SENAI CETIQT: Evento que celebrou lançamento do Relatório NuSEC contou com painel sobre o Pacto Global


Live promovida pelo SENAI CETIQT para apresentar o relatório do primeiro ano do Núcleo de Sustentabilidade e Economia Circular, (NuSEC), fruto de parceria com a Associação Brasileira da Indústria Têxtil (ABIT), contou também com palestra do coordenador de Adesão e Engajamento do Pacto Global Brasil, Pedro Augusto, e da diretora da plataforma multissetorial de colaboração e inovação Colabora Moda Sustentável, Lucilene Danciguer

Recentemente contamos a você, leitor, sobre a a live promovida pelo SENAI CETIQT para apresentar o relatório do primeiro ano do Núcleo de Sustentabilidade e Economia Circular, (NuSEC), fruto de parceria com a Associação Brasileira da Indústria Têxtil (ABIT). Ressaltei que ele foi estruturado como catalisador de soluções para a promoção da sustentabilidade e economia circular como parte integrante das estratégias de negócios e operações da indústria da Moda. É um verdadeiro centro de referência para apoiar o setor têxtil e de confecção no Brasil e colocará o país no mapa da modernidade em termos de práticas ecologicamente responsáveis, que lhe permitam abrir novos mercados. Agora, é importante jogar luz ao painel sobre o Pacto Global, com o coordenador de Adesão e Engajamento do Pacto Global Brasil, Pedro Augusto, e as ações da plataforma multissetorial de colaboração e inovação Colabora Moda Sustentável, com direção de Lucilene Danciguer.

O Pacto Global é uma iniciativa da Organização das Nações Unidas para engajar empresas e organizações na adoção do crescimento sustentável e da cidadania, por meio de lideranças corporativas comprometidas e inovadoras. A proposta é trabalhar com o segundo setor para implementar a agenda dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODSs) e é hoje a maior iniciativa de sustentabilidade corporativa do mundo, com mais de 16 mil membros, entre empresas e organizações, distribuídos em 69 redes locais, que abrangem 160 países.

Leia mais: SENAI CETIQT: Núcleo de Sustentabilidade e Economia Circular NuseC consolida relatório de ações

Na verdade, a ideia de desenvolvimento sustentável pode ser considerada recente: o termo só foi criado no final da década de 1980, quando as empresas tinham baixo conhecimento de tecnologia e legislação, entre outros fatores, em relação às questões ambientais, de sustentabilidade socioambiental. Uma série de iniciativas, certificações, normativas etc fez com que o setor evoluísse muito dos anos 80 para cá. Uma peça fundamental que surgiu nessa linha do tempo foi justamente o Pacto Global, criado em 2000 por um apelo do então secretário-geral da ONU, Kofi Annan, que convocou as empresas em todo o mundo a alinharem suas estratégias e operações a 10 princípios universais nas áreas de Direitos Humanos, Trabalho, Meio Ambiente e Anticorrupção e desenvolverem ações que contribuam para o enfrentamento dos desafios da sociedade.

Leia mais: SENAI CETIQT: Sergio Motta falou em Glasgow, durante a COP26, sobre ações pela sustentabilidade e economia circular

“A palavra-chave é ‘Como’. Veja o nono princípio, por exemplo: ‘Incentivar o desenvolvimento e a difusão de tecnologias ambientalmente responsáveis’. Okay, mas como fazemos isso? Tratando de uma agenda de como chegar a questões de sustentabilidade. Já tivemos, por exemplo, a criação da ISO 14.000 e de várias outras questões ligadas ao ecossistema de sustentabilidade”, observa Pedro Augusto. ISO 14.000 é constituído por uma série de normas que determinam diretrizes para garantir que empresa (pública ou privada) pratique a gestão ambiental. Estas normas são conhecidas pelo Sistema de Gestão Ambiental (SGA), que é definido pela ISO (International Organization for Standardization). “Uma das principais ações foi a criação da agenda dos ODSs em 2015 pela ONU, quando os países signatários se comprometem cumprir 17 grandes objetivos até 2030, para termos uma sociedade mais inclusiva e sustentável. Esses objetivos têm uma abrangência de temas muito ampla. Os ODSs são um dos frameworks de sustentabilidade em que as empresas podem se basear para traçar estratégias. Temos alguns objetivos ligados diretamente ao Setor Têxtil. Por exemplo, o 12º, sobre assegurar padrões de produção e de consumo sustentáveis, ou o 10º, sobre redução das desigualdades, trabalhando, por exemplo, com a cadeia de fornecedores da indústria têxtil”, observa o coordenador de Adesão e Engajamento do Pacto Global Brasil, Pedro Augusto.

