INSPIRAMAIS LIVE: O setor têxtil, o produto 100% nacional, a sustentabilidade e percepções pós pandemia de Covid-19


O coordenador do Núcleo de Design do Inspiramais, Walter Rodrigues, conversou com Thaissa Wiezel, diretora comercial e criativa da Innovativ Tessile, através da web em ação promovida pelo Inspiramais e o Sebrae. “Por termos esse foco em desenvolvimento, que é nosso ponto mais forte, nós da Innovativ estamos à disposição para desenvolver algo que realmente faça sentido e agregue valor ao produto final. A gente precisa, mais do que nunca, se unir e focar mais no Brasil, trazer mais bossa, cores e textura, toda a nossa vibração e criatividade de uma forma mais autoral, que tenha uma cara mais brasileira”, pontua ela

Ao mesmo tempo em que o mundo enfrenta a pandemia provocada pelo novo coronavírus, surge a reflexão: como  a humanidade irá se comportar ao fim dessa situação extrema? Sairemos melhores do que entramos? A LIVE INSPIRAMAIS com o tema “Innovativ Tessile: setor têxtil, produto 100% nacional, sustentabilidade e as percepções para o pós-pandemia” contou com Walter Rodrigues, coordenador do Núcleo de Design do Inspiramais – Único Salão de Design e Inovação de Materiais da América Latina, recebendo para um bate-papo Thaissa Wiezel, diretora comercial e criativa da Innovativ Tessile, indústria têxtil nacional com produção de tecidos de qualidade usando as melhores matérias-primas do mercado. A indústria está localizada em Santa Bárbara d’Oeste, em São Paulo. A live foi realizada no Instagram do Inspiramais (@inspiramaisoficial) em parceria com o SEBRAE e é um projeto que aborda temas revelantes para o setor da moda, promovendo ideias e sugestões para todos os conectados. “Estamos passando por um momento muito complicado, mas podemos sair renovados e fortalecidos, se pensarmos em união”, acredita Walter.

Promovido pela Associação Brasileira de Empresas de Componentes para Couro, Calçados e Artefatos (Assintecal), Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit), Associação Brasileira das Indústrias do Mobiliário (Abimóvel), Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil), pelo Centro das Indústrias de Curtumes do Brasil (CICB) e Programa de Internacionalização da Indústria Têxtil e de Moda Brasileira (Texbrasil), Brazilian Leather, By Brasil Components, Machinery and Chemicals e com apoio de algumas das principais entidades setoriais do país, o Inspiramais é onde a moda começa. E sempre com um novo olhar, sentindo o pulsar de um país e seu povo, onde as relações humanas cada vez mais permeiam e permearão toda a cadeia da moda em plena Quarta Revolução Industrial e em sinergia com a sustentabilidade.

A edição 2021_II está programada para os dias 5 e 6 de agosto, no Centro de Eventos Pró-Magno, em São Paulo, com o tema Free Spirit, que lançará luz sobre a existência de uma reorganização na forma de pensar e fazer moda, nos orientando por um espírito livre e uma consciência ecológica, coerente com novos princípios, propondo uma reinvenção por meio da criatividade. O Único Salão de Design e Inovação de Materiais da América Latina reúne designers, empresários, profissionais da moda e players das indústrias de Norte a Sul do país e do exterior, entre 7.800 visitantes, para apresentar cerca de 1 mil materiais inovadores para roupas, calçados, bijuterias, design de móveis e outros segmentos ligados à moda e até ao setor automobilístico e universo dos pets.

Walter Rodrigues acredita que a união é a chave para o setor da moda sair fortalecido após a pandemia (Foto: Divulgação)

Segundo Thaissa, a Innovativ produz tecidos para moda e decoração. “Percebemos que existia uma demanda não suprida no mercado para tecidos diferenciados, que são o nosso maior know-how e produzimos de acordo com a necessidade de nossos clientes. Somos experts na produção de tecidos em jacquard. Atualmente, o mais importante para todas as marcas é contar a que vieram e imprimir o DNA delas também no tecido. Contar uma história mais completa e sustentável”, explica a diretora. “É maravilhoso ouvir isso, porque essa percepção do exclusivo leva a gente para pensar no autoral. Vemos que os criadores estão preocupados em deixar sua marca, no sentido de essência de cada um. Isso é muito bacana”, comemora Walter Rodrigues.

