, se possível. A gente fala muito “se possível” porque depende da empresa e da forma que ela oferece os serviços a seus trabalhadores. Por exemplo, se ela tiver um ônibus que busca seus trabalhadores em casa é muito mais seguro. Nos refeitórios da empresa deve haver  um número menor de funcionários e a orientação de que ele fique sentado sempre sentado no mesmo lugar”, aponta. Sobre as medidas administrativas, o engenheiro de segurança diz que na entrada da empresa deve haver um funcionário medindo a temperatura dos trabalhadores. Se essa temperatura for igual ou superior a 37,8 graus, a equipe que está fazendo esse monitoramento deve encaminhar para avaliação de saúde. É importante que exista essa organização de entrada para evitar aglomeração. Os seguranças e recepcionistas são as pessoas que estão na linha de frente de todo mundo que vai entrar. Logicamente eles precisam estar protegidos também. E se você precisa entregar crachás, um objeto que é muito manuseado, deve ser higienizado com álcool. O tapete desinfetante é uma prática muito interessante para evitar a contaminação. Há ainda no protocolo um ponto sobre elevadores. A recomendação é estimular o trabalhador a subir escadas, porque, além de ser saudável, vai evitar uma fila muito grande.

Consultor Industrial do SENAI CETIQT, Luiz Cláudio Leão apresenta uma sugestão de posto de trabalho com filme de policloreto de vinila, o PVC laminado. “É interessante esse posto de trabalho para as fábricas que possuem espaço limitado. Mas não libera para a costureira ficar sem máscara. Os postos de trabalho de tira-linha e de revisão também podem ser beneficiados com essa estrutura. Esse posto de trabalho protege as pessoas”. O posto de trabalho tem, do lado esquerdo, na parte superior, uma bolsinha onde é colocado o álcool em gel e máscaras para as pessoas trocarem durante o dia. Para efeito da produção, quem tem espaço pequeno e trabalha com aqueles grupos próximos uns aos outros é bastante interessante, porque facilita o trabalho no fluxo do processo produtivo.

Dernival Barreto Medrado Neto aborda a questão da limpeza e desinfecção para na adequação do ambiente de trabalho. Deve-se reforçar a limpeza de locais que ficam mais expostos ao toque da mão: maçaneta, o tampo da máquina, a mesa da revisão, o cabeçote, o relógio de ponto. São locais de contato e é importante mapear quais são esses pontos para reforçar a limpeza. “E chamamos a atenção que também tem que se usar EPI para manusear. O quaternário de amônio é eficiente em grandes superfícies. E ele dura mais tempo para se proteger do coronavírus. Deve haver limpeza e desinfecção pré e pós-turno do posto de trabalho.Que se mantenha as janelas abertas, limpeza de ventilador, aumentar a manutenção preventiva do ar-condicionado trocando os filtros. Disponibilização de higienização em vários pontos da empresa. “A gente disponibilizou um vídeo interessante no Youtube, que tem como fazer um dispenser usando pedal com uso de tudo de PVC para evitar mais contato. É só uma tentativa de diminuir contato com a mão, porque, de qualquer forma, a pessoa aciona o botãozinho com as mãos e tem como ficar atento a esse contato quando usar o álcool”, avisa.

Há um ponto importante também que diz respeito ao manuseio de documentos coletivos. Evitar documentos que precisam muitos trabalhadores assinar. Por exemplo, listas de treinamento. Se não tiver jeito, esse trabalhador precisa sempre estar com as mãos higienizadas. Quando pegar em uma caneta higienizar para que outro trabalhador possa usar. O engenheiro de segurança lembra que é crítica a questão de refeitório e de copa, porque são locais onde o trabalhador vai tirar a máscara para se alimentar. “É vital que ele esteja a um metro e meio do seu colega. E quando são muitos trabalhadores? As sugestões são: aumentar horários de funcionamento nos refeitórios, alternância por turnos de pessoal, marcação de lugares e exigir que a máscara só seja retirada no momento exato da ingestão de alimentos. O self service deve ser evitado. Um funcionário, protegido, pode servir a comida para as pessoa e o álcool em gel deve estar disponível ao lado das garrafas de café ou chá”, ensina.

E aquela mesa que geralmente tem aquela bancada grande que indústria muito usa com os trabalhadores um do ladinho do outro e um de frente para o outro? A sugestão é que tenha uma marcação. Se for banco único deve-se fazer uma sinalização com os lugares. ” Um dos pontos mais importantes é mostrar para o trabalhador as diretrizes da empresa. Ele precisa seguir o protocolo. Hoje, a gente tem portaria mostrando que isso é lei”, diz Dernival Barreto Medrado Neto.

