SENAI CETIQT: Economia circular e o Plano 2030 do Grupo Malwee com ações inovadoras por um mundo sustentável


“Preciso entrar em uma outra esfera e trazer um questionamento: ‘A moda precisa custar o futuro?’ Esse é a pergunta que sempre nos fazemos internamente. Afinal o mundo da moda produz mais de 80 bilhões de peças de roupa por ano e é responsável por 10% das emissões de gases de efeito estufa e por 20% da poluição industrial”, ressalta Taíse Beduschi, gerente de Sustentabilidade do Grupo Malwee. Ela nos leva a uma viagem a todas as ações da marca ao aplicar os princípios da circularidade tangibilizando propósitos e posicionamentos. O grupo Malwee lançou o Manifesto ‘O mundo foi feito para durar’

Em 2015, o grupo Malwee lançou o Plano 2020, com metas de sustentabilidade para um desafio de cinco anos. O resutado foi tão positivo que acabou inspirando o Plano 2030, olhar de uma década para contribuir com os ODSs (Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU). Para compartilhar essas experiência, o SENAI CETIQT promoveu a live “Um Propósito Conectado à Economia Circular“, coordenada pela consultora do Instituto SENAI de Tecnologia Têxtil e de Confecção Michelle Souza. A live faz parte do Projeto Moda Circular: O Início de Um Novo Ciclo para a Indústria da Moda, nascido da parceria do SENAI CETIQT com a Laudes Foundation que promove ações para apoiar a transição da moda brasileira para um modelo mais circular de produção e consumo. A engenheira química Taíse Beduschi, diretora do Instituto Malwee, gerente de Sustentabilidade da empresa e membro do Comitê ESG do Grupo Malwee, falou sobre o processo de modernização e incrementação da sustentabilidade pelo qual o grupo vem passando nos últimos cinco anos: “Acreditamos muito que a Economia Circular seja o caminho para não ultrapassarmos as fronteiras ambientais e conseguirmos garantir condições de vida dignas para todos”.

Confira o Manifesto Malwee batizado ‘O mundo foi feito para durar’

Com seu pioneirismo em tomar medidas como o uso racional da água, por exemplo, o Plano 2020 foi o primeiro compromisso público do grupo com metas trazendo a visão de futuro sustentável da Malwee. “Procuramos mostrar os riscos e as oportunidades que o mundo da sustentabilidade (também chamado de mundo de ESG) traz para os negócios. Definimos 15 metas das quais nove foram superadas. Em seis, tivemos desempenho positivo. Foram bem desafiadoras”, conta, entusiasmada, Taíse Beduschi.

Valeu a pena. Veja abaixo ações e resultados do Plano 2020 explicados pela diretora do Instituto Malwee:

ÁGUA: Deixamos de retirar 346.096 milhões de litros de água dos rios no período 2014-2020

MUDANÇAS CLIMÁTICAS: 75% de redução de emissões nos Escopos 1 e 2

ENERGIA: Convertemos 87% da energia elétrica e 70% da energia térmica para fontes renováveis

RECURSOS MATERIAIS: Produzimos 91% dos nossos produtos utilizando processos ou matérias-primas mais sustentáveis

RESÍDUOS: Reduzimos 79% dos nossos resíduos destinados a aterro industrial

POLUIÇÃO QUÍMICA: Temos 24% dos nossos químicos cadastrados na plataforma ZDHC com certificação de terceira parte comprovando que eles não têm nenhuma das substâncias restritas

TRABALHO DIGNO: Hoje temos 88% da nossa cadeia de fornecedores certificados ABVETX

GÊNERO: Somos 66% de mulheres, 68% ocupam cargos de coordenação, 30% de gerência e 12% de diretoria

PCD: 4% de PCDs

RAÇA: 22,5% negros

GERAÇÕES: 25% são jovens e 0,5% têm mais de 60 anos

O Plano 2030 (ou Plano ESG) partiu desses números e foi construído de uma forma totalmente diferente do 2020. Foram mais de seis meses de preparação: “Para o anterior, passamos um ano e meio nos reunindo com várias pessoas. No entanto, passamos a usar metodologias mais ágeis. Fizemos três meses de pesquisas de referências e convidamos diversos stakeholders para a construção desse novo plano. Tivemos mais de cem colaboradores envolvidos e compartilhamos dez dias de conteúdo preparatório com eles, pois os stakeholders tinham conhecimentos muito diversos e, para termos uma avaliação consistente, precisávamos de um nivelamento”.

