*Por Alessandro Martins
Hoje, eu pretendo tratar de danos gerados pela utilização de polimetilmetacrilato, conhecido como PMMA, em tratamentos estéticos. Atualmente, há muitos profissionais não médicos realizando esses procedimentos – esteticistas, farmacêuticos e enfermeiros, entre outros, são alguns exemplos. Esses profissionais aplicam técnicas de preenchimento, utilizam toxina botulínica e realizam procedimentos tanto faciais quanto corporais. Vale destacar que os preenchedores liberados no mercado para uso são, principalmente, aqueles à base de ácido hialurônico e os de hidroxiapatita de cálcio, que, além de preencherem, também atuam como bioestimuladores.
O PMMA, por sua vez, é um preenchedor permanente, não absorvível, que foi amplamente utilizado no passado para preenchimentos faciais, labiais e corporais. Contudo, por ser um material inabsorvente, permanente, está associado a várias complicações, incluindo reações inflamatórias crônicas. Essas reações podem levar à extrusão do material, ou seja, à sua expulsão pelo corpo, decorrente de uma resposta de rejeição como corpo estranho. Isso evidencia os riscos associados ao uso desse tipo de preenchedor.
Outro ponto importante é que fragmentos de polimetilmetacrilato podem ser fagocitados e transportados por células para áreas distantes do local onde o material foi injetado. Por esse motivo, a Anvisa retirou o PMMA do mercado como preenchedor estético, mantendo sua liberação apenas para o tratamento de lipodistrofias faciais em pacientes com HIV. Essas condições, causadas pelos antirretrovirais, provocavam a perda de gordura facial e geravam um estigma ligado à aparência.
Para esses pacientes, que precisariam de múltiplos preenchimentos com materiais absorvíveis, foi criado um protocolo específico permitindo o uso do PMMA temporariamente. No entanto, com o avanço e a ampla disponibilidade dos preenchedores à base de ácido hialurônico, esses se tornaram a principal escolha, especialmente para preenchimentos faciais. O ácido hialurônico é seguro, biocompatível, absorvível e oferece uma vantagem fundamental: pode ser revertido com a enzima hialuronidase.
Ela permite a remoção do ácido em caso de complicações, incluindo obstruções vasculares, como compressão ou injeção inadvertida do material em um vaso sanguíneo, evitando danos graves. Isso não é possível com o PMMA, que é permanente e não possui um antídoto. Por essa razão, não deve ser utilizado em procedimentos de preenchimento e não está mais autorizado para essa finalidade.
Apesar das restrições, ainda existem profissionais que continuam utilizando o polimetilmetacrilato em preenchimentos faciais e corporais, principalmente devido ao custo mais baixo em comparação ao ácido hialurônico e ao fato de ser um material permanente. No caso dos preenchimentos corporais, é comum observar o uso do PMMA na região glútea, assim como o hidrogel, outro material que já foi amplamente utilizado em preenchimentos corporais, mas que também foi banido devido às suas complicações.
O hidrogel, por ser um material não absorvível, pode levar a extrusão e infiltração nos tecidos. Quando é necessário removê-lo, é preciso destruir todo o tecido onde se alojou, o que contraindica sua utilização. Já o PMMA, que foi frequentemente utilizado em grandes volumes, especialmente na região glútea, também apresenta sérios riscos. Ele provoca uma reação inflamatória crônica, que prejudica os tecidos locais, deixando-os vermelhos, inflamados e com aspecto infeccioso. Com o tempo, o material pode ser expelido pelo corpo, mas esse processo de extrusão causa destruição dos tecidos ao redor.
Além disso, a única forma de remover o PMMA é por meio de cirurgia, o que, em muitos casos, torna o procedimento extremamente difícil ou mesmo inviável, agravando ainda mais as complicações. Por esses motivos, o uso de materiais como PMMA e hidrogel é contraindicado e representa um risco elevado à saúde dos pacientes.
Para preenchimentos na região glútea, os materiais recomendados são os enxertos de gordura, realizados exclusivamente em ambiente hospitalar. Trata-se de um procedimento cirúrgico que não deve ser feito em consultórios ou durante lipoaspirações ambulatoriais, devido ao risco elevado de infecção e à toxicidade das doses de anestésico local necessárias para realizar a anestesia de múltiplas áreas para a lipoaspiração e a injeção de gordura. Esse tipo de procedimento é estritamente proibido em ambientes não hospitalares.
A lipoenxertia glútea, portanto, deve ser realizada em ambiente cirúrgico e associada à lipoaspiração. A gordura retirada é injetada na região glútea, onde se integra ao tecido receptor, recebendo suporte sanguíneo e tornando-se um material permanente e biocompatível, pois é proveniente do próprio corpo do paciente. Essa gordura apresenta variações conforme o peso do paciente: aumenta se ele engordar e diminui se emagrecer. Sofre variação de acordo com o peso da pessoa.
