Letícia Cazarré. O sobrenome conhecido chama atenção, mas a mulher do ator Juliano Cazarré tem muito mais a dizer. A stylist é graduada e mestre em biologia. Como primatóloga, morou na Amazônia, na Mata Atlântica, no Sul da Bahia e nunca teve medo de aventuras. Foi com esse espírito desbravador que ela arriscou se mudar de Brasília, onde morava, para acompanhar o marido, ator de novelas, no Rio de Janeiro. Aos 28 anos e com dois filhos, a inquieta aquariana decidiu se reinventar: começou a trabalhar com moda e até uma revista, batizada Cause Magazine, foi criada por ela para poder expressar essa nova faceta, que tem lançamento previsto para o dia 15 de outubro. E mais: Letícia, para quem não sabe ainda, foi a stylist escolhida para arrasar nos looks que seriam usados por Agatha Moreira em editorial exclusivo produzido pelo site HT.
“Eu não consigo ficar parada e, logo que cheguei ao Rio, fui procurar algo para fazer. Fiz um curso de consultoria de estilo no Fashion Institute of Technology (FIT) de Nova York por três meses”. Com um bebê de seis meses, uma criança de dois anos e meio em casa e a cabeça lá na frente, virou consultora, criou um blog e passou a vestir amigas que estavam começando a carreira artística. “Depois fiz contatos com atrizes, as marcas vieram me procurar, fui recebendo convites. Mas tive que descobrir o caminho das pedras, porque eu não era nada no mundo da moda”.
O impulso de largar a biologia se deu antes. Quando engravidou de Vicente, seu primeiro filho, Letícia parou de ir a campo e decidiu fazer concurso. “A mata virgem é bem perigosa, tem que ter seguro de vida, porque pode haver qualquer acidente. Hoje, quando olho pra trás penso em como eu tive coragem. Para dar algo errado é muito rápido”, contou. Começou, então, a trabalhar em laboratório, mas não se sentia realizada. “Eu ficava no escritório pensando que não queria passar 30 anos da minha vida fazendo aquilo. Aí, eu entendi que não era para mim”. Com esse pensamento aliado ao sucesso que o marido, no ar na novela “Avenida Brasil” na época, fazia no Rio de Janeiro, encontrou a oportunidade perfeita de mudar radicalmente. Letícia, que mantinha uma admiração quase platônica com a moda, resolveu se aprofundar no assunto. “Eu não ligava, era quase hippie. Sempre achei bonito em outras pessoas, nunca pensei que um dia fosse me preocupar com a roupa que eu vestia”, disse ela, que, destemida, buscou um lugar no mundo fashion. “Eu ia a eventos e lançamentos, chegava lá, entendia a estrutura e falava com as pessoas. Tive a sorte de conhecer, logo no começo, gente que me ajudou muito, como a designer de bijoux Claudia Arbex e as amigas dela. Foram pessoas que olharam para mim, viram potencial e me colocaram em contato com profissionais de renome”.
Foi a partir de questionamentos que surgiram enquanto trabalhava no meio que Letícia fez suas malas para passar um mês estudando em Milão. Apaixonada por editoriais, cursou Fashion Styling e Fashion Marketing na Domus Academy. “Quando fiz o primeiro editorial, pensei: ‘É isso’. Meu olho brilhou, senti vontade de chorar, até postei nas redes sociais. Me veio aquela luz de quando você descobre o que quer fazer para o resto da vida”, contou a stylist. O segundo curso veio para agregar conhecimentos na área do marketing. “Eu queria entender por que uma marca diz sim para uma artista e não para outra. Tinha muita dificuldade com isso”, revelou. Após duas semanas intensivas, entendeu tão bem que, atualmente, pensa muito nas propostas das marcas ao vestir suas clientes. “Às vezes, uma atriz quer uma roupa, mas a marca não é para ela. Eu tento não desconstruir o esforço enorme que a comunicação gera. É um processo que passa por tanta gente até virar uma campanha e, se colocamos na atriz errada, vai por água abaixo. Olho pelos dois lados, sempre”.
