SENAI CETIQT: 3º Fórum da Indústria da Moda debate economia circular e sustentabilidade ressignificando a produção


O segundo encontro virtual da edição 2020 do Fórum permeado pelo tema “Novos Ritmos” nos mostrou a necessidade de reinvenção das indústrias, caso queiram sobreviver em um mercado a cada dia mais competitivo. Com mediação do presidente Associação da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit), Fernando Pimentel, o painel “Projeto Moda Circular” tratou da integração da cadeia brasileira de denim e oportunidades de circularidade e desenvolvimento sustentável. Participaram André Duarte, representando a Riachuelo, Thais Bryan, da Vicunha, a consultora de moda Maria José Orione, pela Denim City, e Anny Santos, representando o SEBRAE Nacional, em uma conversa franca sobre a busca de sustentabilidade em suas empresas e os desafios de se implementar a circularidade no segmento. O Fórum apresentou ainda dois ‘cases’ de marcas que fizeram uma mudança radical de mercado por conta da pandemia de Covid-19 e o portfólio digital da área de Moda do SENAI CETIQT

Foi para colaborar com as indústrias do setor têxtil e de confecções na implantação de práticas como sustentabilidade e economia circular, com a utilização de processos de fabricação e matérias-primas que regeneram a natureza + uso consciente de recursos, ressignificando a produção que o SENAI CETIQT criou há um mês e meio o Núcleo de Sustentabilidade e Economia Circular. O NUSEC/SENAI CETIQT será o ponto de convergência no qual as indústrias terão um porto seguro, um centro de referência, para se nutrir de conhecimentos, conceber projetos e materializar iniciativas. Poderão se informar e receber orientação sobre as boas práticas sustentáveis para encarar mercados cada vez mais regulados e consumidores mais política e ecologicamente responsáveis a cada dia. E o 3º Fórum da Indústria da Moda, promovido pelo SENAI CETIQT em um ambiente virtual por conta do novo coronavírus, proporcionou uma série de considerações sobre as políticas das empresas ecologicamente responsáveis, o conceito e a prática de uma economia circular e o protagonismo do consumidor cada vez mais engajado.

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O segundo encontro virtual da edição 2020 do Fórum permeado pelo tema “Novos Ritmos” nos mostrou a necessidade de reinvenção das indústrias, caso queiram sobreviver em um mercado a cada dia mais competitivo. Com mediação do presidente Associação da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit), Fernando Pimentel, o painel “Projeto Moda Circular” tratou da integração da cadeia brasileira de denim e oportunidades de circularidade e desenvolvimento sustentável. Participaram André Duarte, representando a Riachuelo, Thais Bryan, da Vicunha, a consultora de moda Maria José Orione, pela Denim City, e Anny Santos, representando o SEBRAE Nacional, em uma conversa franca sobre a busca de sustentabilidade em suas empresas e os desafios de se implementar a circularidade no segmento. “O tema é real e já vinha se destacando como uma tendência clara antes desse período pandêmico. Ganha força e maior dinamismo a partir de uma série de constatações que estamos fazendo com a agenda de inovação e sustentabilidade”, observou Fernando Pimentel.

A programação prosseguiu com a apresentação de dois cases de marcas que lançaram estratégias de sucesso durante a pandemia para manter a sustentabilidade econômica: o Atelier Luci Marçal, do Rio de Janeiro, que passou da produção de alfaiataria e seda para uma linha de homewear, e o Décimo Andar, empresa do Recife que se reinventou fabricando pijamas cirúrgicos e jalecos impermeáveis. Encerrando o Fórum, tivemos a apresentação do Portfólio Digital das áreas de Moda e Confecção com as consultoras do IST Angélica Coelho e Chris Rangel.

 

O start aos debates sobre o Projeto Moda Circular – Integração da Cadeia de Denim Brasileiro, Qualidade e Desenvolvimento foi dado pelo representante da Riachuelo, André Duarte. Ele reforçou que a moda circular está em sinergia com sustentabilidade, reciclagem, upcycling e tantos outros projetos com que a gente vem se deparando no cotidiano, nas empresas e no universo acadêmico. “Em nome da empresa, eu digo que estamos promovendo todas essas ações nas unidades fabris e em sintonia com o consumidor. A moda circular é muito abrangente. Muitas pessoas colocam o tema apenas no produto final e em alguns insumos. Mas ela começa com o design da peça pensado e na empresa temos diferentes shares nas produções. Todos os nossos produtos fabricados na unidade de Fortaleza são 100% sustentáveis. Mas temos outros percentuais que vamos dividindo em outras frentes. Entre eles o da circularidade da moda, porque a gente acredita na longevidade do produto. Às vezes, temos um produto sustentável, mas que não tem longevidade. Ele tem insumos e substratos rastreáveis, é sustentável, mas o grande conceito que nós defendemos em moda circular é a longevidade da peça. Para isso é necessário que se faça um projeto que já nasça circular. Ele não se torna, ele nasce. É um produto pensado e projetado”, pontou.