Ao todo, 37 conteúdos foram compartilhados em apresentações sobre os mais diversos temas e sobre como o Grupo Malwee se posicionava em cada um deles. Isso sem falar das oito horas de workshop para avaliar 12 temas e priorizar seis deles. No lado social, foram considerados temas como trabalho digno, diversidade racial, PCD (pessoas com deficiência), diversidade de gênero, LGBTQIA+, diversidade geracional e refugiados. Na área ambiental foram avaliados mudanças climáticas, poluição química, uso da água, geração de resíduos e uso de recursos materiais.

“As metas sociais relacionadas a trabalho digno estão ligadas, principalmente, a rastreabilidade e garantia dos direitos humanos. Em diversidade de gênero, nosso objetivo é aumentar a participação de mulheres na liderança, trabalhar em equidade salarial não só internamente, mas na nossa cadeia”, revela Taíse Beduschi. “Uma particularidade desse plano é que a nossa missão não é melhorar apenas o processo, mas toda a cadeia. Em diversidade racial, a ideia é aumentar o percentual de pessoas negras e trabalhar muito a questão de equidade de raça na cadeia e também no letramento (letramento vai além de alfabetização: incentiva a leitura com capacidade crítica e interpretativa)”.

Já as metas ambientais são comprometidas com o SBTi (Science Based Targets intiative ou iniciativa Metas Baseadas na Ciência, em tradução livre), o Business Ambition, um compromisso que a Malwee assinou em 2019: “São metas bastante ousadas de redução tanto dos Escopos 1 e 2 (emissões diretas, com objetivo de reduzir 50% de gases de efeito estufa), quanto do Escopo 3 (emissões vindas da cadeia, redução de 58%)”.

Taíse Beduschi falou ainda sobre o uso da água, que inspirou a ousada meta de redução de 40%. Sobre o uso de recursos materiais, ela conta que se trata do terceiro tema prioritário do grupo. “Nos demos até 2025 para entender como será esse movimento”.

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Para abordar o tema Circularidade, nossa palestrante faz uma ressalva: “Preciso entrar em uma outra esfera e trazer uma pergunta: ‘A moda precisa custar o futuro?’ Esse é a pergunta que sempre nos fazemos internamente. Afinal o mundo fashion produz mais de 80 bilhões de peças de roupa por ano e é responsável por 10% das emissões de gases de efeito estufa e por 20% da poluição industrial. A cada 60 segundos um caminhão de roupas é descartado em algum lugar”. Daí surgiu o conceito de Moda sem Ponto Final; ou seja, Moda Circular, com merecidas letras maiúsculas.

“É por meio da marca Malwee que levamos a nossa Moda sem Ponto Final e as nossas iniciativas para o mercado consumidor. O propósito da marca é fazer roupas que durem mais, que possam ser usadas, repetidas, vendidas, trocadas ou doadas. Isso mexe bastante com o mercado, é desafiador. Também buscamos produzir sempre da maneira mais sustentável os nossos produtos, em sintonia com novos jeitos de pensar, viver e utilizar recursos. Em 2019 fizemos a parceria com o Repassa (maior brechó online do Brasil, totalmente focado em sustentabilidade), foi um movimento importante de logística reversa. Precisamos despertar uma relação mais consciente com a moda – e isso inclui não comprar só porque o produto é bonito, mas conhecer a sua história”, esclarece Taíse Beduschi. “O Grupo procura trabalhar com processos mais sustentáveis. A energia elétrica, por exemplo, é renovável. No ano passado a percentagem girava em torno de 83% e estava instalada apenas na matriz. Em 2022, todas as fábricas estão sendo dotadas de equipamentos de captação de energia eólica. Temos investido em matérias-primas mais sustentáveis e em projetos que possam trazer essa identidade para os nossos produtos”.