O coordenador do Núcleo de Design do Inpiramais ressalta a importância de apoiar novos designers, como faz a Casa de Criadores, capitaneada por André Hidalgo. “Hidalgo é um herói, faz um trabalho incrível. Moda é negócio, a gente tem que ter essa noção. Não dá mais para separar a criação da gerência comercial”, afirma. E como a Innovativ teve a sensibilidade de trabalhar com os novos designers? “Desde o início, também focamos em desenvolver exclusivo para estilistas ou pequenas marcas que estão começando como uma forma de apoio. A política da Innovativ é prezar e priorizar o desenvolvimento autoral e brasileiro. A indústria como um todo, junto com os designers e estilistas, precisa se unir para realmente mostrar quem é o Brasil. A gente é extremamente criativo, forte e versátil”, diz Thaissa. “Os estilistas autoriais trazem uma força imensa de criação e nos desafiam em diversos aspectos e nos fazem evoluir com relação ao desenvolvimento de produto propriamente dito”, acrescenta ela.

“Atualmente, o mais importante para todas as marcas é contar a que vieram e imprimir o DNA delas também no tecido”, explica Thaissa Wiezel (Foto: Reprodução Instagram)

Para Walter, o fato de o mundo estar sendo sacudido por uma tempestade como a provocada pela Covid-19 só reforça a necessidade de voltar os olhos para o outro e buscar parcerias, sem esquecer de abrir espaços. “Os novos criadores realmente alimentam aquela noção que a gente tem de inovação, no sentido de buscar resultados. Eles estão muito ligados em todo o caminho da sustentabilidade, porque já nascem com a vocação para discutir esse tema”, argumenta. “A tendência é que, principalmente na moda, a gente escolha produtos que tenham mais essência, uma vida mais longa e sejam realmente necessários. A palavra conforto, por exemplo, ganha uma dimensão diferente na pandemia: ficar 30 dias dentro de casa, vestido praticamente de moletom e pijama, dá a você outra ideia de roupa”, pondera.

E ser sustentável não é preocupação exclusiva de quem faz a moda. “Percebemos que, de dois anos para cá, deu um clique na cabeça do consumidor final para realmente pensar nesse assunto. Grandes marcas que não têm a vertente sustentável já reservam um percentual para isso, ainda que seja apenas 10% ou 15%. Acreditamos muito não só na sustentabilidade ambiental, mas também em comprar do Brasil. Hoje, mais de 90% da nossa matéria-prima é brasileira, então eu apoio a cadeia como um todo”, conta Thaissa.

O algodão colorido produzido na Paraíba é um exemplo de matéria-prima voltada para a sustentabilidade (Foto: Divulgação)

Entre os produtos comprados do Brasil está o algodão naturalmente colorido, desenvolvido com apoio da Embrapa e produzido na Paraíba, em um projeto de agricultura familiar. “Quando se fala em sustentabilidade, o algodão naturalmente colorido é a produção brasileira mais linda que existe. Como a pluma desse algodão já nasce colorida, você elimina 88% do uso de água, porque não precisa tingir; não tem aditivo químico, porque ele já nasce colorido; e é um desenvolvimento 100% brasileiro, foi a Embrapa que conseguiu alongar a fibra desse algodão para que ele pudesse ser fiado”, observa Thaissa. “A Innovativ foi uma das primeiras indústrias têxteis de tecido plano a usar esse tipo de algodão. Até hoje, a gente vem trabalhando muito forte nisso, junto com o algodão reciclado”, revela.

Walter aponta que o Brasil tem a vantagem de produzir três safras de algodão, algo que não acontece em qualquer país. “Conheço o algodão colorido do trabalho que a gente faz na Paraíba, junto com o Instituto By Brasil, o SEBRAE local e cooperativas mesmo dentro da indústria do calçado. Somos muito próximos desse projeto”, orgulha-se.

A diretora comercial e criativa da Innovativ lembra que não é de hoje que a empresa se preocupa com sustentabilidade. “Desde o ano 2000, consumimos algodão reciclado, que é coletado por cooperativas e dividido em cores. Esses retalhos são coletados de diversos tipos de confecções, separados em cores e desfibrados. Então, viram fibra de novo e é refeito o fio. Acaba sendo um fio mais barato, por já vir tinto. Ninguém consegue garantir que vai ser sempre exatamente o mesmo tom, mas não é preciso reenviar para tingimento, ou seja, você economiza água e não existe nova adição de corantes. Por esses fatores, ele acaba sendo mais barato do que você pegar um algodão virgem e mandar para tingimento”, descreve.

O protagonismo do tecido sustentável (Imagem de Bruno /Germany por Pixabay)

Voltando a falar dos reflexos da pandemia na indústria da moda, Walter levanta a hipótese de o tecido se tornar protagonista entre as matérias-primas, especialmente no Brasil, pelo fato de a China ter deixado de lado a confecção de laminados sintéticos e voltado suas fábricas para a produção de EPIs (Equipamentos de Proteção Individual). “Acredito que tenhamos baixa quantidade de laminados sintéticos vindo para o Brasil nesses próximos dois semestres, até a história toda voltar. O algodão é brasileiro. Temos reciclagem aqui dentro e outros componentes necessários. Nós somos um dos únicos países onde a cadeia está toda muito bem arrumada e organizada”, pontua.

