“Hoje é bem-sucedida a empresa que entende o seu DNA”, afirma Alexandre Herchcovitch


No talk show ‘Novos caminhos da moda e colaboração entre empresas’, no espaço Conectech, no Salão Internacional do Couro e do Calçado (SICC), realizado em Gramado, o designer e head de estilo do Grupo Vulcabras Azaleia frisou a importância de olhar para o passado, presente e futuro

Fanny Littmann e Alexandre Herchcovitch no talk show Novos caminhos da moda e colaboração entre marcas, no SICC 2019 (Foto: Dinarci Borges)

Em edição histórica do SICC – Salão Internacional do Couro e do Calçado, promovido pela Merkator Feiras e Eventos, o head de estilo do Grupo Vulcabras Azaleia, Alexandre Herchcovitch, participou de um talk show mediado pela consultora de moda e negócios Fanny Littmann, no auditório Conectech com o tema: Novos caminhos da moda e colaboração entre empresas. O estilista falou para uma plateia de expositores e compradores nacionais e internacionais que lotaram o espaço. O site HT conversou com o criador e com o CEO do Grupo Vulcabras Azaleia, Pedro Bartelle, e descobriu tudo sobre essa nova empreitada. “O papel do criador é sempre estar inovando, olhando à frente do seu tempo, tentando adivinhar os desejos dos consumidores. Isso acontece com tudo, não só com as roupas, acessórios e calçados. Esse é o ciclo da criação”, ressalta Alexandre Herchcovitch. “A vinda do Alexandre para o grupo faz parte de um processo de renovação das nossas marcas. Ele começou com o vestuário masculino na Olympikus, e, agora, também assume as marcas Azaleia e Dijean“, pontua o CEO.

O primeiro lançamento, de Herchcovitch como head de estilo foi uma coleção cápsula para a Olympikus com peças inspirada no mundo da corrida. “A Olympikus é a marca esportiva legitimamente brasileira com um DNA único. Eu vou imprimir o meu olhar a partir do que a marca já expressa, resultando em produtos, ideias e posicionamento. Também comecei a trabalhar junto com a equipe de estilo da Azaleia, dando minhas opiniões, umas ideias sobre calçados juntamente com um grupo de designers e coordenadores da marca”, explica Alexandre, que continua assinando como diretor criativo de À La Garçonne, marca do empresário Fábio Souza.

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A meta do grupo com a contratação do designer foi trazer mais modernidade para as marcas do femininas do grupo – Azaleia (top of mind de marcas femininas até hoje) e Dijean. “A Azaleia é uma marca extremamente conhecida no Brasil. Nossa ideia é trabalhar o que a Vulcabras e a Azaleia têm de melhor: a tecnologia. Estamos levando a nossa expertise na fabricação de produtos esportivos para os calçados femininos. Essa é a principal renovação. É usar todo o nosso know how nas marcas do grupo”, ressalta Alexandre.

O EVA é uma das matérias-primas mais nobres do mercado de calçados e o Grupo Vulcabras se tornou expert em trabalhar com esse material. “Ele é a base da formação da sola dos calçados esportivos, prega leveza, amortecimento e bastante performance. No processo de fabricação dos calçados, que é feito por injeção existem poucas sobras, mas todas são reaproveitadas. O EVA que resta, nós moemos e colocamos de novo no processo. E, assim, vai ajudando a empresa a reduzir custos e enfatizando a nossa preocupação com a sustentabilidade”, explica Pedro Bartelle.

Alexandre Herchcovitch ressaltou que todo material, seja ele couro, borracha, EVA, tem suas limitações. “O que você consegue com o EVA não se consegue com o couro e vice-versa. O EVA é extremamente macio, a gente usa o material em algumas densidades para promover diferentes sensações de conforto. A gente tem falado muito de sustentabilidade, não é? O EVA é um material altamente sustentável. Não temos muitas sobras, o que muito positivo. Esse comportamento se encaixa nas necessidades atuais do mercado e na filosofia dos consumidores, que estão cada vez mais exigentes”, frisa Alê. Bartelle revelou uma grande conquista do grupo: “Nós ganhamos a certificação de Selo Verde nível ouro, ou seja, a empresa atingiu 90% dos indicadores do Programa Origem Sustentável”, comemora.