De acordo com ele, o atual secretário-geral da ONU, António Guterres, sabe que o papel dos negócios é fundamental para termos uma sociedade mais sustentável. O mercado de investimentos tem um potencial de trilhões de dólares a serem investidos em questões de sustentabilidade. “Se destinássemos menos de 5% do total de investimento dos principais fundos, haveria um grande avanço na implementação da agenda dos ODSs, entre outras questões”, comenta.

E acrescenta: “Mas, apesar de grande, o avanço das questões de gênero no mundo, por exemplo, ainda não é suficiente: dado o que temos hoje, ainda vai levar 257 anos para fecharmos a lacuna econômica de gênero globalmente. Vemos vários outros critérios e indicadores nas diferentes variáveis da agenda dos ODSs. O essencial é: quanto será necessário investir em tecnologia e recursos para, de fato, alcançarmos esses objetivos?”. Pedro Augusto elogiou o Primeiro Relatório do NuSEC. Segundo ele, traz repertório, conteúdo, parceiros, além de fomento, certificadoras, universidades, a legislação e o poder público para trabalhar em conjunto e entender panoramas e diagnósticos. “Assim, conseguimos remar para algum local mais efetivo”, frisa. Só com os dados e as métricas sabemos quanto investir – financeiramente, em tempo e recursos diversos – para cumprir a agenda.

Leia mais: SENAI CETIQT cria Núcleo de Sustentabilidade e Economia Circular para apoiar o setor têxtil e de confecção

Leia mais: SENAI CETIQT: 3º Fórum da Indústria da Moda debate economia circular e sustentabilidade ressignificando a produção

A segunda palestrante, Lucilene Danciguer, diretora da plataforma multissetorial de colaboração e inovação Colabora Moda Sustentável, movimento por uma moda brasileira sustentável e ética. Cerca de cem lideranças e mais de 60 organizações fazem parte da plataforma. “O Colabora é formado por uma equipe muito diversa. E é na diversidade que está a nossa riqueza, porque a multiplicidade de perspectivas nos ajuda a enxergar a realidade uma forma sistêmica e a realizar a transformação que queremos. Trabalhamos juntos desde 2017”, conta Lucilene Danciguer. “Temos consultores, costureiras, pesquisadores, sindicatos, Sistema S, fundações e institutos corporativos, associações setoriais, órgãos internacionais, movimentos e eventos, setor público, sociedade civil, empreendedores, academia e pesquisa, marcas, indústria e o setor financeiro. Além disso tudo, também temos a mídia. Precisamos dessas diversas perspectivas para realizar a transformação”.

Para pensar juntos, os integrantes do Colabora começaram a olhar para a frente e construíram quatro cenários futuros da moda em 2035. “Usamos a diversidade da equipe para imaginar cenários bastante distintos (dois mais distópicos e dois mais utópicos) que nos ajudam a desafiar o futuro. Olhando sistemicamente para o futuro que estava vindo para a moda brasileira, criamos um mapa sistêmico e pensamos ‘Por onde temos que fazer a transformação?’ ‘Como transformar a moda num setor mais sustentável e ético?’”.

A partir do mapeamento sistêmico, foram identificados seis eixos transformadores: Modelos de Negócios; Trabalho e Equidade; Meio Ambiente; Políticas Públicas; Educação, Ciência e Tecnologia; e Cultura e Consumo. “Através desses eixos, queremos uma moda sustentável e ética em 2030, gerando um setor em que os recursos naturais são utilizados de forma regenerativa e sustentável; melhores condições de vida e trabalho com maior equidade de gênero, raça e território de origem; redução da informalidade; fortalecimento das pequenas e médias empresas; desenvolvimento de soluções e negócios sustentáveis; relações de compra e venda sustentáveis e éticas; narrativa e cultura da moda sustentável; fortalecimento da colaboração para fazermos tudo isso; qualificação dos nossos profissionais; e políticas públicas e desenvolvimento de mecanismos e investimento para moda sustentável”.

