SENAI CETIQT: Inovação e Ética no case da Movin, label que tem no DNA sustentabilidade e transparência


Maior centro latino-americano de produção de conhecimento aplicado à cadeia produtiva têxtil, de confecção e química, e referência em tecnologia, consultoria e formação de profissionais qualificados para a Quarta Revolução Industrial, o SENAI CETIQT promoveu a live “Inovação e Ética: Um Novo Modelo de Negócio?” com a participação de Pedro Ruffier, fundador da marca Movin, pioneira no Brasil no segmento moda a ter a certificação B. “Repensar o ciclo de vida produtivo é um desafio constante e estimulador. Com design essencial, minimalista e tecnológico desenvolvemos produtos atemporais, priorizando os benefícios emocionais e físicos para os indivíduos. Selecionamos matérias-primas inovadoras, tingimentos orgânicos, metodologias operacionais limpas, selos e certificados consagrados para garantir a integridade da sua escolha”. Esta são as as ações da label. Vem conferir!

Começo esse artigo para você, leitor, com uma realidade que nos enche de orgulho no Setor Moda. O que lerá em seguida permeia todo o processo criativo e produtivo da label Movin: “Criar um antídoto inteligente é a nossa inspiração. Por isso, de forma simples e direta, buscamos múltiplas soluções que resultem num consumo mais inteligente e que nos guie no alcance de um genuíno bem viver: mais limpo, funcional e coletivo. Reduzir complexidades e eliminar resíduos são nossos objetivos. Repensar o ciclo de vida produtivo é um desafio constante e estimulador. Com design essencial, minimalista e tecnológico desenvolvemos produtos atemporais, priorizando os benefícios emocionais e físicos para os indivíduos. Selecionamos matérias-primas inovadoras, tingimentos orgânicos, metodologias operacionais limpas, selos e certificados consagrados para garantir a integridade da sua escolha. Entre os nossos smart materials utilizamos fibras recicladas de algodão e pet, fibras orgânicas como o bambu, além de materiais biodegradáveis e com redução ou zero uso de água e emissão de carbono”.

Podemos dizer que empresas têm se engajado em práticas sustentáveis, promovido a diversidade e inclusão, jornadas de trabalho justas e “clima” organizacional mais humano. A empresa é parte da sociedade e também tem o papel de resolver questões sociais, ambientais e econômicas que mexam com o nosso dia-a-dia. Nesse sentido, um dos temas que vamos abordar é a Ética nas organizações e sua ligação simbiótica com a Inovação, considerada essencial para a sustentabilidade empresarial. O SENAI CETIQT promoveu a live “Inovação e Ética: Um Novo Modelo de Negócio?”. Parte do Projeto Moda Circular: O Início de Um Novo Ciclo para a Indústria da Moda, fruto de uma parceria com a Laudes Foundation, a instituição incentiva ações de apoio à transição da moda brasileira para um modelo mais circular de produção e consumo.

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A consultora do Instituto SENAI de Tecnologia de Confecção Michelle Souza conversou com Pedro Ruffier, fundador da INFINITU X, uma empresa que se dedica a acelerar a transição para um estilo de vida mais consciente e tecnológico. Desde 2011, as marcas do portfólio receberam vários prêmios. A Movin, por exemplo, como mostrei acima, tem como objetivo oferecer produtos com materiais sustentáveis, processos tecnológicos de baixo impacto, transparência e rastreabilidade. Tendo o compromisso da inovação contínua, lançou o MOVIN ZRO®, projeto no qual aplica-se o formato de pré-venda e sob-demanda para eliminar estoques, assim como pesquisas de bio-tecidos. “É um passo fundamental para as empresas em geral. Vale lembrar que o uso da tecnologia para agilizar soluções de rastreabilidade, transparência e materiais sustentáveis promove a viabilidade de negócios mais disruptivos e conectados com a nova realidade do consumidor”, ressalta Michelle Souza antes de passar a palavra para o convidado.

Pedro conta que sempre foi muito ligado em questões de tecnologia e sustentabilidade e que frequentou as fazendas do Brejal, na Região Serrana Fluminense, principal polo produtor de orgânicos do estado do Rio de Janeiro. “Eu sempre fui muito conectado em tecnologias futuristas. No colégio, eu aprendi a codificar. E sempre vinha o tema principal, que era a eficiência em termos de sustentabilidade e ética do que era exposto ali como um protótipo futurista. Queria saber como seria o automóvel do futuro, a arquitetura do futuro. Os carros eram sempre elétricos, algo que, atualmente, é uma realidade. Na arquitetura, havia aproveitamento solar e da água”, conta Ruffier, acrescentando: “Sempre tive vontade de empreender seguindo a temática da sustentabilidade e da ética. Estava no meu sangue”.

