Enquanto Anthony Vaccarello assume a Versus Versace, Alessandro Michele substitui Frida na Gucci


Sangue novo faz as engrenagens da indústria fashion girar e mostra que o poder pode estar nas mãos da juventude que dita moda nas ruas

*Por João Ker

Hoje está sendo um dia movimentado para as engrenagens sempre mutáveis da indústria da moda. No início do dia,  Donatella Versace anunciou oficialmente que o jovem estilista Anthony Vaccarello estará à frente da linha Versus Versace. Agora, algumas horas e muitas especulações certeiras, a Gucci oficializou que Alessandro Michele será o novo responsável pela marca, ocupando o posto que foi de Frida Giannini por mais de uma década. Mas o que exatamente essas mudanças significam no comportamento das grandes maisons e, consequentemente, da moda em geral?

A busca por novos designers, que entendam o que se passa nas ruas mais do que tentem ditar algum tipo de tendência, parece ter começado com a escalação de Hedi Slimane à frente da Saint Laurent. A necessidade das marcas se reinventarem foi alastrando como uma praga econômica que vinha atingindo os maiores nomes da indústria e, rapidamente, maisons de respeito começaram a dança das cadeiras que fez a hierarquia do poder fashion se movimentar. No final de 2013, Nicolas Ghesquière – que já havia passado pela Balenciaga – foi anunciado como diretor criativo da Louis Vuitton, tomando o lugar que havia sido de Marc Jacobs por 16 anos. Enquanto isso, o posto de Nicolas à frente da Balenciaga foi dado a Alexander Wang, outro estilista relativamente jovem e considerado como um dos grandes nomes da streetwear. Até Jeremy Scott conseguiu levar seul pop irreverente repleto de celebridades para a Moschino. Cada uma das marcas, a seu modo, começou então a reinventar o código comportamental através do qual se comunicam com seus respectivos públicos.

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O casamento entre Versace e Vaccarello pode ser considerado como um daqueles encontros perfeitos, mesmo que seja apenas para a Versus, a qual já vinha buscando o frescor das ruas com parcerias assinadas por J. W. Anderson, Christopher Kane  e até a rapper M.I.A. Mas nada como uma bem comercializada e comentada coleção-cápsula com Anthony para deixar os olhos de Donatella brilhando. Afinal, o estilista que parece desenhar suas roupas passando o lápis pelo corpo feminino e traçando recortes sensuais nos lugares mais inusitados, foi feito para dar um gás extra à grife famosa pelos decotes e fendas poderosas.

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“Eu acompanho o trabalho de Anthony desde sua primeiríssima coleção, assim que o conheci soube que ela era o cara. Ele entende isso, seu talento grita Versus Versace. Eu amo sua energia jovem e sua inovação, assim como amo estar cercada por um talento que trará frescor à Versace”, declarou Donatella ao WWD. Por seu lado, o novo diretor criativo da casa diz que acha divertido trabalhar com a loura e que “a Versus é cool, jovem e fácil com ousadia”. Claro, a descrição também caberia nas coleções autorais do estilista, que pretende continuar paralelamente com a sua própria marca.

Match made in heaven: Donatella anuncia Anthony Vaccarello como novo diretor criativo da Versus Versace (Foto: Divulgação)

Match made in heaven: Donatella anuncia Anthony Vaccarello como novo diretor criativo da Versus Versace (Foto: Divulgação)

Por outro lado, a transição que ocorreu pela Gucci já não foi tão calma assim. Frida Giannini só deveria sair da grife no final de fevereiro, após a apresentação da coleção feminina para o Inverno 2015/2016. Meio que às pressas, a estilista foi desligada da marca poucos dias antes do desfile masculino que rolou nesta segunda-feira (19/1) na Semana de Moda de Milão. Como consequência, Alessandro Michele teve uma semana para redesenhar todas as peças – incluindo sapatos, cenário e casting -, resultando em uma das coleções mais elogiadas e discutidas da temporada.

Com seu olhar jovem e voltado para as tendências comportamentais, o estilista que já trabalha desde 2002 com a marca apresentou uma versão mais romântica e andrógina da Gucci, se distanciando léguas dos clássicos masculinizados que sua antecessora fazia. Camisas de seda vermelha com laços bufantes nas golas; modelos com cabelos compridos e escovados; alfaiataria justa e esguia; suéteres com comprimentos propositalmente curtos; e silhuetas que não ficam lá nem cá na tênue linha de gênero marcaram o que todos chamam de um “divisor de águas” na grife.

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A tendência andrógina já vem aparecendo há algumas temporadas pelos desfiles da Saint Laurent, com toda a influência do rock underground que Hedi tem trazido à clássica maison francesa. Mais do que isso, o advento da democracia online vem mostrando que as roupas apresentadas em passarelas precisam se manter conectadas não com tendências pré-estabelecidas, mas com novos maneirismos comportamentais, fundados em uma pequena parcela de uma geração majoritariamente apática. O importante – principalmente no quesito popularmente comercial – é prestar atenção nas ruas, mais do que ignorá-las ou tentar ditá-las.