O CEO, Pedro Bartelle, contou que o estilista será responsável pela a renovação das marcas do grupo (Foto: Jarbas Oliveira)

Na primeira linha assinada por Alexandre para a Azaleia, o designer ficou com a missão de customizar modelos que são hits da marca, dando seu toque pessoal. “Eu selecionei modelos já existentes e os customizei. Escolhi quatro modelos e dei um toque muito pessoal para imprimir a minha estética e a minha identidade”, explica o head, acrescentando: “os calçados que eu assinei têm preços a partir de R$ 39,00 e não passam dos R$ 99,00. Acho que essa é a mágica e a grande prova de fogo: criar um modelo que já nasceu com um preço bastante acessível e democrático”. Pedro Bartelle acrescenta que as consumidoras irão encontrar muitos produtos ligados à tropicalidade da mulher da brasileira, com clima praiano e colorido.

Durante a palestra no Conectech, Alexandre lembra que desenvolve um trabalho de intensa criação na marca À La Garçonne. “Desde que eu saí da minha marca, eu fui convidado pelo Fábio para criar a linha de roupas de À La Garçonne. A label começou como brechó e, depois, passou a vender antiguidades e móveis usados, roupas, etc. A gente preza por itens que carregam memórias e contam histórias. Esse DNA nasceu junto com a marca. Hoje, À La Garçonne opta por um diferencial: comprar matérias-primas já existentes no mercado. Quando vamos a uma empresa, tecelagem ou malharia, escolhemos produtos que estão há mais tempo nos estoques”, enfatiza o estilista. O DNA da marca está focado no upcycle.

Alexandre Herchcovitch com suas primeiras criações para a marca Azaleia no SICC 2019

Sobre o processo criativo da marca, ele conta ainda que faz uma compra grande de roupas usadas e as transforma dando um outro significado para essas peças. “Esse processo todo deixa o produto muito caro, porque comprar uma roupa, desmanchar e fazer outra gasta muito mais tempo do que fazer uma roupa do zero. Então, À La Garçonne se tornou uma marca de luxo, com uma exclusividade de produtos bastante grande. Desenvolvemos também a  ÀLG com uma pegada urbana e jovem com design mais acessível”, disse Herchcovitch à plateia do Conectech.

A consultora de moda e mercado Fanny Littmann perguntou ao designer o que ele identificou como diferencial no Salão Internacional do Couro e do Calçado. “Quando uma marca tem o DNA muito forte, ela se diferencia. Eu estive em vários estandes onde senti a originalidade. Acho que hoje é mais bem-sucedido quem encontra o seu caminho e se aprofunda nele. O papel do criador é o intenso caminho para a inovação. Olhando o passado, o presente e o futuro. Esse é o ciclo da criação”, destaca Alexandre.

O head do Grupo Vulcabras se declara um sneakerhead. “Tênis, na verdade, é o meu calçado. Eu tenho pouquíssimos sapatos. Quando eu comecei a colaborar com a Vulcabras, onde o conforto nos calçados é parte do DNA, tanto na Olympikus quanto na Azaleia, eu me senti em casa, porque  desenvolvemos em collab linhas de tênis para À La Garçonne e ÀLG. Os que têm mais cara de training e running disponibilizamos na ÀLG, os com referências ao universo do skate e surfe vão para a À La Garçonne”, pontua o estilista. Alexandre enfatiza que seu público gosta de ousadia nos calçados. “Percebemos que há uma carência muito grande por tênis mais ousados em termos de cores e texturas no Brasil. Os sneakers tiveram um custo de produção bem menor do que os de marcas internacionais e com os mesmos valores, tecnologia de ponta e conforto, que são segredos industriais da Olympikus. Por isso que acredito que foram um grande sucesso”, diz o designer.

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Na opinião de Alexandre, os novos caminhos da moda e colaboração entre empresas se concretizam quando há uma grande união de forças e conhecimentos. “Tivemos toda a tecnologia e expertise da Olympikus em conjunto com o design dos tênis que ajudaram a ser um grande sucesso de vendas. Logo depois do desfile de À La Garçonne, em março, no Centro Cultural São Paulo, vendemos rapidamente uma quantidade grande de sneakers. Eu fiquei muito surpreso com a procura. Estava super ansioso, não sabia o que ia acontecer e como as pessoas iam reagir a um calçado desenvolvido para a prática esportiva, mas que foi totalmente remodelado para um estilo cool”, conclui.