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A Movin foi lançada em 2011, quando ainda se falava pouco de sustentabilidade no segmento de confecção, e como missão desenvolveria para a cadeia produtiva e clientes, soluções e experiências valiosas, através de serviços e produtos inteligentes, com abordagens éticas e inovadoras que impactam positivamente a vida e o meio ambiente.

O jovem empresário conta que via a empresa como uma oportunidade de representar os Millennials (ou Geração Y, pessoas nascidas entre o início da década de 80 e o final do século XX, à qual ele mesmo pertence): “Nós vínhamos questionando os modelos tradicionais do setor. A Movin deveria ser uma espécie de porta-voz da geração. Chegamos à definição do nosso DNA: tecnologia e design sobre o pilar fundamental, a ética. Definimos esse tripé como direcionador do lifestyle que estávamos propondo e a um design essencial, minimalista e consciente, feito para funcionar em diversas ocasiões. É um estilo que permite malhar, ficar em casa ou sair à noite”.

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Esse estilo que transita bem por vários ambientes não se prende a faixas etárias: serve para todas as idades. “O estilo essencial é uma opção que abraça todo mundo”, acredita Pedro Ruffier. “Assumimos que a tecnologia seria a parte de inovação, no sentido de ‘como podemos evoluir o que é tido como tradicional no mercado?’ e ‘como poderíamos repensar toda a estrutura já existente?’. Entendemos que seria impossível fazer uma transformação por completo. Teríamos que colocar metas de desenvolvimento para progredir e chegar ao nosso modelo ideal. Até porque dizer que uma empresa é 100% sustentável é irreal. Não tem como sermos sempre sustentáveis nem agora nem no futuro. Só por respirar já impactamos”.

O primeiro desafio da Movin foi a matéria-prima: todo produto que fosse lançado seria feito com matéria-prima certificada, que tivesse alguma vantagem em comparação aos materiais tradicionais. Em 2016, os sócios da empresa descobriram o Sistema B de certificação. Curioso, Pedro Ruffier pesquisou e viu que uma de suas maiores referências, a varejista americana de roupas para atividades ao ar livre Patagônia e a Natura eram B-Certificadas. Por que não tentar?

“O Sistema B é uma certificação mundial para negócios com modelos que realmente criem benefícios para a sociedade e o meio ambiente. Envolve tudo em relação a questões do trabalho, materiais, relacionamento com o cliente, comunicação. Foi um processo de seis meses de idas e vindas de comprovações e tudo mais até recebermos a notícia positiva. Nos tornamos a primeira empresa brasileira do segmento de vestuário e moda a conseguir essa certificação. Hoje várias organizações têm esse status”, lembra Pedro sobre a sua Movin ser a pioneira no Brasil no segmento moda a ter a certificação B. A ideia é repensar o tipo de consumo, a relação que o novo consumidor tem com as marcas e as empresas com seus stakeholders (por exemplo, fornecedores, funcionários etc).

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Voltando à questão dos materiais, o primeiro desafio da Movin, a matéria-prima, seria de base orgânica e reciclada. Hoje, uma parcela do desenvolvimento é de tecidos com bases tecnológicas. Um exemplo é a peça confeccionada com um biotecido  criado em parceria com a Biotecam, empresa carioca de base tecnológica que desenvolve produtos na área de biomateriais voltados à conservação ambiental usados pela indústria de moda. Este biotecido se chama Texticel e é muito parecido com o couro. “A intenção é de que substitua o couro futuramente por conta do aspecto e em termos de acabamento. Temos esse compromisso também de procurar, através de parcerias, evoluir os materiais. E não podemos nos esquecer da transparência, que implementamos bem cedo na Movin: foi o nosso segundo compromisso. Aceitamos o desafio de tornar acessíveis para quem quiser saber todos os dados através do nosso site”.

Da mesma forma, uma camiseta de algodão orgânico vem com dados sobre a origem do material, quanto a costureira recebeu pelo trabalho, quem são os fornecedores etc. Os sócios acreditam que quanto mais transparência, mais a empresa se valoriza. “Valorizamos a empresa e os profissionais que trabalham conosco, incentivando mais clientes a comprarem. Nosso setor torna os profissionais da área produtiva invisíveis. Como trazê-los para a frente? Como dar destaque a eles? Justamente pela transparência e pela rastreabilidade”, acredita Ruffier. “Muita gente perguntava: ‘você vai revelar quem são os seus fornecedores?’ Eu quero mais é incentivá-los, porque ganho competitividade quando eles crescem. Essa, aliás, foi a nossa principal motivação para criar relações transparentes e rastreáveis dentro da Movin”.

