ID:Rio Festival – A ênfase da Kitecoat pela sustentabilidade transformando pipas de kitesurf inutilizadas em jaquetas


A Kitecoat desfilou no ID:Rio uma collab com a label Marju. “Nossa crença é a de que boas memórias podem ser a alma de um produto feito a partir do reuso. Por um lado, os praticantes de kitesurf que gostariam de eternizar suas aventuras com aquele equipamento e por outro, qualquer um que se encanta com o diário vivo que uma peça de vestuário pode ser. Todas as frentes de sustentabilidade em moda são importantes”, frisa Alexandre Rezende à frente da Kitecoat

Segundo especialistas, no último ano a indústria da moda apresentou um lento progresso no que diz respeito às práticas de sustentabilidade. O meio ambiente e a sociedade continuam sendo impactados pelas roupas produzidas e pela ausência de soluções neste âmbito. A boa notícia, é que por outro lado, cada vez mais as empresas e consumidores assumem essa responsabilidade, buscando produtos e serviços que gerem menor impacto ambiental. Só ainda não é o suficiente. Mas como por aqui, exaltamos as boas iniciativas e ficamos de olho nas labels com consciência socioambiental, estamos impactados com o desfile no ID:Rio Festival, que levou visibilidade e formação a empreendedores fluminenses, da collab entre Marju, que faz uma moda-praia autoral 100% brasileira, sofisticada, mantendo pilares sustentáveis. E a Kitecoat? Uma paixão! Imagine o seguinte: a beleza nasceu de um profundo olhar para o upcycling. Foi exatamente assim que o arquiteto e designer Alexandre Rezende, incomodado com o ciclo de vida do seu equipamento de kitesurf, e a mulher, Paula Lagrotta, publicitária, aspirante a velejadora e diretora de planejamento na  Artplan, conceberam o projeto que deu origem à marca.

Pipas de kitesurf que não servem mais para o velejo são transformadas em jaquetas windbreak (Foto: Camila Mendes)

“Somos sócios na vida e no mar. Também sou pesquisador de sustentabilidade. Tudo começou em 2014, quando eu pensava nesse equipamento de kite que eu tinha ‘aposentado’ no fundo do armário. Fui pesquisar e descobri que o tempo médio de duração de uma pipa pode ser de até 300 horas de velejo, e que o nylon pode levar até 300 anos para se decompor na natureza”.

Ou seja, 300 horas de prazer velejando podem tornar-se 300 anos de passivo para o planeta, quando um kite entra em desuso. Uma equação cabalística que inspirou uma história apaixonada. Somos uma marca de upcycling: reutilizamos materiais provenientes de pipas de kitesurf inutilizadas que se transformam em jaquetas – Alexandre Rezende

Sobre a collab, ele justifica a escolha. “São duas marcas que aprenderam a andar na areia e a nadar no mar. E, portanto, têm na sustentabilidade suas grandes inspirações. A Marju é uma marca de beachwear atemporal e sofisticada, que carrega o DNA sustentável em sua produção. Do outro lado dessa parceria, está o projeto Kitecoat, uma marca que transforma pipas de kitesurf que não servem mais para o velejo em jaquetas windbreak, reaproveitando suas partes de nylon e aviamentos. Utilizamos 100% da matéria-prima proveniente de doações e por isso seu modelo de negócio é baseado na circularidade”, diz.

A alta potência do beachwear da Marju e as criações da Kitecoat (Foto: Camila Mendes)

A alta potência do beachwear da Marju e as criações da Kitecoat (Foto: Camila Mendes)

“Para o desfile apresentamos produções que reuniram peças da coleção das duas marcas, mostrando que moda e sustentabilidade geram desejo genuíno, contribuindo de forma potente para o nascimento de uma nova mentalidade de consumo. E para celebrar a parceria, também apresentamos uma bolsa especialmente criada para o evento, feita a partir de partes do nylon da confecção da Kitecoat, com design e detalhes inspirados nas coleções Marju”.

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Alexandre também exalta a realização do ID:Rio Festival, apresentado pela Enel, com patrocínio do Governo do Estado do Rio de Janeiro e da Secretaria de Estado de Cultura e Economia Criativa, através da Lei Estadual de Incentivo à Cultura, evento que contempla estímulo em alta potência ao trade da moda em conexão com as artes, e é realizado e regido com maestria pelos idealizadores, Claudio Silveira e Helena Vieira Gualberto Silveira. “É um universo de inspiração expandido para nós, já que por um lado reúne marcas e profissionais de moda consagrados, e também empreendedores em início de jornada. São dois polos que se conectam com a evolução da Kitecoat, que apesar de já ter sete anos de estrada, é uma marca ‘beta’, com uma proposta de valor que desafia modelos e escala de negócio. Por outro lado, a participação do público nas palestras, talks, shows e principalmente nos desfiles, transforma a criatividade em um diálogo potente. É a chance de medir ali mesmo, na hora, o quanto moda, música, cultura e inovação mobilizam novas expectativas e comportamentos contemporâneos”, pontua Alexandre.

