Durante o 32º Encontro Nacional de Tecelagem e Confecção (ENAT), promovido pelo SENAI CETIQT e com apoio da Faperj, players dos setores têxtil e de confecção em busca de novas tendências, inovações, acesso às matérias-primas para coleções e oportunidade de network com empresas do mercado – resultando em parcerias estratégicas -, tiveram a chance de conferir a apresentação do Relatório Tendências 2026, inspirações permeadas pelo tema-central [IN]VISÍVEL. Propôs lançarmos luz sobre os cenários que vêm sendo desenhados nos âmbitos sociais, econômicos, tecnológicos e relacionados ao meio ambiente, decodificando realidades em direção ao futuro.
A líder do ENAT, Michelle Souza, que conduziu as pesquisas, pontuou para todos que lotaram o auditório do Centro de Eventos Mario Henrique Simonsen, na Barra da Tijuca, que o tema-central abrange a integração da ciência moderna com práticas tradicionais de bem-estar, enfatizando abordagens holísticas e funde biotecnologia com saberes ancestrais, incentivando os designs que honram ciclos e materiais naturais. Tudo em sinergia com as tendências atuais em desenvolvimento de produtos, com foco em fibras naturais e sustentáveis, considerando bio regiões para fornecimento.
O tema-central [IN]VISÍVEL é composto por três conceitos: Patrimônio Ancestral, Quimera Regenerativa e Alquimia Nuclear. No primeiro artigo publicado no site, eu tratei das inovações propostas em Patrimônio Ancestral – que você pode ler no link abaixo. Agora, eu vou mergulhar na análise do segundo conceito, Quimera Regenerativa, e tudo o que foi abordado durante a palestra de Michelle Souza.
Quimera Regenerativa linka o mundo high tech às relações humanas + sustentabilidade. Nos processos de moda e confecção, o foco se desloca da alta produtividade para práticas mais eficientes e circulares, combinando tecnologia e artesanato. O resultado são produtos regenerativos, sustentáveis e circulares, alinhados às demandas contemporâneas, sem perder de vista os impactos sociais e ambientais positivos.
A Indústria Têxtil parte para novas abordagens. Já falei aqui no site que temos visto cada vez mais empresas trabalharem com ciência de materiais, ciência de dados ou nanotecnologia (área que desenvolve e utiliza materiais em escala nanométrica), em um viés de pensar também no processo sustentável para cada objetivo de produção. Com os nano-têxteis empresas fabricam roupas com ação antimicrobiana (partículas à base de zinco podem se integrar às ligações naturais dos fios de um tecido, controlando a reprodução de bactérias ou fungos), repelente a inseto (essa tecnologia é útil para a prevenção de doenças como a dengue, transmitida pelo Aedes aegypti; chikungunya; zika ou malária), fibras de alta performance em uniformes com materiais retardantes à chamas. Na moda já podemos consumir a linha dos wearables, dos têxteis inteligentes vestíveis, que possam monitorar os batimentos cardíacos do usuário desse material têxtil, por exemplo. Mais? Roupas com controle de temperatura, com encapsulamento de cosméticos, na qual é possível colocar aloe vera em uma blusa e ela vai tratar a sua pele, além de têxteis com bioestimulação (proporcionando melhora na circulação, produção de colágeno e redução de dores musculares), auto-limpantes, anti-transpirantes e com propriedades de proteção contra a radiação UV + com tecnologia de materiais frescos, requisitadas em regiões que recebem temperaturas mais altas.
E como uma marca contribui para o socioambiental? Durante minhas andanças pelas semanas de moda e feiras das mais diversas indústrias ouvi frases que ficaram eternizadas, tais como: Todas essas mudanças refletem uma realidade que é o ser humano e o meio ambiente como protagonistas. A valorização do humano se conecta de todas as formas com a sustentabilidade. Não estamos somente valorizando o planeta, mas dando a importância de vivermos nele e, assim, ter os outros aspectos sinalizados como o fazer girar a roda da economia de um país, pois se não houver esse aspecto, como poderíamos lidar com os demais? O lado social que tem como cerne a valorização do homem em seu trabalho, na sua comunidade e em suas relações. E hoje esse lado humano se reflete no lado cultural, onde são valorizadas as tradições, a cultura e a ancestralidade. Portanto, vamos lançar nossos olhares para as seguintes palavras e ações:
CASES DE QUIMERA REGENERATIVA
Michelle Souza apresentou cases de referências, que incluem, por exemplo, a Flying Tex, que desenvolveu um tecido a partir de 100% de fio proveniente de óleo de mamona, esse material não apenas oferece vantagens funcionais, mas também contribui significativamente para a redução da pegada de carbono em 40% ao longo do ciclo produtivo.
