SENAI CETIQT: Agenda de políticas ambientais, sociais e de governança (ASG) e benefícios para Indústria da Moda


“Nossa missão fundamental é promover, informar e fortalecer todo esse conhecimento para atores tão diversos: pequenas, médias e grandes empresas. E fazer chegar isso com a maior democratização possível, para que a gente ande não só no aspecto de produção, mas como consumidores, como cidadãos também. Direitos humanos pressupõem deveres humanos. Direitos sociais pressupõem deveres sociais, e assim sucessivamente. O S, para o Brasil, é muito relevante. Mas o A, de Ambiental, e o G, de Governança, se complementam”, frisa o presidente da Abit, Fernando Pimentel. A coordenadora da Plataforma de Inteligência Competitiva do SENAI CETIQT, Victoria Santos acrescenta: “Um peso muito grande é colocado sobre a indústria da Moda, pois os impactos são muito relevantes. Mas é bom haver ações acontecendo no outro sentido”

SENAI CETIQT: Agenda de políticas ambientais, sociais e de governança (ASG) e benefícios para Indústria da Moda

As mudanças climáticas nunca foram tão evidentes. Os alertas sobre a necessidade de manter o aquecimento global abaixo de 1,5 grau Celsius vêm se multiplicando e se intensificando a cada minuto: a situação em que nos encontramos é alarmante. Tornar a Indústria da Moda, em particular, realmente sustentável, é urgente. “A indústria tem uma natureza muito peculiar. Precisa ser estruturada metodologicamente, ter visões segmentadas, entender os números, saber o que faz parte e o que não faz. É um trabalho complexo, mas creio que, a várias mãos, conseguiremos facilitar e viabilizar”, pontua Victoria Santos, coordenadora da plataforma de Inteligência Competitiva do SENAI CETIQT e mediadora da live sobre Sustentabilidade ASG (que leva em conta os fatores Ambiental, Social e de Governança), com as presenças de Fernando Pimentel, presidente da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (ABIT); Flávio Junqueira, diretor da Castanhal; William Rospendowski, superintendente da Área de Inovação da FINEP; Debora Albuquerque, analista de Projetos da FINEP; Lucilene Danciguer, diretora do Colabora Moda Sustentável; e Pedro Augusto, coordenador de Adesão e Engajamento do Pacto Global Brasil.

“Esse acrônimo tenta congregar os três principais vetores fundamentais para a evolução de um mundo mais sustentável a médio e longo prazo. O Brasil ainda precisa avançar muito nessa agenda”, acredita o presidente da ABIT, acrescentando: “A área social é muito relevante. O setor emprega muita gente e a informalidade é maior que em outras economias. Essa área de Educação, Cultura, Saneamento, a do S, é muito relevante para a agenda de sustentabilidade. O que faz a diferença no mundo é a competência humana, a capacidade humana, o nível de conhecimento, de educação. Acho que temos vantagem sobre outros países, pois preservamos uma indústria forte, um varejo relevante, enquanto em outros países a produção fica na Ásia e o consumo, na Europa”.

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Além de um ecossistema positivo, o setor pode funcionar melhor? “Pode. Nossa missão fundamental é promover, informar e fortalecer todo esse conhecimento para atores tão diversos: pequenas, médias e grandes empresas. E fazer chegar isso com a maior democratização possível, para que a gente ande não só no aspecto de produção, mas como consumidores, como cidadãos também. Direitos humanos pressupõem deveres humanos. Direitos sociais pressupõem deveres sociais, e assim sucessivamente. O S, para o Brasil, é muito relevante. Mas o A, de Ambiental, e o G, de Governança, se complementam”, frisa Pimentel.

Em um mundo onde a comunicação se faz em tempo real e todos têm acesso a informações sobre quase tudo, porém, não basta dizer que uma empresa é sustentável. É preciso codificar e validar com certificações. O diretor da Castanhal (maior fabricante de juta das Américas), Flávio Junqueira, deu uma verdadeira aula sobre o tema. Inaugurada em 1966, a Castanhal é a maior fabricante de produtos de juta do país. “Nossa primeira verificação de produto orgânico foi feita pela certificadora alemã BCS em 2006. Sempre buscamos a sustentabilidade não só ambiental, como social. Tiramos o Fair Trade por uma certificadora internacional e vamos obter o selo IBD para orgânicos (A brasileira IBD é a maior certificadora de orgânicos da América Latina). Também queremos o Pesticides Free”, revela Junqueira. “Nós nos cercamos de entidades sérias para somar ao que já fazemos. Não basta a Castanhal garantir que é orgânica, que não desmata e não usa pesticidas. Precisamos validar o que fazemos junto a instituições com credibilidade”.

No caso da empresa, os selos são indispensáveis, principalmente por se localizar na Amazônia, região que está sob rigoroso escrutínio do mundo atualmente. Não adianta garantir que não desmata e que planta a juta na calha do rio apenas quando as águas baixam: cada vez mais, a indústria tem necessidade de estar embasada para dar conta de suas ações da forma apropriada. A avaliação da pegada de carbono tem que ser mais técnica do que nunca.

A Castanhal tem um projeto em andamento, coordenado pelo SENAI CETIQT, de avaliação de pegada hídrica e de carbono de toda a cadeia de juta, cradle to cradle (berço ao berço). “Fazemos um trabalho de produção de sementes de juta e malva na Região Norte, distribuição de sementes e fomento à safra, e toda a parte da industrialização: o fio é produzido, a tela, muita sacaria para café (embalagem para exportação de café, de juta, que vai para pelo menos 150 países no mundo). E, com a colaboração do NuSEC, vamos avaliar a pegada de carbono de toda a cadeia da juta. Coincidentemente ou não, o Brasil fez sua primeira exportação de café carbono neutro na semana passada. Nós estamos fazendo isso não para comercializar créditos de carbono, mas é porque entendemos que não existe outro caminho”.