Um desses projetos é o DES.A.FIO, lançado em maio, com o objetivo de levar adiante a iniciativa Moda sem Ponto Final. Os fios são desenvolvidos a partir de peças descartadas: “O projeto partiu de uma inquietação da marca: o lixo nunca deve ser o lugar das nossas roupas. Como resultado de muita pesquisa e inovação, conseguimos reverter boa parte desse desperdício por meio da reciclagem, transformando roupa que já existe em fios novos pela técnica da desfibragem mecânica. Com esses fios produzimos a fibra que dará origem a novos produtos. Não tem começo nem fim, roupas usadas se transformam em peças novas”.

No entanto, arrecadar as roupas usadas foi o processo mais difícil do projeto. Foi feita uma enorme pesquisa sobre o consumidor e sua relação com a roupa. Entre as soluções para “encorpar” a coleta foi celebrar uma parceria com a Cruz Vermelha, que estava prestes a descartar 57 toneladas de roupas impróprias para doação. “Nós resolvemos um problema deles e eles resolveram um problema nosso”.

“Priorizamos os produtos que não podem mais ser usados, pois não vamos tirar algo de quem pode receber como doação. É um olhar muito mais coletivo que de negócios. Não se trata de catar roupa em todos os cantos para produzir. Os princípios e os valores precisam ser soberanos”, pontifica a gerente de Sustentabilidade da Malwee. “A operação completa inclui ainda higienizar, desfibrar, fiar, tecer e criar um novo produto. Quando vamos realmente fazer, muitas vezes é preciso mudar alguns parâmetros de máquina para dar certo. É um desafio e tanto, não é como fazer pastel, que você coloca no óleo quente e em minutos está pronto”.

Ainda em maio, a Malwee apresentou um moletom dupla face e unissex feito com fios obtidos da desfibragem de pós-uso: 70% de algodão, aos quais foram acrescentados 30% de poliéster reciclado. A produção do moletom com desfibrados reduz, quando comparada à produção normal, 44% das emissões de CO2, 33% da demanda de água e 45% do uso da terra. Ao todo produziram-se 1500 unidades, que não foram destinadas a vendas, uma vez que a Malwee não quis precificar sua inovação. É uma grande jornada para a transformação.

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Taíse Beduschi encerra sua palestra oferecendo sua dica de ouro para quem quer começar a focar em ESG e questões circulares e sustentáveis:

“A primeira é olhar para dentro e ver o que já temos de legal. Todo mundo tem. Fazer a mudança para o sustentável requer investimento, mas tem uma redução de consumo de alguma coisa, redução de desperdício, que te traz incentivo e motivação. É necessário olhar para dentro e ver, também, o que está acontecendo fora. Digo isso porque vim do setor de agronegócio para o de moda quando entrei para a Malwee. Comecei pesquisando sobre os maiores impactos na área, queria saber o que estava acontecendo no planeta. É preciso pesquisar, estudar muito. A informação hoje é super acessível. E nunca se esqueçam que buscar fontes de qualidade é essencial para quem quer ter sucesso nessa e em outras áreas”.

TRADUZINDO O GRUPO MALWEE EM NÚMEROS E AÇÕES

O Grupo Malwee é uma empresa de moda cem por cento brasileira que tem como marcas adultas a Malwee e a Enfim e como marcas de linha infantil a Malwee Kids!, a Carinhoso e a Zigzigzaa. O Grupo está presente em 80% dos municípios brasileiros, atuando e comercializando seus produtos em mais de 24 mil lojas multimarcas. Possui 28 lojas monomarcas (exclusivas Malwee Kids ou de suas marcas individuais), 210 lojas Aqui Tem Malwee (de clientes que vendem só produtos da empresa) e quatro canais de venda online. A cada ano são produzidas em torno de 45 milhões de peças. Para isso, a Malwee conta com 4,2 mil colaboradores diretos.

