DFB Festival: Revolução ética que a moda e o mundo atravessam é tema de mesa redonda com Dudu Bertholini


Realizado entre os dias 25 e 28 de Maio, o DFB Festival trouxe como uma das pautas discutidas em seu ciclo de palestras, o ecossistema da moda, afim de conectar conhecimentos e experiências, buscando um mundo em que a colaboração e a sustentabilidade sejam a realidade do mercado. O designer e diretor criativo Dudu Bertholini, esteve ao lado de Itiana Pasetti e Adriana Tubino, co-fundadoras da Revoada, que produz desde vestíveis de proteção em náilon de guarda-chuvas modelados com resíduo zero e encontrados nas unidades de triagem de lixo seco de Porto Alegre até de câmaras de pneus descartados em borracharias. “Falamos sobre a grande revolução ética pela qual a moda e o mundo estão passando, e apresentamos cases que abordaram diferentes aspectos da moda responsável, do upcycling, da diversidade e do fim dos padrões de beleza, entre muitos outros assuntos. O público foi super receptivo e engajado, formado principalmente por jovens estudantes – o que eu acho incrível, já que essa troca cria uma oportunidade de conscientização desde o início das suas trajetórias pessoais e profissionais”, destaca Dudu  

Dudu Bertholini, nome icônico e vanguardista da moda brasileira, marcou presença no DFB Festival a convite do Senac Ceará, para junto a outros nomes representativos do setor, participar de uma mesa redonda do Dragão Pensando Moda. O designer esteve ao lado de Itiana Pasetti e Adriana Tubino, co-fundadoras da Revoada – marca com linha de produtos que utiliza resíduos, câmaras de pneu e tecidos de guarda-chuva descartados, como principais matérias-primas – , no debate sobre ‘Ecossistema da moda’, a fim de conectar conhecimentos e experiências, buscando um mundo em que a colaboração e a sustentabilidade sejam a realidade do mercado. “Nossa mesa redonda falou sobre a grande revolução ética pela qual a moda e o mundo estão passando, e apresentamos cases que abordaram diferentes aspectos da moda responsável, do upcycling, da diversidade e do fim dos padrões de beleza, entre muitos outros assuntos. Tudo mediado pelo super Eduardo Motta, do SENAC, que sempre costura essas conversas com muita inteligência e elegância”, destaca Dudu.

E ele acrescenta: “O público foi super receptivo e engajado, formado principalmente por jovens estudantes – o que eu acho incrível, já que essa troca cria uma oportunidade de conscientização desde o início das suas trajetórias pessoais e profissionais”.

Leia mais: Claudio Silveira e o start ao DFB Festival 2022: “Holofote sobre potencial criativo de novos talentos da moda autoral”

Dudu Bertholini no Dragão Pensando Moda do DFB Festival (Divulgação/DFB Festival)

Dudu Bertholini no Dragão Pensando Moda do DFB Festival (Divulgação/DFB Festival)

Se faz sentir, faz sentido”. Com esta filosofia, a Revoada, empresa de consultoria das amigas gaúchas Itiana Pasetti, biodesigner de moda regenerativa, e a publicitária Adriana Tubino, produz desde vestíveis de proteção em náilon de guarda-chuvas modelados com resíduo zero e encontrados nas unidades de triagem de lixo seco de Porto Alegre até de câmaras de pneus descartados em borracharias. Hoje, a Revoada presta consultoria para grandes empresas na transformação através da metodologia Design Vital, que cria produtos regenerativos, e apoia cooperativas para o desenvolvimento.

Perguntamos a Dudu como as pessoas podem ajudar na transformação do sistema da moda e que tipo de estratégias buscam promover a inovação sociocultural na moda hoje. “Todas as iniciativas que rompem com a lógica da economia linear – onde se extrai, produz, vende, descarta e se produz de novo –  são urgentes e necessárias. As economias criativa, colaborativa, circular e regenerativa estão propondo novas maneiras de lidar com a lógica capitalista que tornou a moda uma das indústrias mais poluentes e desumanas do planeta”.

Mesa Redonda com Dudu Bertholini, Itiana Pasetti e Adriana Tubino, com mediação de Eduardo Motta (Divulgação/ DFB Festival)

Mesa Redonda com Dudu Bertholini, Itiana Pasetti e Adriana Tubino, com mediação de Eduardo Motta (Divulgação/ DFB Festival)

Sobre o tema, o designer também destaca: “Marcas como a cearense Catarina Mina e o projeto Olê Rendeiras, que desfilou no DBF Festival, são ótimos exemplos de como a excelência do design pode, e deve andar de mãos dadas com a sustentabilidade e com a responsabilidade social. Mesmo caso do estilista Gustavo Silvestre e seu projeto Ponto Firme, que capacita e fomenta a criatividade através do crochê de homens em situação carcerária, de egressos do sistema penitenciário, refugiados e mulheres trans. Vale lembrar ainda, o fantástico trabalho de upcycling feito junto à comunidade de mulheres trans e travestis da estilista Vicenta Perrotta. Esses são apenas alguns dos muitos exemplos de marcas e iniciativas que fazem parte dessa grande mudança de paradigmas pela qual a moda está passando. Inovação hoje se traduz principalmente por sustentabilidade e tecnologia. Ou tecnologia afetiva”.