Thais Bryan, do grupo Vicunha, disse que o tema sustentabilidade está presente desde a criação da Vicunha, empresa com 50 anos no mercado e unidade fabril no Nordeste, região com poucos recursos hídricos. “Durante esses anos todos permeamos os trabalhos sobre a economia de água e ênfase na conscientização social. No início dos anos 90, com a gestão de qualidade total, adotamos o conceito dos três Rs da sustentabilidade (reduzir, reutilizar e reciclar) e conversamos com todos os elos da cadeia. Estamos unidos na mesma direção e a circularidade não pode ser apenas uma etiqueta no produto final, mas, de fato, implementar uma cultura na sociedade e enfrentar questões tecnológicas e financeiras”, afirmou.

A primeira filial da Denim City Amsterdam fora da Holanda será em São Paulo e tem a inauguração prevista para o dia 26 de outubro, no bairro do Brás, tradicional reduto da moda atacadista e que tem nos jeans o protagonismo. O objetivo é impactar o setor, desenvolver um núcleo de conhecimento e aprendizado, capacitar a indústria tornando-a mais sustentável e colocar o Brasil como relevante polo mundial de jeans. Diretora do Denim City Academy, a consultora de negócios de moda Maria José Orione pontuou que a Denim City tem como pilar a educação apoiada em sustentabilidade, inovação e conexão. Um dos motivos para a Denim City ter surgido na Europa foi trazer para os desenvolvedores os conhecimentos necessários para transformar a indústria em produção limpa – tanto que o lema da Denim City é “Towards a brighter blue(“Rumo a um azul mais brilhante”). “Um dos objetivos da Denim City é, justamente, comunicar o máximo possível as práticas do setor, inclusive para o consumidor final. A indústria é muito pouco estruturada como ‘cadeia’. A gente precisa organizar melhor, principalmente com relação aos pequenos empresários, que nem sempre conseguem agir de forma mais sustentável. Para se chegar a uma indústria mais circular, precisamos ter uma maior agregação da cadeia. O Brasil já sai ganhando em relação ao resto dos produtores mundiais de denim porque, se você imaginar um denim que tem o seu algodão plantado na África, na Rússia ou nos Estados Unidos com produção na Ásia e consumo na Europa, nos Estados Unidos ou na Austrália, ele já percorreu 65 mil quilômetros antes de chegar na loja. Enquanto nós, no Brasil, temos desde o algodão até a produção da calça. Com isso, saímos com uma vantagem muito grande. Sem contar que temos o nosso algodão em regime de sequeiro, com menor consumo de água. Então a gente de fato tem uma vantagem estratégica importante a ser comunicada”, frisou.

Especialista em moda do SEBRAE Nacional, Anny Santos falou em nome da importante instituição de suporte às pequenas e médias empresas. Hoje, o Sebrae atende mais de 40 segmentos em 13 macroestruturas prioritárias. “O Centro Sebrae de Sustentabilidade, por exemplo, é uma iniciativa que tem 10 anos. E entende que a sustentabilidade, de fato, precisa se estabelecer como um processo de gestão e de estratégia na empresa não só do ponto de vista da agregação de valor, mas também do pós-consumo com ênfase nos três Rs. Hoje você tem um consumidor mais consciente com relação às práticas sustentáveis, social-trabalhistas e econômicas muito forte. O nosso setor é muito cobrado pela urgência em questões ambientais, mas também em questões trabalhistas. O Instituto Fashion Revolution está no Brasil para comprovar e trazer essa realidade. No Sebrae há frentes de atuação tanto para parcerias quanto para a realização de projetos específicos envolvendo sustentabilidade. Hoje, a estratégia nacional de moda para pequenos negócios se constitui de cinco fortes economias: economia digital, circular, compartilhada, 4.0 e de mercados globais e internacionalização de empresas. É importante que a gente aborde essa temática não só como tática de venda de produto de valor agregado lá no ponto de venda, como apelo e argumento de nicho de mercado, mas que se passe a contemplar todo o processo de gestão da cadeia produtiva não só do varejo, mas também da indústria”, analisou.

