*Por Alessandro Martins
O termo “harmonização facial” de certa forma me incomoda. Protocolos de preenchimento com uso do ácido hialurônico que visavam melhorar as proporções da face foram criados e há regras de proporção em relação aos terços superior e inferior do rosto, de lábio superior para lábio inferior, de ângulos de mandíbula em relação ao homem e à mulher. No entanto, isso acabou criando uma espécie de “receita de bolo” para os preenchimentos, recebendo o nome comercial de harmonização facial.
Se pensarmos apenas na técnica, na ideia do procedimento, esses preenchedores seriam usados única e exclusivamente para equalizar as medidas de uma face. Pessoas que têm uma região da maçã do rosto mais afundada ou menos desenvolvida, por uma questão de desenvolvimento ósseo ou mesmo por perda de gordura graças ao envelhecimento, têm indicação para aumentá-la. Homens que têm o osso da mandíbula, comumente associado à formação do queixo, menos proeminente, teriam a indicação de aumentar o queixo, o ângulo da mandíbula para melhorar a proporção do seu rosto, deixando-o mais quadrado quadrado e tirando um pouco da visão do rosto triangular. Pacientes com lábio mais fino poderiam utilizar o ácido hialurônico para melhorar essa proporção.
Entretanto, não foi o que aconteceu de forma comercial. A ideia de que todas as mulheres deveriam ter a maçã do rosto muito volumizada, que isso seria um modismo de beleza, e de que todos os homens teriam que ter a mandíbula quadrada e o queixo pronunciado foi virando quase que um protocolo e se reproduziu de pessoa a pessoa, caindo, inclusive, nas mãos de profissionais nem sempre tão especializados. E com isso foi se perdendo um pouco o controle.
Hoje, nós vemos uma valorização do mais e mais, enquanto a questão da proporção e da harmonia facial acaba se perdendo. O que era para ser harmônico cai em exageros ou em moldes fixos, em que todos os pacientes homens procuram uma mandíbula quadrada e todas as mulheres buscam maçãs do rosto altas e lábios volumosos. Com isso, são geradas produções em série e ainda somadas a exageros que vão exatamente no sentido contrário ao da harmonia da beleza e das proporções – Alessandro Martins
A ideia de se preencher a face excessivamente, inclusive, prejudica os pacientes que já têm certo grau de envelhecimento, com perda de gordura da face e flacidez. Em vez de se submeterem a uma cirurgia, o face lifting, que é indicada para o rejuvenescimento facial, eles continuam com procedimentos em que o rosto vai se tornando cada vez mais preenchido. Isso leva a uma aparência over, porque, na realidade, essa pessoa teria que ajustar à flacidez, reposicionar os tecidos que deslizaram do rosto no decorrer do envelhecimento. Depois disso, pode-se complementar, caso necessário, com preenchedor ou com algum volume que não tenha sido reposto após a cirurgia, principalmente em faces mais magras.
Hoje em dia, a gente tem visto pacientes que chegaram a resultados exagerados com as ditas harmonias faciais e que perceberam que é mais vantajoso remover o preenchedor, que deve ser temporário. Os permanentes não são liberados para uso na face: todos os protocolos são de absorvíveis.
A grande vantagem é que esses preenchedores serão absorvidos no decorrer de um ou dois anos, um ano e meio, oito meses – depende do peso molecular e da área onde forem administrados. Caso o paciente se arrependa ou ache que determinada região ficou com volume demais, existe uma enzima chamada hialuronidase que é capaz de dissolver o ácido hialurônico. Através de injeções nas áreas preenchidas, essa enzima dissolve o ácido e ele é absorvido pelo corpo, removendo resultados não satisfatórios e assimetrias que possam ter sido decorrentes do preenchimento.
Muitas personalidades estão voltando a faces menos preenchidas, mais harmônicas, com mais leveza em sua beleza. Tais pacientes, por vezes, não tinham desporporções ou não precisavam de “harmonização”. Talvez tenham entrado no modismo excessivo como uma forma de molde de beleza, que não é o que a técnica, o estudo e a pesquisa anatômica de pessoas extremamente sérias tinha como objetivo – Alessandro Martins
O preenchimento e o criar uma harmonia facial são procedimentos excelentes, desde que sejam indicados. Harmonizar é trazer equilíbrio, medir proporções e até volumizar alguma área pela vontade do paciente, que pode se achar mais bonito assim, mas mantendo sempre a proporção. Esses procedimentos devem ser feitos com substâncias absorvíveis e que possam ser revertidas. Jamais utilize preenchedores definitivos, porque, em caso de resultado insatisfatório, eles não conseguem ser dissolvidos e são muito dificilmente retirados da forma cirúrgica: as incisões podem, inclusive, trazer cicatrizes fora de lugares estéticos na face.
FIQUE ATENTO
Um alerta muito importante: cuidado com profissionais que vendem harmonização facial. Pesquise qual é a sua formação, se eles têm habilitação, se têm conhecimento para aplicar essa técnica, pois isso tem sido difundido entre profissionais que não são especializados para fazer tal procedimento.
Não seja levado por modismos ou por réplicas de perfis de beleza que não se encaixam na sua personalidade, que não têm a ver com a sua anatomia facial. Esses modismos passam, mas a face é sua, a estética é sua, a saúde é sua. É muito importante conversar com um profissional sério, que faça um planejamento adequado entre o que o paciente tem de vontade, de desejo, e o que é proporcional e deve ser feito.
O profissional precisa também dizer “não”. É importante saber a hora de parar e falar: “Eu não posso, daqui eu não continuo com você” para que esses exageros não aconteçam. Porque sempre que o médico concorda, é conivente, injeta mais, ele está colaborando para uma face desarmônica, para uma forma de se rotular um procedimento como negativo quando, na verdade, é algo extremamente interessante, que tem aplicabilidade para várias correções: envelhecimento, assimetrias e outros tratamentos além do modismo a que se deu o nome de harmonização facial.
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