Dudu Bertholini e a jovem plateia de estudantes da palestra sobre ecossistema da moda (Foto: Divulgação/ DFB Festival)

Dudu Bertholini e a jovem plateia de estudantes da palestra sobre ecossistema da moda (Foto: Divulgação/ DFB Festival)

O trio também ofereceu ao público uma oficina sobre o tema, no Espaço Senac Refference. “Foi incrível, realmente inspiradora. A dupla da Revoada, Itiana Pasetti e Adri Tubino ensinou alunes a fazer uma espécie de kimono/túnica a partir de dois guarda-chuvas reciclados. Os resultados não poderiam ter sido mais incríveis, com misturas de estampas surpreendentes. Na sequência fiz uma fala sobre imagem de moda, styling, branding, diversidade e representatividade sob essa mesma perspectiva descolonial e transformadora. No final cada alune deu seu depoimento e desfilar sua própria peça. Rolou choro, abraço, palmas, emoção, criação… foi lindo”, recorda.

Dudu Bertholini protagonizou momentos inspiradores no DFB (Foto: Allyson Alapont)

Dudu Bertholini protagonizou momentos inspiradores no DFB (Foto: Allyson Alapont)

Estilista, diretor criativo e consultor, ele também é curador de moda no CCSP, e realiza palestras e workshops nas principais cidades do país, além de licenciar diversos produtos que levam seu nome, como roupas e acessórios. Com vasto repertório e experiência, Dudu Bertholini reforça a importância do DFB Festival para o cenário da moda autoral no país. “É muito bom ver o DFB chegar em 2022 fortalecido, apresentando um dos line-ups mais cearenses da sua história, e trazendo uma mistura fresca de novos talentos com nomes já consagrados. A moda autoral brasileira deve ter um compromisso socioambiental com o Brasil, estar conectada com seu entorno, com sua cultura e sua ancestralidade. Ao mesmo tempo que dribla seus próprios estereótipos”, afirma.

Dudu Bertholini pensa moda no DFB Festival 2022 (Foto: Allyson Alapont)

Dudu Bertholini pensa moda no DFB Festival 2022 (Foto: Allyson Alapont)

“É muito importante valorizarmos a moda e a cultura nordestinas, e descentralizar o tema do eixo Rio-São Paulo. A moda nordestina é muito rica, plural, e consegue ser ao mesmo tempo ancestral e global. Por muito tempo havia uma crença de que era preciso estar em São Paulo ou no Rio para que uma marca, negócio ou um profissional pudessem ter destaque, mas a lógica hoje se inverteu. Você pode fomentar sua vida, seu trabalho e seu negócio na sua região, no seu estado, e acessar o país e o mundo a partir daí. Fiquei muito feliz em fazer parte de um evento onde a grande maioria das marcas é cearense ou nordestina”.

O estilista e consultor Dudu Bertholini pensa moda e analisa os novos tempos (Foto: Allyson Alapont)

O estilista e consultor Dudu Bertholini pensa moda e analisa os novos tempos (Foto: Allyson Alapont)

Envolvido, por vocação e paixão, no compromisso de construir novos cenários para a moda brasileira, Bertholini fala também sobre o seu momento profissional. “Vou completar um ano de direção criativa à frente da Troc, que é a plataforma de Moda Circular do grupo Arezzo, e um dos maiores brechós premium do Brasil. Tem sido uma jornada muito gratificante de fomento à moda circular. Outro projeto muito especial é o Instituto Casa de Criadores, do qual sou conselheiro e um dos fundadores, e consiste um uma escola de moda gratuita online para 300 alunes de todas as regiões do país, com professores sensacionais. Ainda me dedico muito ao styling e à direção criativa de diversas marcas e veículos de moda, assim como a criação de conteúdos, autorais e profissionais. Sempre fui multidisciplinar, e acredito que hoje, muito mais importante do que ‘o que você faz’, a questão é qual a mensagem que você quer passar, qual legado quer deixar, e como você pode impactar positivamente o mundo a sua volta”, aponta.

Os conhecidos modelos de negócios começam a ruir, por isso o mercado vem repensando as formas de consumo, e a esperança, é que as novas gerações possam participar de um setor mais inclusivo e sustentável. O que diria para esses novos talentos que sonham viver da indústria da moda? “Acreditem e apostem em vocês, sem se desconectarem do seu entorno e da responsabilidade de ser parte de um todo. Sejam empáticos e confiem sempre na possibilidade libertadora de expressão radical que a moda nos oferece”.

Salve, Dudu!