O desafio atual é o digital. “Na Movin questionamos o nosso modelo de negócio. Por que precisávamos de estoque? Por mais que nos esforçássemos para fazer upcycling e parcerias, sempre sobrava. Cerca de 30% do estoque não-vendido é perdido, é a média do mercado. Como acabaríamos com esse problema no setor?”, perguntava-se o empresário.

A resposta é: através do design digital. Hoje, a Movin mostra o produto por meio digital, em 3D, faz uma pré-venda e, batendo a meta, produz. Com isso, a empresa evita o custo antecipado de compra de material e de confecção. Depende apenas de uma validação do mercado para produzir, cortando as ineficiências do sistema produtivo da moda. O desenvolvimento de produto, por exemplo, que leva mais de um mês para ser elaborado pelo sistema tradicional, passa a ser feito em um ou dois dias. Ruffier fala do MOVIN ZRO, a pré-venda e sob demanda, que estabelece o mínimo e o máximo de produção. O conceito é simples: o designer cria um projeto de produto e o design é disponibilizado para o cliente. Caso o projeto seja aprovado, é iniciado o processo de produção, caso não, ele é congelado e criado outro design. Uma decisão 100% baseada no interesse dos clientes.

“E como conseguimos cortar resíduos do modelo tradicional? A questão da pegada hídrica e de carbono. Isso também é consequência de estoques não-vendidos. Sustentabilidade não é só criação de valor tipo ‘eu vendo uma ideia de sustentabilidade’. Vai muito além. Ela traduz um modelo de negócio muito mais eficiente e que faz mais sentido”, afirma.

O consumidor deve ser incluído nessa equação. Muitas vezes, a marca precisa fazer o papel de educadora, explicar por que custa mais caro, que a qualidade é igual ou maior à de um produto convencional etc: “Em 2011, explicávamos o que era material orgânico. O que era, por exemplo, um algodão orgânico. Dizíamos que não leva químicos, não explora quem faz o cultivo. Ainda hoje, principalmente quando falamos de recicláveis, tem gente que diz: ‘é material saído do lixo, deveria ser mais barato’. E aí precisamos explicar que, para se chegar a esse material, os processos são muito tecnológicos. Que tem um valor intangível e todo um processo que está por trás, mas a pessoa não enxerga e é importante a marca contar essa história sobre a cadeia produtiva”.

Na questão da transparência, o empresário deve levar informação ao consumidor sem esperar ser cobrado. A comunicação com o consumidor final é essencial. “O pessoal que já tem a consciência de aguardar pelo produto ainda é muito “nichado”. Mas, a inovação tem seus adotantes. Pessoas que experimentam cruzar o abismo. Depois que esses já testaram, a travessia do abismo atrai a maioria dos consumidores”, explica Ruffier. “É importante que a empresa consiga passar essa etapa. Em 2011, o gap eram os materiais sustentáveis que, hoje, já é do conhecimento da grande maioria das pessoas. Já se fala normalmente sobre isso. Para 2030, assumimos o compromisso de Sistema B, da neutralidade do carbono. Vamos seguir com o projeto do MOVIN ZRO para que, até 2030, cem por cento da Movin esteja funcionando dessa maneira. Nós começamos validando essa ideia com o consumidor e vamos fazendo com que ele se eduque em relação a esse tipo de comportamento e a demanda por esse novo modelo de negócio cresça”.

Neste meio tempo, o empresário aposta em duas grandes opções para o mercado da moda: “A primeira é o produto sustentável. Por mais que seja produzido do zero, é um produto novo, tem muito mais qualidade, tem a ética da produção sustentável e dos materiais. O outro processo é o da economia circular. Pensamos nessas duas opções para atender nossos clientes que fazem parte dessa geração cada vez mais consciente sobre seu próprio consumo”.

E para quem está começando ou pensando em começar agora, Pedro Ruffier aconselha que vá aos poucos: “Validar a proposta de negócio e ver se consegue entregar o que o consumidor quer é muito importante. Por exemplo, quando queremos lançar materiais sustentáveis, eu lanço uma coleção pequena para sentir a aceitação. Em seguida, testo e valido a transparência. É diferente da empresa que cria uma coleção e tenta incentivar a compra dos produtos. Fazemos o oposto, tentamos interpretar o que o cliente realmente deseja”.