Os editoriais, que fazem seu coração tremer, deram o gás em um plano ainda maior. Inspirada pelas dificuldades que passou para entrar no meio da moda, Letícia criou uma revista com o objetivo de dar oportunidade aos jovens de mostrarem seus trabalhos. “O mercado editorial de moda é muito pequeno. Não tem espaço para todos os profissionais, as equipes são fechadas, quero inserir novas pessoas. Eu vejo fotos que são verdadeiras obras de arte, isso tem que ser publicado em algum lugar. Não dá para ficar com um material tão incrível em casa e nas redes sociais. Quero criar, experimentar, mostrar trabalhos e chamar atenção da galera das antigas também”, declarou.
Daquelas que corre atrás em vez de esperar que os trabalhos surjam, a stylist planeja publicações repletas de imagens. Com tiragem de 2.000 exemplares, a Cause Magazine será recheada de arte e moda. “Faço parte de uma geração nova, que está chegando agora em posições de liderança no mercado e a revista é sobre isso. O mundo que a geração Y vai construir a partir de agora com a nossa linguagem. É para a galera que conhece arte, procura informações sobre cinema, fotografia, literatura. Nem todos se interessam por isso, os pontos de venda vão ser selecionados”. A primeira edição da Cause, batizada de “The New World Issue”, será lançada na quinta-feira, dia 15, dentro da multimarcas Dona Coisa, no Jardim Botânico, e contará com a presença de muitos amigos do casal Letícia e Juliano Cazarré.
Após cursos de direção de arte e jornalismo de moda e várias pessoas envolvidas, o sonho está próximo de ser realidade. “Parecia loucura, mas criei o conceito, fiz um curso com a diretora da FFW, uma das únicas revistas alternativas impressas do Brasil. Estou investindo e mergulhando nesse projeto de vida”, contou ela, acrescentando: “O maior feedback que posso receber é que as pessoas apreciem a arte de tanta gente talentosa”.
Paralelamente a isso, Letícia continua vestindo gente influente. O seu estilo, porém, ainda está sendo definido. Frequentemente, Letícia é vista em eventos com roupas que se tornam tendência. “Já tentei um pouco de tudo. Comprei peças diferentes do que eu usava normalmente e até investi nas estampas. Fui vendo o que não funcionava para mim, o que eu não gostava e fiz uma limpeza. Hoje, tenho um estilo mais masculino, boyish”. Sem receio de inovar, usa sapatos masculinos, camisa de alfaiataria com botões e roupas que servem para os dois armários. “Não tenho tantos vestidos, só uns tubinhos mídis, que eu amo. Não uso saia rodada, nada muito girlie. Sou bem menininho”, definiu.
Já na construção da imagem das atrizes, prefere ousar. “Faço uma troca. Estudo o estilo da pessoa, pesquiso o que ela tem vestido nos últimos anos, vejo mais ou menos o que fica bem e sugiro tirar o que eu acho que não funciona”, explicou. Letícia conversa com seus clientes e se adapta ao que eles preferem, mas assumiu que adora ver as pessoas progredirem. “Amo pegar uma menina e colocar dez degraus acima em termos de marca que se interessam por ela. Nem todas estão abertas a isso. Algumas até querem, mas, na hora que você começa a propor elas, não estão preparadas. Aí eu prefiro dar um passo atrás e deixá-las seguras”, declarou. É assim, deixando os clientes bem à vontade, que garante o sucesso dos looks. “Tento entender os objetivos da pessoa, aonde elas querem chegar. Se realmente querem mudar um estilo ou se só querem ter mais segurança na hora de vestir algo”.
Filha de uma bióloga e um piloto de caça, Letícia garantiu que o glamour da profissão de stylist é fictício. Ela, que carrega sacolas, anda por toda a cidade e tem a enorme responsabilidade de devolver cada peça e acessório, tem planos de abrir um escritório. “O glamour é apresentado na forma final, quando vemos as fotos lindas nas revistas. Mas trabalhamos felizes, eu sou muito apaixonada pelo que faço e acho que todo mundo nesse meio também, e isso chega nas pessoas. Uma parte desse glamour que tanto falam é a felicidade, a adrenalina. Eu estou sempre entregue e feliz de estar ali”, declarou. Para quem já teve coragem de enfrentar florestas e mudanças, qualquer desafio é bem-vindo. Inspiradora, não?
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