Conheci o trabalho de Giselle Dias há anos, quando o site HT publicou com exclusividade as fotos do projeto batizado UnDragged, idealizado pela maga das lentes mostrando a verdadeira face das drag queens, livre de preconceitos e sem estereótipos criados pela sociedade. Desde então, Giselle ganhou o mundo com a sua arte. Em passagem pelo Rio – ela está vivendo em Los Angeles – ela nos brinda com mais um trabalho exclusivo e belíssimo: o editorial Fais Moi Plaisir.
Antes de falar sobre o editorial, eu queria que vocês conhecessem um pouco da mulher incrível por trás das lentes. Giselle tinha 13 anos quando “segurou”, como ela diz, sua primeira câmera. “Antes disso, já observava determinadas imagens como uma ‘gota que caía da torneira’. Por mais simples que fosse, eu queria clicar os objetos no ar. Jamais vou me esquecer que a primeira ação que eu tive quando tirei a câmera da caixa foi abrir a torneira e capturar a tal gota. Ela representa a minha sensibilidade de alcançar meu desejo fotográfico”, nos conta sobre essa imagem tão expressiva para uma adolescente. E foi ainda nesta época que se encantou pelo universo dos shows. “Comecei clicar as performances de Guns N’ Roses, Miley Cyrus e Paul McCartney. Fotografando o show de Beyoncé, no Brasil, eu lembro que fui abordada por um fotojornalista de O Globo que queria comprar minhas fotos. O fato é que não pude vendê-las, pois só tinha 15 anos e tinha que voltar para casa antes do show acabar. Isso me causa risadas até hoje”, lembra a fotógrafa hoje com 25 anos.
A roda da vida girou e Giselle estudou na Los Angeles Film School, London School of Photography e na New York Film Academy. Ela relembra: “O meu caminho artístico foi se delineando pela estética high fashion. Vale citar que desde pequena, minha mãe me levava a desfiles e aguçava minha curiosidade com a Vogue. Tanto na sua vida pessoal como em seu trabalho de decoradora, sempre teve um perfeccionismo admirável. Eu me lembro de como ela combina a munhequeira com o tênis de academia e passa horas reconfigurando a decoração da casa. Detentora de um olhar inequívoco ao bom gosto, esmerada até os últimos detalhes. Ali eu já sabia que eu gostava de produção e montar sets”.
No Brasil, ela chegou a trabalhar na Globo como assistente do diretor de fotografia Césio Lima e, após lançar o projeto das drags que comentei com vocês, foi morar em Los Angeles. “Lugar perfeito para expandir os meus horizontes. Me formei em cinema e dei início à minha carreira internacional, dirigindo clipes musicais e vídeos de moda, e fotografando para capas de revistas com artistas como 5 Seconds of Summer e Adore Delano, e para marcas como Jeffree Star, por exemplo”, conta. Giselle é guerreira e repleta de atitude, mas de suavidade e gentileza ímpares. É daquelas que arregaça as mangas e não tem tempo ruim. Se eu tivesse uma palavra para defini-la seria: plural… ou quem sabe… múltipla…, porque ama o que faz. “Acho importante ressaltar que tudo que conquistei veio da minha tenacidade. Para ilustrar, me recordo quando certa vez, uma produtora me disse para não fazer um vídeo, pois achava que pela logística seria impossível concretizá-lo. Bem, se eu tivesse seguido esse conselho, o meu projeto UnDragged jamais existiria. E a propósito: foi um êxito. Isso só prova que tudo pode ser conquistado, com grandes doses de dedicação, criatividade e poucas noites de sono”. É isso aí, Giselle!
E nos conta sobre o editorial que a gente mostra aqui em primeira mão: “O editorial Fais Moi Plaisir, com direção criativa assinada por mim e Josiah Cracraft, veio à luz do nosso amor e admiração mútua por Tim Walker, um grande amante da estética que evoca épicas fábulas, com cenários altamente produzidos e de uma direção de arte impecável”, afirma.
Giselle acrescenta que o conceito “era provocar a ideia para o espectador de um sonho lúcido. Foi muito importante ter uma modelo como a Cyndal Mcckay, pois ela entendeu a personagem e a história que queríamos passar ao invés de só vender as roupas, e soube trazer uma teatralização necessária para o shoot”.
O estilo foi assinado pelo designer de moda e figurinista James Dii. “Ele criou o acervo para refletir um estado de fábula sombria e provocativa enquanto manteve a personagem inocente”.
Usamos peças de designers novos e promissores, como Delise’Ana, que já foi featured na Glamour e Elle, e designer conceituado brasileiro como Rober Dognani, para citar alguns. O site HT adora Rober Dognani e acompanha o trabalho.
Beleza e cabelo foram criados por Josiah e Lisa-Marie. “Eles começaram com um look mais suave e naiveté. Josiah manteve a pele no estilo plástico de boneca, seguindo mais adentro da cena onírica com uma maquiagem mais dramática. Enquanto Lisa-Marie inovou com uma máscara feita de tranças do próprio cabelo”.
Vou escrever aqui a frase da jovem que eu conheci anos atrás pois permeia, com certeza, a profissional consagrada de hoje: “Se eu vir algo que me inspire, eu tiro foto. Eu acredito que não é só apertar o botão, tem que haver uma emoção e um sentimento interior. Ou seja, eu tenho que passar uma mensagem através daquela minha foto. Afinal, a emoção é a melhor maneira de transmitir arte”. Essa é Giselle. Essa é Giselle Dias, a fotógrafa. Palmas para ela e seu trabalho.
Créditos:
Creative Direction: Giselle Dias & Josiah Cracraft
Photography: Giselle Dias
@gigdias
Beauty: Josiah Cracraft
@josiahcracraft
Styling: James Dii
@jamesdii
Hair: Lisa-Marie
@sheardeath
Talent: Cyndal Mckay
@cyndalmckay
Retoucher: Caetano Weissmann
@caetanoweissmann
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