O óleo de mamona é extraído das sementes da planta, matéria-prima sustentável que cresce em regiões semiáridas, com pouca demanda hídrica e sem competir com a produção de alimentos. Substituir fibras sintéticas (como poliéster) por materiais de origem biológica reduz a dependência de recursos fósseis. Além disso, tecido oferece potencial de decomposição natural ao fim de seu ciclo de vida, contribuindo para um modelo de economia circular.
Um segundo exemplo foi o desfile de primavera/verão 2025 da estilista Andrea Lage com “uma proposta ousada e inovadora, com um enfoque em moda inflável. Em um conceito que brinca com a interação entre forma e volume, Lage apresentou peças que foram inflacidas para criar silhuetas dinâmicas e lúdicas, desafiando as noções tradicionais de vestuário. Essa proposta de desfile não apenas celebra a criatividade na moda, mas também promove uma reflexão sobre a sustentabilidade e a adaptação dos estilos de vida contemporâneos, mostrando como a moda pode ser tanto artística quanto prática”.
QUIMERA REGENERATIVA: MATERIAIS
A proposta contempla acabamentos inovadores com componentes naturais: insumos naturais como óleo de cozinha e mel de abelha, que adicionam funcionalidade e performance aos tecidos. O natural e o digital em uma nova linguagem estética: o grande desafio e a beleza dessa jornada residem em olhar para a natureza e reinterpretá-la através das lentes da IA. Um admirável mundo novo: a criação humana Encontra uma aliada potente para explorar o desconhecido e moldar um futuro mais sustentável e imaginativo. Virtual e físico se fundem: o avanço de tecnologias imersivas gera uma convergência entre a fantasia e a realidade, tornando experiências digitais mais realistas e produtos físicos mais envolventes.
QUIMERA REGENERATIVA: TECNOLÓGICOS
A fluidez, ondulações, translúcidos, miragens urbanas. A pureza do ar e da água inspiram materiais cintilantes. Os algodões de fibra longa são puros ou misturados com sintéticos e nanomembranas ecológicas em popelines vitrificadas e tricolines impecáveis para blusões corta-vento chiques e de alta tecnologia. Algodões encerados são usados para redução do uso de PFAs, priorizando os acabamentos com óleos e ceras naturais, reduzindo assim, o impacto ambiental. São tecidos quase intangíveis, mas repletos de funcionalidade, que podem ser crocantes por um lado e tão translúcido como papel vegetal de outro, frios ao toque e até secos, farfalhantes e creponados. Os brilhos são pegajosos, foscos ou cintilantes de aparência úmida.
QUIMERA REGENERATIVA: HÍBRIDOS
As fibras vegetais, animais e celulósicas são misturadas explorando novas compatibilidades, visando o fim da vida útil de um produto, prevendo materiais compostáveis ou recicláveis, estas composições se adaptaram à sustentabilidade. Com o objetivo de acompanhar as mudanças climáticas e o estilo de vida urbano, esses tecidos são ideais para peças que podem ser usadas em diferentes contextos, tanto no dia a dia quanto em momentos de lazer. A ideia é que uma mesma peça possa ir da cidade à natureza, adaptando-se bem a diferentes situações e ambientes.
QUIMERA REGENERATIVA: FLORAIS
As estampas decorativas da estação se inspiram na natureza, nos encorajando a olhar para ela de uma forma poética, quase abstrata. No entanto, esses motivos aparentemente gentis revelam uma profundidade inesperada. Os motivos tradicionais da flora e da fauna são distorcidos. Emergindo de terrenos escuros, como se capturados por um flash à noite, eles nos pegam de surpresa com seu fascínio estranho e ligeiramente inquietante. Inspiradas por falhas em imagens geradas por IA, flores parecem entrar e sair de foco em uma impressão digital. A experimentação leva a estampas surpreendentes, a jacquards ondulados, a cetins laminados com membranas que rompem a superfície demasiado perfeita.
