A temporada de alta-costura começou nesse domingo, 24, em Paris e é considerada por alguns a mais importante semana da moda. É nessa época que os estilistas colocam os maiores sonhos em prática, já que é a moda em sua forma mais pura: exclusiva, feita à mão e com materiais de alta qualidade. Há regras, porém, para que as marcas entrem nesse seleto meio: ter um ateliê em Paris, fazer peças sob encomenda e apresentar coleções publicamente ao menos duas vezes por ano. O segmento, que não rende lucros para a empresa, serve como uma forma de posicionamento para as marcas e, apesar do mercado enxuto, são essas criações que inspiram o meio fashion para as próximas temporadas. Os desfiles que já passaram por essa semana de Paris mostraram um pouco dos elementos que vem com tudo na primavera-verão 2016. Vem ver!
Atelier Versace
A Versace foi a responsável pela abertura das coleções da alta-costura nesse domingo, 24, em Paris. Com suas mulheres fatais, Donatella Versace levou silhuetas sedutoras esculturais à passarela, através de vestidos que acompanhavam as curvas do corpo, valorizados com bordados e brilhos formando uma espécie de teia de aranha. Vestidos tomara-que-caia e com grandes fendas também dominaram a noite de domingo. As calças seguiram a mesma linha. Justas, foram combinadas com saltos finos e jaquetas curtas. Cordas e tiras deram o tom do desfile, remetendo ao universo bondage erótico à la “Cinquenta tons de cinza”. “Foi uma coleção de ‘alta-costura esportiva’ e dedicada a mulheres que seguem seu próprio caminho”, explicou Donatella Versace. Precisa dizer mais?
Christian Dior
Em seu primeiro desfile após a saída do diretor artístico Raf Simons, a Dior apresentou uma coleção de looks que propõe um novo realismo na alta-costura. Ou seja, dentro do museu Rodin dominaram decotes – alguns assimétricos, vestidos e trenchs volumosos, as famosas jaquetas Bar com cintura bem marcada, muita estampa floral e destaque para os ombros, que apareceram nus ou arredondados, deslocados ou completamente expostos. Como não poderia deixar de ser: a coleção foi menos arriscada que as anteriores e, ainda assim, os suíços Serge Ruffieux e Lucie Meier, que assumiram a direção criativa da marca, despertaram um mix de amor e ódio. Enquanto alguns descreveram a nova coleção como “horrível”, muitos acharam “brilhante”. A silhueta “new look”, DNA da grife estabelecido pelo próprio Christian Dior, apareceu na passarela junto com a modernidade de Raf Simons – que ficou evidente em looks de renda transparentes e decotados e no trabalho de sobreposições.
Vale lembrar que tanto Serge Ruffieux como Lucie Meier tem experiência para estar a frente de uma marca de luxo. Enquanto o primeiro entrou na Dior em 2008, quando a grife ainda era comandada por John Galliano, e chegou a virar designer chefe quando Raf Simons assumiu, Lucie passou cinco anos com Marc Jacobs na Louis Vuitton, mais um tempo com Nicholas Ghesquière na Balenciaga e entrou na Dior através de um head hunter.
Já a cenografia foi um espetáculo à parte, com uma instalação nos jardins do museu e uma estrutura gigante de espelhos tanto do lado de dentro quanto do de fora. Os modelos e até os convidados foram infinitamente refletidos por todos os ângulos! A make também contou com um nome forte: Peter Philips, que ficou famoso na Chanel, optou por uma beleza limpa e colocou batons nude e vermelhos nas tops.