O presidente da Abit, Fernando Pimentel, lembrou que os temas da economia circular, da agenda da sustentabilidade como um todo, da Indústria 4.0, menor consumo de insumos, respeito aos ambientes de trabalho fazem parte da Global Fashion Agenda, na qual estamos inseridos e, como mediador, fez a seguinte pergunta: “Quais são os principais desafios para a nossa cadeia de moda adentrar às melhores práticas da economia circular e que lições podemos tirar da pandemia em relação ao desenvolvimento sustentável na cadeia produtiva?”

Para Thais Bryan, da Vicunha, o desafio maior é a integração da cadeia para que haja um avanço no sentido da circularidade entre os elos. É uma questão de alinhamento de conceitos, de clareza e educação do que é possível ou não acontecer dentro da indústria. “Em relação à pandemia, acho que ela trouxe muita reflexão para o mundo e vimos crescer ainda mais no consumidor final a preocupação com o meio ambiente, o destino dos resíduos. E isso se encaixa completamente dentro da questão da economia circular. E o consumidor, no final das contas, é quem vai ter a maior voz no processo do desenvolvimento da cadeia circular dentro da moda. E é ele que vai fazer a demanda ficar maior e apertar para que esta cadeia comece a se movimentar de fato na busca de soluções para este tema”. Thais Bryan acredita que nem sempre a sustentabilidade está atrelada a um custo maior do produto para o consumidor. Mas, as empresas vão precisar de investimento e desenvolvimento tecnológico”, afirmou. Já Maria José Orione falou que a mudança de mindset é o que vai “puxar” a circularidade. “Além dos aspectos de custo, a gente sabe que existem possibilidades tecnológicas que exigem investimento e que, em algum momento, isso vai se tornar a condição sine qua non para a sobrevivência. Nós temos ao longo da cadeia tamanhos muito diferentes de empresas. O desafio é amadurecer como empresa e todos os elos da cadeia começarem a ser mais profissionais do ponto de vista de mudança de mindset, de responsabilidade nas relações entre as empresas. Quanto à pandemia, quem já estava investindo em sustentabilidade até acelerou o processo e mergulham cada dia mais nesta questão”.

Na opinião de Anny Santos, do Sebrae Nacional, para o pequeno negócio, sustentabilidade e economia circular pressupõem mudança cultural e começar a falar de gestão e estratégia. “Nesse ponto grandes, médios e pequenos empresários se conectam e conversam para que as micro partes dessa grande cadeia consigam perenidade nos negócios. Durante a pandemia, quando vimos o varejo fechar as portas, a indústria ainda estava com capacidade técnica de operação. Mas a produção não tinha como ser vendida.  Portanto, moda se faz de forma coletiva, de forma conjunta. Acredito que esse foi o grande highlight que a pandemia trouxe. O encadeamento é uma iniciativa que vem para comprovar e atestar que a gente está começando a dar os primeiros passos na direção de uma cadeia produtiva mais sustentável como um todo olhando para processo e compartilhamento de informações, co-criação e colaboração. Acredito que só por meio da colaboração, da contribuição conjunta, a gente consiga dar passos maiores, especialmente quando nos comparamos com o mercado externo muito acirrado, muito competitivo em preço”.

E Anny acrescentou: “Eu vi um comentário do Abílio Diniz muito interessante há duas semanas. O moderador perguntou se ele acreditava no novo normal e respondeu que não tem nada de novo normal, que as pessoas são as mesmas. A gente viveu alguns processos, mas ninguém dormiu um jeito e acordou de outro. As pessoas passaram a se preocupar de forma mais genuína com alguns processos que foram acelerados. E a gente viu três opções muito grandes nesse período que foram a mudança dos formatos de trabalho, o estabelecimento a fórceps (mas que funcionou de maneira geral) do home office; a aceleração da digitalização dos negócios; e uma mudança muito forte do consumidor com relação ao autocuidado, que traz uma história de qualidade de vida, de repensar o consumo, de repensar valores, de repensar alguns formatos que isso vai impactar a forma de consumir. A gente está nesse momento de reinvenção. Eu queria compartilhar aqui com vocês um conceito que eu acho muito interessante que é o conceito de auto performance com U e alta performance com L. Alta performance é quando você performa, efetivamente, significa que você se compara com o mercado. Dentre aqueles presentes no mercado, eu me destaco porque consigo ter um desempenho melhor. E quando a gente fala de auto performance com U é quando eu me comparo comigo mesma. É quando eu sou melhor a cada etapa. É quando a gente consegue perceber uma evolução interna. O mercado da moda está vivendo o período de melhoria de auto performance”.