Além da lipoenxertia, outra opção indicada são as próteses de silicone para os glúteos. Esse procedimento é seguro, amplamente estudado e respaldado por evidências científicas e exames de imagem. No entanto, deve ser realizado por profissionais capacitados, já que nem todos os cirurgiões plásticos possuem habilidade específica para a colocação dessas próteses. Quando implantadas no plano correto, de forma intramuscular, ficam bem cobertas pelos músculos, sem aparência artificial, e permitem que o paciente leve uma vida normal, incluindo a prática de exercícios físicos. Além disso, proporcionam um contorno glúteo estético e harmônico.
Quando associados aos enxertos de gordura, os resultados alcançados podem ser naturais e harmoniosos. É importante destacar que muitos preenchimentos com aparência artificial, exagerada ou estranha não são provenientes de próteses glúteas. Elas têm volumes limitados, variando entre 400ml e 450ml, o que torna impossível obter volumes exagerados. Resultados extremamente volumosos geralmente estão relacionados a injeções de preenchedores como hidrogel e polimetilmetacrilato. O estigma de que as próteses de glúteo resultam em uma aparência artificial não se justifica. Elas são implantadas com cobertura muscular adequada, não ficam visíveis e possuem volumes moderados, garantindo um resultado discreto e estético.
Por outro lado, alguns pacientes optam por enxertos de gordura em volumes excessivos. Embora este seja um procedimento permitido, desde que realizado em ambiente hospitalar com acompanhamento de um anestesista capacitado e associado à lipoaspiração, eu não recomendo tal prática. Múltiplos enxertos exagerados podem resultar em glúteos excessivamente volumosos, o que, a longo prazo, pode levar à ptose glútea (queda da região glútea). Além de comprometer a estética, esse tipo de resultado não oferece a durabilidade esperada e não corresponde ao que considero ideal.
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ATENÇÃO
. Muitos pacientes têm procurado profissionais não médicos para se submeter a procedimentos estéticos, muitas vezes atraídos por valores mais baixos. No entanto, essa escolha pode aumentar os riscos, já que as intervenções exigem conhecimento anatômico, formação adequada e habilidade técnica. Alguns desses profissionais prometem resultados milagrosos e permanentes utilizando substâncias como polimetilmetacrilato e hidrogel, que frequentemente estão associadas a complicações graves. Vale destacar que cirurgiões plásticos não utilizam esses preenchedores, pois não são liberados pela Anvisa. Porém, é comum que indivíduos sem a qualificação necessária, mas atuando na área da estética, façam uso indevido desses materiais. Por isso, tenha cautela com os produtos empregados: preenchedores inabsorvíveis podem causar complicações e não são recomendados.
. Em pacientes que realizaram esse tipo de procedimento com aplicação desse tipo de material na região glútea, as complicações costumam surgir após cinco anos. A remoção só é possível por meio de cirurgia. Para quem apresenta complicações, não é recomendado substituir o material por uma prótese ou realizar uma lipoenxertia, pois esses procedimentos não podem ser feitos simultaneamente. Isso se deve à grande destruição de tecidos, incluindo a gordura da região glútea e, em muitos casos, até do tecido muscular. Os músculos glúteos podem estar destruídos devido ao uso desses preenchedores.
. Atualmente, existe uma linha de ácidos hialurônicos corporais que pode ser utilizada para aumento de volume em áreas como os glúteos e a região abdominal, incluindo a definição do reto abdominal com injeção de ácido hialurônico na musculatura. Esses preenchedores, aplicados em pequenos volumes, são materiais reabsorvíveis, seguros e amplamente estudados. No entanto, não são indicados em volumes exagerados. Se o objetivo é um aumento glúteo seguro e duradouro, pense na prótese, associada ou não à lipoenxertia. Essa abordagem oferece um resultado anatômico, permanente e especialmente indicado para esse tipo de procedimento.
. Há múltiplos alertas a serem considerados. O desejo por um contorno corporal ou glúteo bonito muitas vezes leva pacientes a tomarem decisões precipitadas. Trata-se de um assunto sério, com potencial para causar complicações graves. E isso sem mencionar o risco de embolia causado pela injeção inadvertida desses materiais em vasos sanguíneos, o que pode, inclusive, levar ao óbito. Portanto, fica o conselho: tenha extremo cuidado com o que é injetado em seu corpo, pois as complicações podem ser irreversíveis.
Contato: Dr. Alessandro Martins
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