Lucilene Danciguer afirma que, para fazer essa transformação, já foram dados alguns passos. “Com os nossos Recursos Semente já apoiamos 13 iniciativas, como a criação do Covida 20, para ajudar os negócios a manter os empregos em moda sustentável durante a pandemia; um Acordo Setorial para proteger pequenos negócios empregos durante a pandemia, produção de máscaras e EPIs; e, mais estruturalmente ao longo desses anos, criamos 10 estratégias para alavancar a retomada econômica com sustentabilidade. Em 2021, procuramos entender que moda é essa, em que pontos precisamos agir para fazer a regeneração e, por fim, atuamos na inovação. Ajudamos a colocar em prática 29 iniciativas desde 2018 e estamos incentivando a criação e o desenvolvimento de ecossistemas de Inovação para moda sustentável”.

No entanto, faltavam dados, maneiras de medir o quanto estamos impactando o planeta e a sociedade. “Por isso, celebramos muito o Relatório do NuSEC. Hoje os dados são dispersos, precisamos de uma linguagem comum e compartilhada para medir a performance de sustentabilidade das empresas do setor. Quando olhamos para esses dados, nos deparamos com as catástrofes ambientais se ampliando e somando-se à pandemia. A ONU declara essa a Década de Restauração dos Ecossistemas. As causas do colapso climático que estamos vivendo, da tríplice emergência ambiental (perda de biodiversidade, disrupção climática e poluição crescente), estão nas emissões de gases de efeito estufa e na degradação de terras devido à atividade humana”, lamenta Lucilene Danciguer.

O impacto sobre o planeta afeta os negócios e as vidas humanas. Se olharmos para indústria global da moda, temos 2,1 bilhões de toneladas de emissões de gases de efeito estufa (GEEs, na sigla em inglês), o equivalente às emissões de França, Alemanha e Reino Unido juntos. E a expectativa é de que essa indústria continue crescendo, principalmente por conta do aumento da população e da mudança dos padrões de consumo. “Se não fizermos nada além do que estamos fazendo, vamos aumentar esta emissão de 2,1 bilhões de toneladas para 2,7 bilhões de toneladas até 2030”, alerta a diretora da plataforma Colabora Moda Sustentável. “Quando nos perguntamos onde estão essas emissões, a resposta é na fase da produção dos materiais, indústria, acabamento. E estão também na fase de uso. Olhar para esses dados transforma nossa maneira de pensar tais problemas”.

E como fazer para evitar esse tremendo desastre que se anuncia para tão breve? “Para manter o aumento da temperatura da Terra em 1,5 grau nos próximos dez anos, temos que reduzir as emissões pela metade. O foco na redução tem que ser na produção, mas também há oportunidades em como atuamos, na própria operação das marcas. E tem vinte por cento de oportunidades no comportamento do consumidor. Em 2000, foram 50 bilhões de peças vendidas. Em 2015, mais de 100 bilhões de unidades. Se queremos melhorar nossa performance social e ambiental, temos que olhar para o nosso modelo de negócio. Ainda precisamos desenvolver muito a publicação de relatórios de sustentabilidade: só 25 por cento das empresas publicam anualmente a pegada de carbono de gases de efeito estufa em suas próprias instalações. Na cadeia de fornecimento, apenas cinco por cento”. Dados do Índice de Transparência na Moda de 2020.

Já a inovação ainda está na fase de Mínimo Produto Viável na maioria de negócios que a praticam e está sendo promovida por micro, pequenas e médias empresas, geralmente comandadas por mulheres. “Está acontecendo principalmente no varejo, bastante nas tecnologias de produção sustentável, reciclagem têxtil, gestão e educação. Ainda tem pouco em tingimento, reciclagem de outras cadeias, matéria-prima sustentável. O mapeamento é importante para percebermos onde temos que aplicar a energia para reduzir as emissões, regenerar os ecossistemas e as vidas, criar oportunidades de emprego”, encerra Lucilene Danciguer.