Thaissa se mostra entusiasmada diante da possibilidade de o tecido conquistar mais espaço. “Tomara que seja assim que aconteça. Meu parque fabril tem capacidade de produzir 500 mil metros por mês, em média, e nos últimos anos não tivemos muito como competir com o preço dos chineses. A gente foi diminuindo a quantidade de metros produzidos e focando no que é diferenciado. Isso faz com que eu tenha uma capacidade excedente bem alta. Existindo essa demanda maior por tecido eu consigo suprir amanhã. Estou ansiosa por isso”, confessa.

Walter Rodrigues e Thaissa Wiezel defendem a união na indústria da moda (Imagem de Gerd Altmann por Pixabay)

Walter frisa que a união é o caminho para atravessar tempos de incerteza, diante da crise econômica que vem no rastro do coronavírus. “Precisamos unir essa energia positiva para fazer algo bacana. Temos uma média de 180 expositores no Inspiramais e um carinho enorme por cada um. Comigo, são 28 consultores, além de toda a equipe da Assintecal e da diretoria. É muita gente preocupada com essas pessoas, com o que vai acontecer nesse futuro. A ideia desse associar sempre da Assinteca me encanta. Tenho muito medo dessa coisa de prognósticos, porque acho que, se já está difícil viver o dia a dia, imagina pensar daqui a seis meses, daqui a um ano. A gente pode propor cenários, mas na verdade ninguém tem certeza de nada”, reconhece.

Thaissa também defende que, de mãos dadas, todo o setor sai ganhando. “Por termos esse foco em desenvolvimento, que é nosso ponto mais forte, nós da Innovativ estamos à disposição para desenvolver algo que realmente faça sentido e agregue valor ao produto final. A gente precisa, mais do que nunca, se unir e focar mais no Brasil, trazer mais bossa, cores e textura, toda a nossa vibração e criatividade de uma forma mais autoral, que tenha uma cara mais brasileira”, enfatiza. “Brasileiro é apaixonado por moda. Vejo as pessoas na vitrine, olhando detalhes e perguntando aos vendedores. Espero que saiamos de toda essa história fortalecidos”, conclui Walter.

Inspiramais 2021_I

O Inspiramais 2021_I – Único Salão de Design e Inovação de Materiais da América Latina e consolidado como grande evento de matéria de moda do Brasil -, realizado em janeiro, em São Paulo, elegeu, a partir das pesquisas do Núcleo de Design, a Sincronia como palavra-chave. Passado, presente e futuro no agora. “A palavra sustentabilidade adquiriu uma importância gigantesca, uma vez que deixou de ser conceito para tornar-se uma prática cotidiana com grande impacto na escolha do produto final pelos consumidores conscientes”, fala Walter Rodrigues, acrescentando que, com a Inteligência Artificial, conectividade, redes etc. o futuro é agora e a evolução das ciências torna o homem atual um questionador sem limites. “Tivemos um tempo onde fortaleceram-se as relações B To B, e B To C, mas de agora em diante deverá ser Human to Human”, aposta.

A próxima edição 2021_II será permeada pelo tema Free Spirit, que lançará luz sobre a existência de uma reorganização na forma de pensar e fazer moda, nos orientando por um espírito livre e uma consciência ecológica, coerente com novos princípios, propondo uma reinvenção por meio da criatividadeNa pesquisa de inspiração realizada pelo Núcleo de Design do Inspiramais está lá: “‘Sentir-se bem’ com as roupas que vestimos não é mais estritamente aparência ou conforto: trata-se de sentir-se bem em representar algo, em ter propósito. Portanto acreditamos que a ‘criatividade’, um tanto esquecida nesses tempos de grandes volumes e lucros estratosféricos, passa a ser hoje uma palavra importante. Uma reflexão sobre o momento de (r)evolução que estamos presenciando, com um sentimento criativo muito similar ao dos anos 1970, década marcada pelas contraculturas e a força street style”. Como já ressaltamos aqui, Ilse Guimarães, superintendente da Associação Brasileira das Empresas de Componentes para Couro, Calçados e Artefatos (Assintecal), elegeu uma palavra é importantíssima neste momento: afago. “Encaramos nossa responsabilidade de inspirar e provocar o melhor nas pessoas, gerando assim um sentimento de esperança e renovação de energia para construir um novo pensamento”, pontua.