Chanel
Mais uma vez o Kaiser ousou ao montar uma verdadeira casa modernista de bonecas reais no jardim do Grand Palais. O cenário, que reproduziu um ambiente ao ar livre com direito a grama, árvores, céu azul e espelhos d’água, teve um motivo óbvio: a inspiração da coleção na Noruega serviu de incentivo para apostar design escandinavo de linhas simples, tons neutros, funcionalidade e matérias-primas naturais. Se o cenário era minimalista, a coleção de Karl Lagerfeld foi justamente o contrário! Com uma mistura entre os elementos da cultura tradicional norueguesa ao luxo dos bordados e técnicas artesanais – já clássicos da maison, Lagerfeld trouxe texturas e padronagens à passarela. “Me pareceu que esses materiais, se utilizados de maneira particular, são muito lindos. Foi necessário criá-los por completo porque no mercado não há lantejoula de madeira”, disse Karl Lagerfeld após o desfile, ressaltando, ainda, que sua coleção “não busca chamar atenção no estilo tapete vermelho”. “A ecologia é um dos temas de nossa época, mas nunca foi utilizado no luxo. O grande luxo é quase o oposto. No geral, tudo o que é ecológico se associa a uma pessoa não muito cuidada”, lamentou.
Nessa temporada, a silhueta da mulher Chanel é alongada e há referências às roupas vikings, com looks de aspecto rústico, saias longas e secas, capas que remetiam às princesas e personagens icônicos de contos de fadas – mas em versão Chanel! Ou seja: glamurosas, cheias de brilho e translúcidas. Além disso, malhas de metal, tops estruturados bordados com mangas duras, e até releitura de armaduras fizeram parte da alta-costura da maison. O print floral e as estampas de insetos, em referência à fauna e a flora norueguesas, trouxeram cor com bordados e brilhos e foram usados também nos acessórios. Já os sapatos voltaram ao mood rústico do cenário. O destaque ficou para a anabela ondulada de cortiça, usada em todos os looks do desfile. “A palavra está um pouco desgastada, mas queria algo um pouco zen. São mulheres que não estão apressadas, que não têm que pegar um trem e podem caminhar em seu jardim”, explicou o Kaiser.
O único homem que cruzou a passarela foi Baptiste Giacobini. O muso de Karl desfilou com uma jaqueta de tweed, camiseta branca e calça mostarda em meio a modelos como Kendall Jenner, Gigi Hadid, a brasileira Cris Herrmann e outras. A beleza chamou atenção graças ao delineador: com duas longas linhas na parte superior e inferior dos olhos, de um jeito bem gráfico. Na fila A, nomes como Gwyneth Paltrow, Diane Kruger, Kate Bosworth e Cara Delevigne, que levou seu cachorro Leo ao show.
A casa de madeira de três andares, com nichos quadrados que revelavam as modelos conforme as portas se abriam automaticamente, fechou o desfile com chave de ouro.
Giorgio Armani Privé
O Palais de Tokyo, local escolhido pelo próprio Giorgio Armani para o show, já adiantava o que viria na coleção: muito futurismo! Com predominância dos tons lilás, fluidez, brilhos e babados, a coleção primavera-verão 2016 da grife trouxe proporções e fez uma releitura do universo futurista em peças de cetim e organza. A marca já havia feito uma coleção capsula nomeada “The New Normal”, que consiste em peças clássicas neutras – as que formam a base do guarda-roupa da mulher moderna. “Me interessam mulheres cujas vidas não são ditadas pelas tendências, mas por uma atitude. As mulheres que são naturais, que realmente vivem e reagem ao mundo à sua volta e nem sempre são seduzidas por tendências. Elas são a inspiração e cliente para essas roupas”, declarou o estilista.
Giambattista Valli
O Jardin du Luxembourg, o Palácio Real, o Parc de Bagatelle, o Jardin des Tuileries e outros foram a inspiração da passarela de Giambattista Valli, que contou com uma série feminina cheia de vestidos. Dos curtos aos longos e com muitas opções e recordes, o que chamou atenção foi o retorno dos mullets, que, na coleção da marca, trouxeram um ar romântico às produções. O tomara que caia e o colo marcado e geométrico também ganhou destaque. “A homenagem aos jardins de Paris é um tipo de agradecimento”, contou Giambattista, no backstage do desfile assinado pelo diretor criativo Nicole Phelps.
Artigos relacionados