QUIMERA REGENERATIVA: LISTRADOS E XADREZES
Superfícies plissadas, amarrotadas em gradação de azul-violeta conferem aspecto digital a estes materiais reais. Tecidos holográficos sugerem uma luz virtual com reflexos pastéis, conferindo uma aparência não real aos produtos. Malha jacquard risca de giz iridescente feito com uma mistura de algodão. Fios fluorescentes adicionam uma dose de calor a um tecido com padrão xadrez. Xadrez ombré 100% algodão com gradientes brilhantes de azul. O gradiente cria uma mudança vibracional em um tecido leve de algodão/seda semitransparente. Chiffons ganham efeitos de anarrugas. Pregas, amassados, cloqués e relevos fazem alusão a uma pele em reconstituição.
QUIMERA REGENERATIVA: SUSTENTÁVEIS
Agricultura regenerativa está sendo desenvolvida para algodões e lãs, com implementando rotação de culturas e pastagens e técnicas agroecológicas para melhorar o armazenamento de carbono do solo, a fertilidade do solo e a preservação da biodiversidade. Os materiais celulósicos artificiais são rastreados até a parcela de terra para oferecer uma garantia de não desmatamento, ou são trazidos à vida por meio da reciclagem de têxteis pré ou pós consumo. Marcadores físicos integrados, análises de componentes de fibra, plataformas digitais, essas ferramentas inovadoras para autenticação de fibras e segurança de dados dão suporte aos esforços de rastreabilidade da indústria. A reciclagem inspira novos designs misturando materiais naturais e artificiais.
QUIMERA REGENERATIVA – LISTRADOS E XADREZES
Superfícies plissadas, amarrotadas em gradação de azul-violeta conferem aspecto digital a estes materiais reais. Tecidos holográficos sugerem uma luz virtual com reflexos pastéis, conferindo uma aparência não real aos produtos. Malha jacquard risca de giz iridescente feito vom uma mistura de algodão. Fios fluorescentes adicionam uma dose de calor a um tecido com padrão xadrez. Xadrez ombré 100% algodão com gradientes brilhantes de azul. O gradiente cria uma mudança vibracional em um tecido leve de algodão/seda semitransparente. Chiffons ganham efeitos de anarrugas. Pregas, amassados, cloqués e relevos fazem alusão a uma pele em reconstituição.
QUIMERA REGENERATIVA: BRIM
Técnicas de aquarela inspiram uma abordagem suave da camuflagem; tecido técnico de algodão estampado em trama simples. Gabardines de algodão, denims com ourelas e sarjas com fios de alta torção denotam marcas de qualidade premium em suas ourelas destacadas e na simplicidade elegante de suas tramas justas e regulares. Calças relaxadas em sarja de algodão com elasticidade; tingidas em água fria em verde ácido para uma abordagem dinâmica da cor, o material é vivo.
CARTELA DE CORES
Em relação ao conceito Quimera Regenerativa, Michele Souza destaca que explora a fusão entre o real, o digital e o imaginário, evocando um renascimento que celebra o ciclo da vida e a reinvenção através da IA: “Uma paleta versátil e acolhedora, com combinações infinitas que se adaptam à visão do criativo apoiado pela IA. Cores expressivas ganham protagonismo, com a presença de um amarelo otimista, porém suave, lavanda ótica e um melão eletrificado. O uso de tons pastéis não usuais desperta um fascínio por ambiguidades e uma estética entre o familiar e o estranho. Cores saturadas e vibrantes, como o verde gafanhoto, o amarelo e o magenta iridescente, cores energéticas e intensas, remetem a uma vitalidade renovada, sugerindo o florescimento de algo novo e inesperado do mundo digital ou phygital. O verde mais profundo evoca o abrigo das sombras das árvores e folhagens densas ou as profundezas do mar, sugerindo que a regeneração começa na contemplação”.
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