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E a visão da FINEP como agente promotor, por meio dos fomentos, dos recursos reembolsáveis e não-reembolsáveis para levar essa indústria mais adiante do ponto de vista da sustentabilidade? Segundo o superintendente da Área de Inovação da Financiadora de Estudos e Projetos, William Rospendowski, as empresas estão interessadas em se colocar no mercado, avançar sua capacidade, e fazer mais por menos, o que, quase sempre, provoca uma melhora ambiental. Empresa pública criada em 1967, a FINEP surgiu para dar apoio financeiro a programas e projetos de desenvolvimento científico e tecnológico. No entanto, é preciso lembrar-se de que, quando se fala em política pública, significa incentivo e regulação. “É o que se faz em vários países. A Alemanha oferece muitos incentivos em relação à questão ambiental, mas também regula bastante o setor. Por exemplo, o motor a combustão interna não poderá mais ser fabricado a partir de 2035. O governo dá trabalho, mas cria suas regras”, observa William Rospendowski.

A FINEP atua dos dois lados do balcão. Além de oferecer incentivos com recursos subsidiados pelo programa FINEP Sustentabilidade, regula a maneira como eles serão usados: “Somos muito exigentes quando financiamos. O contrato determina diversos pontos fundamentais. As empresas enviam seus relatórios e checamos o licenciamento, visitamos o local etc. O dinheiro é uma matéria-prima que deve ser usada da melhor forma possível”.

Analista de Projetos na FINEP, Debora Albuquerque percebe, em seu dia a dia, a demanda crescente por financiamento de projetos ligados à Sustentabilidade. “Tem sido uma grata surpresa, pois vem num crescente contínuo. Foi muito interessante quando grandes empresas pleitearam financiamento conosco para produzir máscaras e, assim, evitar um desemprego ainda maior”, conta Debora. “É sensacional que alguns empresários estejam pensando no ciclo de vida dos produtos, em tentar alongar a vida útil deles. Temos várias demandas de redução do uso de água, que tem um impacto enorme na Indústria Têxtil, e o uso de novas tecnologias para reduzir o emprego de produtos químicos. O leque é muito grande. Atendemos desde a pesquisa inicial de materiais até a divulgação, passando pela produção do produto”.

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Mas como implementar mudanças tão necessárias e urgentes em um setor imenso e diversificado como o Têxtil e de Confecção? “É a pergunta de um milhão de dólares. Menos de 30% do setor da moda e têxtil do país está na mão das grandes marcas. A maior parte é micro, pequeno negócio – no máximo. Precisamos olhar para essa diversidade. Temos uma estratégia para levar as ideias que estamos discutindo para micros e pequenos via grandes marcas, provocando um efeito dominó. As grandes marcas dão o sinal para o setor da direção a ser tomada, puxam a mudança. E algumas dessas grifes são as protagonistas da mudança e é com elas que precisamos atuar”, pontifica Lucilene Danciguer. “Por outro lado, precisamos ter estratégias para formar os micro e pequenos negócios, além dos trabalhadores. Essa discussão precisa chegar aos trabalhadores da indústria, aos micro e aos pequenos. Uma parte vem pela tendência e pela demanda das grandes empresas para a indústria”.

Para fazer suas estratégias específicas de formação de empresários e trabalhadores funcionar, a diretora do Colabora Moda conta com o apoio de startups que estão desenvolvendo metodologias de formação em sustentabilidade: “Trabalhamos junto com eles para desenvolver essas metodologias o mais rapidamente possível. Alguns sindicatos que também estão se debruçando sobre o desenvolvimento de metodologias para formar trabalhadores e temos parceria com o SENAI Nacional, que incorporou essas temáticas na renovação do currículo de 2018/2019”.

O Setor Têxtil e de Confecção ainda tem um impacto muito grande no meio ambiente. “Mas é bom haver ações acontecendo no outro sentido. Essas ações terão efeitos multiplicadores que não podemos prever, mas, com cada um dando o seu melhor, a transformação acontecerá mais rapidamente”, avalia Victoria Santos. Ela pergunta ao coordenador do Pacto Global Brasil se o organismo ligado à ONU atua com empresas menores: “A maioria das empresas vêm para o Pacto de uma maneira orgânica. Estamos organizando toda a estrutura interna para dar vazão à necessidade de empresas que chamamos de mais maduras e outras, menos. É muito diferente tratar de sustentabilidade com uma empresa que não terá alguém full time responsável por isso e uma grande empresa, que terá toda uma equipe exclusivamente dedicada a essa questão. Nós recebemos a maior parte das empresas. E também vamos atrás, porque acreditamos que elas podem contribuir com projetos e estudos”, explica Pedro Augusto.

A FINEP já incorporou indicadores da área de Governança na avaliação de projetos. “Isso é muito natural para nós, até pelo perfil dos recursos públicos. A Governança mais ampla do ecossistema, gosto muito dessa visão. Precisamos observar isso nas empresas. Nós pedimos demonstrativos, quando é auditado isso conta de forma mais objetiva para nossas análises. Acaba sendo um crivo. Qualquer empresa que conta com recursos da FINEP, sejam 500 mil ou dez milhões de reais, tem governança minimamente adequada”, garante o superintendente da área de Inovação da FINEP, William Rospendowski. Sua colega, Debora Albuquerque, analista de Projetos, complementa: “Algumas empresas que nos procuram têm, como principal motivo, obter uma espécie de ‘selo FINEP’, graças ao imenso cuidado que temos para contratar um projeto, independentemente do tamanho”.