Multimarcas Opinião promove desfile a céu aberto, em Ipanema, das marcas Fruto do Conde e Kundalini, uma ode à moda autoral


Quem passava pela esquina das ruas Visconde de Pirajá com Maria Quitéria pôde conferir moda na mais pura essência do lifestyle do nosso Rio de Janeiro. Foram apresentadas as novas coleções da Kundalini, de Claudia Gaio, e de Denise Faertes, à frente da sua marca, Fruto do Conde. Um verdadeiro brinde aos agitos em Ipanema com ênfase na democratização da moda autoral repleta de saberes ancestrais; ao handmade – o feito à mão – unindo tradição e inovação em uma simbiose perfeita; ao desenvolvimento sustentável como prioridade; ao slow fashion; ao upcycling, gerando impacto positivo para a economia

Multimarcas Opinião promove desfile a céu aberto, em Ipanema, das marcas Fruto do Conde e Kundalini, uma ode à moda autoral

Como é especial acompanhar o que tem sido proporcionado democraticamente a todos que passam na calçada do encontro das ruas Visconde de Pirajá e Maria Quitéria, em Ipanema: moda na mais pura essência do lifestyle do nosso Rio de Janeiro. A moda autoral repleta de saberes ancestrais; o handmade – o feito à mão – unindo tradição e inovação em uma simbiose perfeita; o desenvolvimento sustentável como prioridade; o slow fashion; o upcycling, gerando impacto positivo para a economia. Faz bem aos olhos e aguça todos os nossos sentidos para ter roupas e acessórios que nos dizem ao coração. E a multimarcas Opinião, de Juliana Erthal, tem feito uma alquimia perfeita ao criar os desfiles a céu aberto que podem ser considerados um revival dos grandes agitos no coração de Ipanema, na década de 80, com o Grupo Moda Rio, como também um elemento aglutinador de valorização do socioambiental proposto por designers que dia a dia têm procurado dividir vivências e memórias, tornando a moda plural como o país.

Depois de promover, com direção criativa de Alexandre Schnabl, os desfiles de rua de Frankie Amaury e Toia Lemann, no final de novembro, Juliana Erthal convocou novamente o agitador cultural para apresentar as novas coleções da Kundalini, da mineira Claudia Gaio, e de Denise Faertes à frente da sua marca, Fruto do Conde. Já pontuei aqui no site que o segmento autoral da moda vem crescendo a cada ano. Nele, agregam-se alguns conceitos do tripé da sustentabilidade – econômico, social e ambiental -, reciclagem, cadeia produtiva ética e limpa, utilização de produtos e mão de obra local, valorização da economia criativa e respeito aos direitos humanos. Os movimentos de quem faz a moda são fundamentais para as transformações urgentes que precisamos ver em toda a cadeia produtiva. E não podemos esquecer que os consumidores são peças-chave nas mudanças para uma moda mais sustentável. Essa conexão faz toda a diferença para um resultado efetivo das ações.

Gostaria de frisar que Denise Faertes é uma das designers mais importantes da cena autoral da moda com sua marca Fruto do Conde. Denise une design com sensibilidade e um senso estético apurado que faz com que suas peças alcancem o status de obras de arte. Suas peças são icônicas. Desta vez, ela levou para Ipanema uma coleção inspirada em símbolos sagrados que vão da África à Cabala, com seus looks maximalistas bordados feitos com tecidos pintados à mão de cabo a rabo, sempre a partir do tecido branco preenchido em sua totalidade.

Acompanhei por duas vezes seguidas os recentes desfiles de Denise no ID-Rio, em Niterói, e no DFB Festival, em Fortaleza. Mestre em design de moda pela Raffles Milano, para onde ganhou uma bolsa de estudos em 2020, e PhD em engenharia pela Universidade de Sheffield, na Inglaterra, ela idealiza seus lindos modelos em família, com o marido, o designer de produto e cenógrafo Gil Haguenauer, e a filha, a designer gráfica e artista visual Rebecca Faertes.

Filha de imigrantes, a designer Denise Faertes me contou que seus pais tinham receio de ela não conseguir viver da pintura, como era seu desejo. Mística, é profundamente interessada na questão religiosa: “O manto sagrado, que serve de proteção para quem o vestir, recebeu a nota máxima no mestrado. Foi criado a partir de uma pesquisa que tenho feito há muito tempo sobre o misticismo afro-brasileiro e a cultura judaica. Sou judia e estudo a Cabala há tempos”.

Jonathan Ferr com o manto "Corpo Fechado" (Foto: Divulgação)

Jonathan Ferr com o manto “Corpo Fechado” (Foto: Arquivo/Fruto do Conde)

Jonathan Ferr com o manto "Corpo Fechado" (Foto: Divulgação)

Jonathan Ferr com o manto “Corpo Fechado” (Foto: Arquivo Fruto do Conde)

Leiam que frase linda ela nos disse durante uma entrevista:

A pintura das roupas à mão livre é um dos nossos diferenciais. E tenho que agradecer por trabalhar com uma família formada por profissionais de diferentes segmentos dentro do design. Temos afinidade estética. Somos pessoas totalmente diferentes que conseguem ter essa harmonia na criação – quase nos falamos por telepatia. O olhar crítico deles é fundamental enquanto estou criando. O fundamento da Fruto do Conde é trazer arte para as roupas – Denise Faertes

Quem passava naquele trecho de Ipanema conferiu a modelagem única, o ótimo acabamento e o requinte dos forros. Para completar, os tênis pintados pela filha Rebeca e os colares criados por Luciano Rocha, da Afrikanismo, que arrematam aqueles outros concebidos pela própria estilista.

Alexandre Schnabl, Juliana Erthal e Denise Faertes (Foto: Leo Marinho)

E vamos agora abordar os destaque de Claudia Gaio: moda “descomplicada”, mas cheia de personalidade, como Schnabl contou. Os vestidos, túnicas, batas, saias e pantalonas da Kundalini são puro charme: confeccionados no seu ateliê em Jaipur, na Índia, com a técnica de block printing – feita com blocos de madeira que carimbam artesanalmente o algodão puro, liso ou amassadinho”.

Claudia Gaio (Foto: Leo Marinho)

E mais: a técnica handmade, assimilada por Claudia desde a sua primeira viagem ao país asiático, nos anos 1990, desagua em belos florais, paisleys e cashemeres em coloridos exóticos, que dividem a arara com outras peças lisas tingidas manualmente em slow fashion, sem desperdício e quase exclusivas, em modelagens retas, evasées ou transpassadas que permitem sobreposições”. Luxo define seu estilo, que se completa com lenços e echarpes da marca e com as rasteirinhas da Manas T.

Na passarela pink na qual as duas designers desfilaram suas criações, 10 modelos e mais dois homens, a beleza madura prateada da top model Zilma Arruda, 61, ícone dos anos 1990, e Roberta Ribeiro, sobrinha de Darcy Ribeiro (1922-1997).