A sede fica em Jaraguá do Sul (SC), onde está localizada a maior parte das operações têxteis – além da malharia, todos os processos da tinturaria até a expedição dos produtos são feitos ali. A Malwee também possui uma fábrica de confecção em Pacajus (CE) e um escritório administrativo em São Paulo. Setenta e quatro por cento dos produtos vendidos a cada ano são produzidos na malharia; os outros 26% são matérias-primas compradas de terceiros. A produção é 92% nacional e 8% importada: de fora vêm apenas itens que a grife não consegue produzir no país. O número de fornecedores gira em torno de 2.666.

Ao longo de seus 50 anos, o Grupo Malwee já fez mais de R$ 250 milhões em doações relacionadas a cultura, esportes, educação, saúde e questões ambientais.

Outro motivo de muito orgulho é o Parque Malwee, aberto ao público em 1978. Com 1,5 milhão de metros quadrados, foi construído numa área degradada em Jaraguá do Sul. A ideia partiu do fundador do Grupo Malwee, Wolfgang Wegee, em 1975, inspirado pelos parques e praças que visitou em sua primeira viagem à Europa. Todas as árvores tiveram de ser plantadas, pois nada havia na região, que havia abrigado uma plantação de arroz. Com 16 lagoas, pistas de bicicross, churrasqueiras ao ar livre e restaurantes, o local recebe mais de 200 mil turistas por ano.

Outro ponto digno de nota na história da Malwee é a certificação ABVTEX (Associação Brasileira do Varejo Têxtil), obtida em 2012. Em 2015 o Grupo tornou-se signatário do Pacto Global, entendendo que o papel da empresa está muito conectado com as urgências da humanidade. No mesmo ano, lançou o Plano 2020, projeto de sustentabilidade com metas a serem atingidas em cinco anos. O desafio inspirou o Plano 2030, que é um olhar de dez anos, assim como os ODSs (Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU), com os quais os objetivos da companhia estão cada vez mais alinhados. E, também em 2015, foi lançado o primeiro Relatório de Sustentabilidade com a norma GRI, certificação internacional em relatos de sustentabilidade.

Em 2017, a Malwee passou a integrar a Rede Brasileira de ACV (Avaliação de Ciclo de Vida), entendendo que todo impacto ambiental, toda comunicação, tudo aquilo que se faz de bom deve ser mensurado para ter credibilidade, para não cair no green washing. O ano de 2018 foi o primeiro em que foi reconhecida como empresa brasileira mais bem posicionada no Índice de Transparência na Moda (ITM). Outras empresas tiveram boa posição, mas eram companhias globais.

O Business Ambition 1,5°C, compromisso de reduzir as emissões atmosféricas para combater o aquecimento global e mantê-lo em no máximo um grau e meio, foi assinado em 2019. Nesse mesmo ano, participou da COP25 para apresentar os resultados do Plano 2020. Dois mil e dezenove também assistiu a fundação do Instituto Malwee, uma forma de gerir melhor a postura contributiva da companhia (ao longo de 50 anos, o Grupo Malwee já fez mais de R$ 250 milhões em doações relacionadas a cultura, esportes, educação, saúde e questões ambientais). O Instituto tem seu foco em infância e meio ambiente e, apesar de ser bastante “jovem”, já tem um portfólio de ações robusto: até o momento, mais de 21.400 crianças foram impactadas, mais de R$ 1 milhão investidos em projetos e campanhas, mais de 31 ONGs beneficiadas pelas ações e mais de 800 famílias contempladas com cestas básicas durante a pandemia.

No ano passado, o Grupo relançou seu posicionamento, trazendo ainda forte mais a aposta num mundo feito para durar. Lançou o Plano 2030 na COP26 e participou da World Water Week por conta de sua gestão da água.