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E opina sobre a moda autoral brasileira: “Sempre foi reconhecidamente criativa. Mas o que caracteriza o espírito do nosso tempo é que essa criatividade vem assumindo alguns papeis super importantes na construção de novas mentalidades de consumo. É um movimento que obviamente influencia os novos criadores, mas que também estimulou muitas marcas consagradas a reverem sua essência, processos, cadeias de produção, entre outras coisas. A gente entende que em negócios criativos como a moda, sempre haverá lugar para marcas autorais, mas gostamos de pensar que a ‘autoralidade’, no momento atual, tem mais a ver com uma tomada de posição sustentável em todas as dimensões: ambiental, social e  política até que toda e qualquer marca, pequena, grande, madura ou iniciante, precisa encarar. Por isso, a importância do ID:Rio Festival como um ambiente estimulante para as trocas de todo o nosso ecossistema, ampliando a visão de parcerias e colaborações. Foi-se o tempo que quem estava começando vinha aprender com quem já está por aqui há muito tempo. Esse caminho, hoje, é uma via de mão dupla”, analisa.

Pelo socioambiental: Camila Paula Lagrotta e Alexandre Rezende (Foto: Thais Mesquita/Divulgação)

Marca com propósito

Alexandre analisa que “moda é sinônimo de identidade, tanto no ponto de vista individual como espírito de uma época. Não por acaso se diz que a diferença entre uma marca de roupa e uma marca de moda é o poder de superar a funcionalidade (como vestuário) e expressar comportamento. Levamos essa premissa muito a sério e embora a gente se defina como um projeto de gestão de resíduos, nosso canal é a moda. E por quê? Porque nossa crença é a de que boas memórias podem ser a alma de um produto feito a partir do reuso. Por um lado, os praticantes de kitesurf que gostariam de eternizar suas aventuras com aquele equipamento e por outro, qualquer um que se encanta com o diário vivo que uma peça de vestuário pode ser. Todas as frentes de sustentabilidade em moda são importantes. E as que mais avançaram são as que entregam volume como resultado”.

As jaquetas da Kitecoat (Foto: Camila Mendes)

As jaquetas da Kitecoat (Foto: Camila Mendes)

Pontuou ainda que é o caso do recycling que incentivou a criação de novas fibras e tecidos a partir de pet e outros insumos, as compensações de carbono, as soluções para diminuição de água e gestão de resíduos na produção. Mas é o upcycling que tem um papel essencialmente emocional, na virada de chave do consumo.  Exatamente porque é um processo que conserva visualmente as características do produto original. Isto é, a ‘transformação’ de uma coisa em outra, com uma nova funcionalidade, é perceptível, permitindo a construção de uma narrativa com começo, meio e fim. Essa é, na nossa visão, a maior contribuição da Kitecoat para a moda e para as pessoas, de uma forma geral.  Uma maneira original de desafiar as escolhas e até as concepções de luxo e exclusividade, gerando desejo genuíno pelo ‘usado’. Ou como a gente gosta de dizer, fazendo nascer o ‘novo’, de novo”.

Novos horizontes

Sobre os sonhos do projeto que faz uma moda mais consciente e cheia de boas histórias, Alexandre diz que é “um imenso prazer pra gente cada vez mais aumentar a produção de kitecoats, ampliar o número de parceiros entre as guardarias e escolas de kite, assim como entre plataformas multimarcas que ajudam nosso produto chegar a cada vez mais pessoas”.

Olhando para o horizonte da moda, como negócio e como pilar de consumo com impacto gigantesco nas discussões climáticas, ambientais e nos novos comportamentos, nosso sonho é uma demanda bem concreta: o desenvolvimento de leis e dispositivos fiscais que diferenciem negócios que estão desafiando o status quo – Alexandre Rezende

Não o incentivo paternalista, segundo ele, “que muitas vezes ‘condena’ marcas e soluções inovadoras a permanecerem pequenas e/ou artesanais. Mas que ajudem a estruturar cadeias inteiras dando visibilidade a toda a sociedade, sobre novos modelos de criar, produzir e consumir moda.  Essa moda que estamos falando não pode ser só um ‘negócio bom’. Ela precisa e merecer ser um ‘bom negócio’.  E nesse caso, o Estado do Rio, que ocupa um papel essencial na indústria criativa brasileira, seja como celeiro de talentos criadores, seja como caixa de ressonância sobre tendências e inovação, pode e deve assumir essa missão, junto com as marcas”, joga para o universo, enquanto trabalha para essa transformação”.