André Duarte, da Riachuelo, pontou que é muito importante a troca de conhecimento e lembrou o Projeto Pró-Sertão, “que nada mais é que a gente estendendo as mãos e toda a nossa tecnologia e conhecimento a empresas menores que nos que nos atendem. E nós não escolhemos estarmos sustentáveis ou termos produtos sustentáveis: nós somos sustentáveis, porque esse é o nosso DNA”.

ESTRATÉGIAS DAS MARCAS DE MODA

PARA MANTER A SUSTENTABILIDADE ECONÔMICA EM TEMPOS DE PANDEMIA

A empresária Luci Marçal, dona do atelier que leva seu nome, integrou a turma do SENAI CETIQT que se formou em 1997 em Confecção Vestuário Têxtil. Ela contou que seu trabalho é focado na alfaiataria e na seda. “Em 17 de março, meu marido e eu tínhamos 99% de todo o nosso recurso investido na empresa. Em 15 dias de inauguração e com uma promessa de três clientes em potencial e uma coleção pronta fomos surpreendidos pela pandemia. O desespero foi grande, mas decidimos iniciar a produção de milhares de máscaras de produção. Foi uma das formas de salvação nesse momento. Um cliente fez um pedido de 10 mil máscaras, conseguimos montar uma cadeia produtiva, mas, infelizmente, o TNT estava em falta no mercado e o cliente cancelou. A gente recomeçou do zero novamente a pensar em alternativas e tivemos o insight de produzir uma linha homewear. Olhando para o mercado sem uma previsão de quando as coisas voltariam ao normal, em literalmente seis dias eu e minha equipe desenhamos, modelamos, prototipamos, fizemos fotos e uma live de apresentação de venda. Com isso conseguimos vender e movimentar o e-commerce da marca”. A conclusão? “Enxergamos que é possível ter um processo mais enxuto e produzir e vender conforme a demanda e conseguimos entregar um trabalho de excelência com orçamento-base zero. Com isso, tivemos um crescimento de vendas de aproximadamente 18,5 pontos percentuais em relação aos meses anteriores”.

Rafaela Bezerra, da label Décimo Andar, conta que muitas de suas clientes são médicas e fisioterapeutas e, durante a pandemia, uma delas perguntou se poderia fazer aventais cirúrgicos. “Liguei para a minha modelista perguntei se ela topava fazer um protótipo. A partir daí, fizemos capotes, aventais para consultórios Paralelamente, já estávamos investindo em vendas online e até através do WhatsApp sempre ouvindo o que as clientes mais desejavam e passamos a fazer uma linha de homewear. Os pijamas foram super bem aceitos. E, assim, sobrevivemos”, contou.  

APRESENTAÇÃO DO PORTFÓLIO DIGITAL DA ÁREA DE MODA

A consultora do Instituto SENAI de Tecnologia Têxtil e de Confecção (IST) Christina Rangel, responsável pelo desenvolvimento de conteúdo da plataforma IMD, do SENAI CETIQT frisou que, ao ouvir tantos depoimentos de pessoas inseridas no mercado de moda, a questão da resiliência foi a tônica durante a pandemia. “A nossa equipe elaborou um portfólio baseado em muita pesquisa que nós realizamos durante esse período e lançamos uma proposta de trabalhar virtualmente”. Angélica Coelho, consultora do Instituto SENAI de Tecnologia, corroborou, afirmando que “o contexto pausou, misturou, fez com que a gente refletisse e pensasse novos caminhos e isso veio principalmente com os pontos de instabilidade econômica e sanitária. A crise do Covid-19  impactou todos os elos da cadeia. E para a manutenção dos negócios foi necessário pensar em otimização de recursos, tanto humanos e econômicos, fazendo uma avaliação também das tecnologias disponíveis. E construímos a partir da plataforma do Inova Moda Digital um hub de soluções. A partir daí, passamos a atuar em quatro áreas estratégicas: mercado, pesquisa de moda e inovação, projeto de produto sustentabilidade e inovação em modalidades diferentes de atendimento para entregar esse conteúdo e esse apoio às empresas”. pontou.