Ícone da moda autoral brasileira, Lino Villaventura tem sua chancela como mestre da originalidade e criatividade. Suas criações ganharam o mundo, a fama é internacional e sua mente criativa – capaz de alinhavar verdadeiras obras de arte – fazem dos seus desfiles os mais disputados por quem ama moda. Sempre pontou em nossas conversas que “arte é expressão. Assim como o trabalho em moda. Uma assinatura forte a partir de uma expressão espontânea e original”. E após uma longa estrada no mundo da moda, o estilista é generoso e compartilha alguns segredos para quem deseja se firmar como uma referência: “Muita coragem, persistência e otimismo. A diferença se faz trabalhando, com qualidade, e sempre pensando em como inovar – e com o pouco. Como obter um resultado legal com o que está disponível”, sugere. E foi o desfile de Lino Villaventura que fechou com chave de ouro e aplausos da plateia de pé a 25ª edição do DFB Festival, que se destaca ao longo dos anos pela sinergia entre moda, capacitação, empreendedorismo, mostra criativa, jornada de conhecimento, gastronomia e música, realizada em Fortaleza (CE), Cidade Criativa do Design, título concedido pela Unesco em 2019.
O desfile que conferimos foi especialmente criado para as Bodas de Prata do DFB Festival, incluindo o convite para modelos que cravaram seus nomes nas passarelas internacionais. Um de seus melhores trunfos é a arte de tinturar e transformar tecidos. Instigante, utiliza materiais que fogem do óbvio para criar novas texturas, nervuras e inconfundíveis patchworks. Tanto na passarela como fora dela, as criações de Lino são impactantes e possuem identidade, com um marcante caráter handmade. Todo esse engenhoso trabalho é feito por uma qualificada equipe de profissionais, comandada por Lino Villaventura e Regis Vieira, com maestria.
Só para destacar aqui “um pouquinho”, porque os marcos históricos são enormes. Na década de 80, a rede de televisão francesa FR3 veio ao Brasil para a produção do documentário “Brasil, País da Esperança” e deslocou sua equipe até a cidade de Fortaleza para fazer uma reportagem com o estilista, escolhido como o representante oficial da moda brasileira. Foi convidado pelo Itamaraty para representar o Brasil na feira de moda “World Trade Fashion Fair”, realizada em Osaka, no Japão. Seu desfile ganhou ampla cobertura na imprensa Japonesa e do jornal “Financial Times”.
Nos anos 90, ele passou a desenvolver também figurinos para grandes filmes e espetáculos. Destaque para o figurino do filme “Bocage, O Triunfo do Amor”, de Djalma Limonge Batista, e do espetáculo “Dorotéia – Uma Farsa Irresponsável em Três Atos”, de Nelson Rodrigues, indicado para o Prêmio Shell de Teatro como melhor figurino de 1996. Em outubro de 1997, fez o figurino para “Viúva, porém, honesta”, também de Nelson Rodrigues. Além de criar figurinos para os maiores nomes da música, como, recentemente, Ney Matogrosso.
Atualmente, Lino Villaventura intensifica a venda de seu prêt-à-porter em lojas segmentadas de diversas cidades brasileiras: Brasília, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Recife, Porto Alegre e de suas lojas próprias, nas cidades de São Paulo e Fortaleza. Fora do País o estilista tem suas roupas comercializadas na França, Portugal, Estados Unidos, Espanha, Rússia, Arábia Saudita e Dubai, nos Emirados Árabes.
O trabalho de Lino Villaventura é reconhecido internacionalmente também pelos profissionais das áreas de design e artes plásticas. Em 1988, o Stedelijk Museum na cidade de Amsterdan, adquire um vídeo de registro de vários trabalhos do estilista para seu acervo.
A identidade do estilista sempre lançou luz por misturar e destacar as texturas das peças. Como ele contou, esta é uma característica que o acompanha desde o início da carreira há mais de 45 anos, e tem uma explicação: “Eu não tenho preconceito com tecido e sempre fui de misturar vários. A dificuldade para conseguir bases existe há anos e não é isso que vai nos travar. Pelo contrário, foi por causa deste obstáculo que eu comecei a construir essa identidade de texturas na moda”.
O designer sempre frisou algo extremamente importante e que hoje se fala tanto: moda para diversidade de corpos. Villaventura dá ênfase ao reaproveitamento e a inteligência na hora de modelar para que os tecidos se tornem aliados na produção fashion. Em sua grife homônima, por exemplo, o estilista adota a ideia de roupas adaptáveis que, além de não se restringirem a um único manequim, ainda reaproveitam tecidos. “Nós estamos resgatando um trabalho de modelagem para conseguir usar melhor os tecidos. Então, para evitar que uma roupa fique presa a determinado tamanho, tenho feito pregas que aumentam a vestimenta. Isso faz com que o produto fique adaptável e não estacione”, reforça.
Com um coração lindo, o mestre dos mestres tem como premissa compartilhar a sua experiência. “Nosso objetivo é fazer com que os jovens aprendam a lidar também com as inseguranças de se fazer moda e tenham muita força de vontade. Eu, claro, tive as minhas inseguranças, mas eram diferentes. Essa nova geração têm angústias e medos diferentes. E, por isso, eu aprendo com todos eles também”.
O processo criativo de Lino é intuitivo e não tem fórmula mágica. Deixo aqui registrado mais uma análise importante: “Cada um é fruto do seu tempo, da sua cultura, do país no qual vive, das regiões em que mora. Eu vivi muitos anos no Nordeste, que é uma região muito rica culturalmente, depois bastante no Sudeste, ou seja, é uma mistura muito grande de influências no meu trabalho. É uma alegria criar com tanta diversidade nesse país. Nós não somos obrigados a sermos regionais, porque a simbiose faz parte do processo de criar”.
Depois da fila final, com a plateia ainda em êxtase, Lino Villaventura aparece em um grande telão na sala do desfile: “Bom, eu acho que vocês estão sentindo a minha falta no final do desfile, quando sempre agradeço muito feliz e realizado por ter cumprido uma missão que é muito importante para mim. Mas, a minha falta é por um motivo muito justo. As coisas acontecem na vida da gente sem previsão. Precisei me internar para um procedimento muito sério e não pude voltar para Fortaleza para realizar o desfile. Mas, eu e o Régis (Vieira) criamos e fizemos uma coleção especial para o DFB. Logo, logo, estarei de volta. O desfile foi na cidade que me acolheu, Fortaleza. Quero agradecer ao Claudio Silveira, idealizador do evento, e todos que contribuíram para esta realização. Vocês que estão prestigiando este desfile, o meu obrigado, sempre”, disse o paraense com alma cearense.
O DFB Festival 2024 é apresentado pelo Governo do Estado do Ceará, por meio da Secretaria da Cultura. Com apoio cultural da ENEL, realização da Associação Artesanias do Ceará e Empório Lokar. Apoio institucional da Secretaria de Turismo do Estado do Ceará e Secretaria de Cultura do Estado do Ceará (Secult-CE), nos termos da Lei 13.811, de 16 de agosto de 2006.
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