O consultor do SENAI CETIQT, Luiz Cláudio Leão alerta para a ocorrência durante o trabalho de agulhas quebradas, danificadas. “Uma ação simples, mas que requer cuidado. O que vemos é que quebrou a agulha, passa para a auxiliar, que passa para a líder, que pode envolver o mecânico. A gente está falando de três, quatro pessoas envolvidas nesse processo. A sugestão pode ser ter um suporte para colocar essas bisnagas. E nas bisnagas você vai colocar o nome da agulha. Basicamente todo tipo de material que for ser utilizado precisa ser higienizado com álcool em gel. Manter higienizadas a máquina de corte, a empunhadura dela, a bananinha, que é uma máquina de disco pequenininha, as máquinas de serra-fita e, ao manusear tecidos, moldes, etc, fazer uso do álcool em gel. Todos os objetos da área de trabalho, do mais simples ao mais complexo devem ser higienizados”, avisa.

Ele deu um exemplo da importância dessa higienização por completo: “Ontem, eu estava conversando com uma empresária que produz máscara hospitalar e ela comentou que quando o caminhão de matéria-prima chega na empresa, ele é desinfetado. Como nós estamos falando de vida, é muito importante atuar na limpeza de todos os carrinhos dentro da empresa. Você pode comprar um suporte para colocar um dispenser, no qual um borrifador com álcool será utilizado. A empresa pode ainda colocar alguns suportes em lugares estratégicos para que possa ser acionado”.

O consultor do SENAI CETIQT aconselha as empresas buscarem no protocolo um link que mostra como fazer um dispenser com tubo de PVC. É muito prático e pode ser adotado na linha de produção esse carrinho com borrifador.

Luiz Claudio Leão lembra que, a partir do momento que o tecido chega na confecção, ele é manuseado por diversas pessoas. A sugestão é orientar os colaboradores a manter as mãos higienizadas com álcool em gel 70%. “E existem práticas que devem ser mudadas. É muito comum a costureira na linha de produção, quando não está conseguindo enfiar a linha no orifício da agulha, umedecer a ponta da linha com os lábios e, depois, tentar fazer o passamento da linha na agulha. Vamos trocar esse comportamento e fazer com que, ao invés de passar na ponta dos lábios, ela umedeça com álcool em gel, por exemplo. São detalhes, mas importantíssimos”, afirma.

Destaca ainda que é comum, também, a troca de ferramentas, em algumas confecções, entre os mecânicos. “Antes de efetuar a troca, se for necessário fazer, higienize. E, quando receber de volta, higienize novamente. Recomenda-se, também, atenção ao jaleco. Convém que ele, junto com a camisa, seja separado e colocado dentro de um saquinho para que o trabalhador possa levar com segurança para casa para fazer a lavagem”, diz.

Evitar filas é primordial. “A maioria vai entender, mas, na hora da saída, da marcação do ponto, principalmente nas sextas-feiras, é um tumulto. Sugestão: as lideranças comecem a organizar essa entrada e saída. E se a empresa puder distribuir mais registros de pontos pela fábrica, ótimo. Mas, se não puder, oriente. O papel da liderança é muito importante para evitar aglomerações”, pontua. No processo produtivo, as pessoas pensam que basta ficar com a máscara o dia inteiro. E não é só isso. A máscara tem que ser trocada, principalmente quando começar a ficar úmida. “Temos empresas que ficam em locais extremamente quentes e vai umedecer mesmo em torno da boca. Se não ficar úmida, trocar pelo menos a cada três horas. O ideal é que o trabalhador tenha, pelo menos, cinco máscaras para trocar por dia. As lideranças devem ficar atentas, pois estamos falando de vidas. E para quem trabalha no chão de fábrica a repetição das informações é o grande segredo para vencermos essa pandemia. Conhecimento, conforme já foi dito, informação e, se possível, espalhe, coloque informações visuais na empresa sobre as novas atitudes”, pondera Leão.

Precisamos ficar atentos à saúde física e mental. Luiz Claudio Leão durante a live falou sobre a importância de fortalecer o organismo. “Vale a liderança mostrar uma série de alimentos e ações que fazem bem à nossa saúde. O sono: dormir bem ajuda a fortalecer o nosso sistema imunológico, pois o corpo produz determinadas proteínas quando você está dormindo. Tenha as suas horas de sono, mantenha, se possível, um lugar bem confortável para as pessoas deitarem e dormirem. Isso é muito importante para o nosso dia a dia. A hidratação: todos nós sabemos que temos que beber muito líquido, muita água. Nenhum outro nutriente é tão importante com tamanha frequência e quantidade quanto a água. A atividade física: sendo possível, pelo menos 30 minutos três vezes por semana. A mente: essa é a mãe de todas. Eu sugiro, humildemente, que todos nós tenhamos pensamentos positivos e que cuidemos das nossas emoções, pois elas estão muito abaladas em função de tudo que o nosso país e o mundo estão vivendo nesse momento”, conclui.