Do corpo escondido à segunda pele: exposição em Londres conta a história da moda-praia com muito luxo. Vem conferir!


Com termômetros chegando aos 40 graus centígrados em vários pontos do Sul da Europa e a Grécia dominando as manchetes, a exposição “Riviera Style” esquenta a capital britânica ao rememorar 100 anos de elegância nas praias

* Por Flávio Di Cola

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O genial escritor e cronista da vida carioca Nelson Rodrigues dizia que “o biquíni é uma nudez pior que a nudez”. Mau humor à parte, Nelson nos fornece sem querer uma pista para se entender a evolução dos trajes de banho desde o início do século XX – quando a praia entra na vida social do ocidente e os balneários chiques da Riviera Francesa são copiados em todas as partes do mundo – até os dias de hoje, em que praticamente não há pano e muito menos traje no sentido literal do termo. De fato, no final da era vitoriana a medicalização da vida e os novos princípios sanitários autorizaram moralmente os banhos de mar, desde que os corpos estivessem bem vestidos. A partir desta licença, os trajes de praia passam progressivamente a expressar o desejo dos corpos pelo desnudamento, pela exposição e pela sedução, para não falar das exigências de conforto, praticidade e baixo custo. Portanto, o sucesso do biquíni – oficialmente lançado em 1946 – equivale àquele momento um tanto ambíguo de passagem entre o pudor e o despudor que tanto irritava o autor de “Toda nudez será castigada”.

Pois bem, toda essa história fascinante dos trajes de banho, dos seus tecidos e dos seus fabricantes está fazendo o maior sucesso em Londres no contexto da exposição “Riviera Style: Resort & Swimwear since 1900”, em cartaz no Fashion and Textile Museum, a poucas quadras das margens do Rio Tâmisa que – ao contrário dos terraços sobre o Rio Sena, em Paris – não parecem muito convidativas a um banho de sol. A mostra reúne centenas de peças autênticas de swimwear provenientes do Leicestershire County Council – que detém um dos maiores acervos do gênero no mundo – e de coleções particulares, além de ilustrações, fotografias e propagandas pesquisadas em jornais e revistas.

Fashion and Textile Museum, perto da Ponte de Londres: projeto do premiado arquiteto mexicano Ricardo Legorreta

Fashion and Textile Museum, perto da Ponte de Londres: projeto do premiado arquiteto mexicano Ricardo Legorreta

Segundo a historiadora de moda e curadora do projeto, Christine Boydell, os ciclos de renovação dos trajes de banho atingem a maturidade e a velocidade necessárias para serem integrados a um verdadeiro “sistema de moda” somente a partir da década de 1940 quando o direito e o hábito das férias anuais de verão se estendem a milhões de pessoas mundo afora, associados à cultura das dietas, da ginástica e da saúde perfeita. Boydell conferiu um caráter bem pedagógico à organização do espaço expositivo, dividindo-o em cinco temas que cobrem distintas fases históricas.

A exposição foi dividida em cinco espaços que cobrem 100 anos de moda praia

A exposição foi dividida em cinco espaços que cobrem 100 anos de moda praia

Na primeira (1900-1920) reinam as pioneiras “bathing beauties”, ainda muito cobertas por trajes de peça única confeccionados com malha de algodão, sarja, lã penteada ou flanela que – uma vez molhadas – ficavam desagradavelmente pesadas no corpo. Durante os anos do entre-guerras (1920-1940), Coco Chanel populariza o jérsei de lã aderente modernizando o conceito de swimwear, enquanto as peças diminuem de tamanho, a frente única é valorizada e os novos tecidos procuram manter as formas atraentes, estejam molhados ou secos.

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O terceiro segmento da exposição (1940-1960) mostra o império da “pin-up” com seus corpetes sustentados por barbatanas que destacam o busto e afinam a cintura. As três décadas entre 1960 e 1990 reduzem ainda mais o tamanho dos trajes de banho, agora confeccionados em tecidos elásticos e sintéticos, colando a corpos que celebram a onda da liberação sexual e do narcisismo assumido.

A viagem no tempo da exposição “Riviera Style” acaba neste nosso século XXI, em que as palavras de ordem para os trajes de banho parecem ser tecnologia e desempenho. Hoje, a publicidade para esse segmento da moda não se restringe apenas à exaltação de um estilo de vida praieiro ou marítimo, mas também enaltece os inacreditáveis progressos da tecnologia dos tecidos que ficaram “inteligentes” e se transformaram numa espécie de segunda pele de ídolos esportivos cada vez mais performáticos.

A exposição “Riviera Style” também reuniu fotos documentais e imagens publicitárias:

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Após todas essas marés que subiram e desceram ao longo da história da moda praia, nada mais provocante do que voltarmos a mais uma observação implacável de Nelson Rodrigues sobre a natureza humana e a nossa relação com o corpo: “Só o rosto é indecente. Do pescoço para baixo, podia-se andar nu”.

O cinema foi o maior propagador do “Riviera Style” durante todo o século XX. Mas os filmes 
que melhor glorificaram esse pedaço deslumbrante do mundo foram os dos anos 1950. 

Confira Grace Kelly em “Ladrão de casaca”, rodado em Mônaco:

“E Deus criou a mulher” com Brigitte Bardot queimando a areia de Saint-Tropez:

Serviço:

“Riviera Style: Resort & Swimwear since 1900”

Fashion and Textile Museum

83, Bermondesey Street, Londres

Até 13 de setembro de 2015.

www.ftmlondon.org

www.leics.gov.uk/museumcollections